Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

10 novembro 2011

De olhos abertos, até a ilusão serve de alimento


X: Bom dia, Nelson! Tudo beleza?
N: Agora sim!
X: O material que você disponibiliza é ótimo... Muito autêntico e preciso.
N: Obrigado!
X: Legal o novo blog.
N: Vem do coração.
X: Sim é muito claro isso.
N: por vezes de um coração em chamas, por vezes de um coração com raiva... São minhas entradas e saídas no ser, como diz meu amigo Nabil!
X: E trata-se de uma pulga que sempre fica atrás da orelha... Ou seja: $$ X Espiritualidade... Confesso que isso também me gera um certo desconforto.
N: Passei uma semana de muito trabalho interior... Me senti como "mulher traída" ahahahaha
X: Agora... Como achar o equilíbrio nessa questão? Pois todos os Gurus cobram. Quando o cobrar é legítimo e quando é auto-interesse?
N: Cobrar por algo que veio da Graça e de graça? Isso é uma dualidade enorme, absurda... Todos cobram justamente porque se “auto-organizaram” como “gurus”.
X: Perfeito!
N: Você sabe de um Jesus cobrando? Você sabe de um Buda cobrando? Você sabe de um Krishnamurti cobrando? Você sabe de um Nietzsche cobrando? Você sabe de um Voltaire cobrando? Você sabe de um Sócrates cobrando? Isso virou um negócio e muito bom... Passeia-se ao redor do mundo numa boa, come-se do bom o do melhor... A máfia da nova era, a máfia num novo tom...
X: Concordo com você mas, e a manutenção inerente a divulgação da graça? Quando faltam recursos para isso?
N: Gerar recursos é bem diferente de estipular valores forçosos, estipular caches para poder comparecer no local. Quem gera os espontâneos recursos "apenas administrativos" para que encontros ocorram são aqueles que sentem a necessidade do compartilhar de uma mensagem.
X: Gostaria, de verdade, de achar o equilíbrio para essa questão.
N: Agora, fazer disso um modo de vida, isso é empresariado espiritual, é empresariado sacerdotal, clerical, é usar o desespero do outro para manter um modo isento do desespero diário de se bancar financeiramente. Ninguém dá satsang todos os dias, 24 horas por dia, aliás. Quer saber? Nem curto essa idéia de que alguém é o Ser em pessoa "transformando" automaticamente alguém que com ele entre em contato.
X: Sim!
N: Agora, sem dúvida, podemos todos nos encontrar como amigos de caminhada, trocando nossas percepções, momento a momento, isso não cria ídolos, ao contrário, isso cria amigos nutritivos, amigos evolutivos em percepção consciencial e Graça.
X: Muito bom... Também acho que estamos exatamente em liha horizontal, digamos assim...
N: Não vejo nenhum problema desses auto-intitulados iluminados ganharem seu sustento através, por exemplo, da venda de livros, mas, para poder se congregar presencialmente, estipular um valor minimo para vir falar, isso é um despautério diante do significado da palavra Graça. Agora, os caras cobram e cobram bem caro para você participar do tal Satsang. Eles se filmam, depois vendem, sem a autorização sua, uma vez que teve sua participação e vendem bem carinho, viu, uma mídia de DVD cujo custo no atacado é menos de trinta e cinco centavos. Cara, isso é uma agência muito rentável... Você pega alguns gurus de renome, só de olhar a obesidade de seus corpos, já se constata, sem esforço, a falta de equilíbrio quanto a própria questão alimentar.
X: Cara, esse ponto também não está pacificado para mim... Confesso que algo internamente diz que a "GRAÇA" não é produto de ninguém e consequentemente não seria razoável cobrar, até porque todos tem direito a isso, e da forma como está sendo explorado, fica um luxo para poucos... Entretanto, acho razoável pessoas que realizam efetivamente isso tenham um certo sustento para levar isso a diante... Então, essa medida que é difícil mensurar... Com o limear disso...
N: Mas por que esse sustento precisa vir da venda disso? Você acredita mesmo que alguém dê satsang 24 horas por dia?
X: No sentido de ficar verbalizando isso para outras pessoas, acredito que não.
N: Por acaso ele precisa durante a semana "preparar" os conteúdos de sua fala?
X: Satsang é agora, é expontâneo...
N: Veja o caso de Nisagardatha, tinha uma tabacaria! Só a noitinha se congregava em sua casa. Vivia da venda de cigarros de palha, percebe? Os caras querem é moleza, viajar as custas dos demais... Ninguém conhece a verdadeira face de uma pessoa em apenas duas horas de encontro cadenciado por um clima espiritual, com direito a cheirinho de incenso e musiquinha indiana. O lance é ficar ao lado dela ao menos 48 horas, para ter uma vaga idéia se o que diz condiz com sua realidade na vida de relação. O lance é andar por um tempo ao seu lado, conversar com a família, ver sua relação com eles, ver a grande longitude entre o que diz e o que é no cotidiano... E isso é válido para qualquer um de nós, pois todos temos nossas MAZELAS OCULTAS e é isso que nos faz HUMANOS EM CONSTRUÇÃO.
X: Sim...
N: Agora, sustentar a idéia de um ser em perfeição, é uma papagaida brava.
X: Exato...
N: Sente-se na mesa com um deles e veja o modo apressado e por vezes desmedido com que comem, glutões, soberbos no cotidiano com as pessoas mais próximas, frios e calculistas com as pessoas mais próximas, insensiveis com as pessoas mais próximas, mas, na hora do satsang com cheirinho de insenso... Shazan!!!!!... Se transformam na paz em pessoa... Ah! Para vai!
X: É vero...
X: Irmão, eu peido, arroto, tenho mal hálito, fico puto facilmente e busco por consciência... Isso é buscar ser humano... Daqui a pouco, esses gurus vão falar que peidam com cheirinho de alfazema... Me desculpe pelo exemplo!
X: Tranquilo Nelson, estamos em casa! rs
N: Eu gosto de futebol, vc de outro esporte e, mesmo assim, somos buscadores. Daqui a pouco, me ilumino e passo a dizer que isso é mundano...
X: rs, muito bom... Aceitação por completo!
X: Saio dizendo que que não assisto tv, que não leio livros, jornais... Que não leio livros dos outros, quanta papagaiada barata!... Esteriótipos...
Locais suntuosos, roupas impecaveis destituídas de simplicidade... É facil ver, é só ver... Ver o antes e o depois... Ver o início do trabalho e o trabalho atual... Ver o olhar inicial e o olhar atual... Cara, quando uma idéia entra na mente, ela nunca mais voltará ao seu estado anterior...
X: Cara, que legal sentir absoluta entrega no que você está dizendo!
N: Portanto, mesmo que se eu decida me corromper, ainda terei o conteúdo dentro de mim para ajustá-lo aos meus interesses.
X: e, de verdade, acho que muitos percebem tudo isso que você acabou de expressar, mas continuam, mesmo que sutilmente, agregados a essas imagens que de certa forma, trazem um certo conforto...
N: sim! Isso é um fato! Acabam se corrompendo como fez o Guru do Sexo... É inegavel a qualidade de seus textos, mas olhe seu modo de vida? Bate com seus textos?
X:De fato! E esses dias li algo que falava que a SETA não é aquilo que está sendo apontado...
N: E ai, como nós humanos, amamos o dinheiro, saimos macaqueando esses gurus que viveram desse modo e até os defendemos porque, lá no fundo, invejamos esse modo de vida.
X: O que vejo é que aos sinceros, a graça é revelada, mesmo que para isso use "gurus" como papagaios...
N: Lá no fundo, sonhamos em viver só de "baforadas cósmicas"... Lá no fundo sonhamos em ser uma "autoridade venerada"... Isso parece estar no código genético da humanidade... Limpar as células disso, não é nada fácil.
X: E quando outros confirmam isso, há um reforço nessa idéia.
N: Isso, condicionamento!
X: Tudo é um jogo gracioso... Mesmo assim, a graça continua sendo passada... Que ironia, não?
N: Isso está bem relatado no filme REVOLVER... É o jogo do xadrez, do tabuleiro preto e branco que representa a dualidade humana.
X: Putz, ainda não vi.
N: Já lhe falei: indispensável.
X: Sim! Estou com o link aqui.
N: Muitas fichas cairão para você ao assistir esse filme, que é um filme que só quem tem abertura acaba entendendo sua mensagem de entrelinhas, caso contrário, só mais um filme de violenta troca de tiros com muitas cenas de sangue. Não conseguem perceber que isso é uma representação do conflito que se dá no sangue de nossa mente.
X: Então, a própria dualidade está contida na não-dualidade... E no final chegaremos a esse ponto... Aceitação em SER HUMANO!
N: Sim! Não um SUPRA-HUMANO... Veja por exemplo, essa frase: SER HUMANO.... Indica um processo, pois ainda nem somos humanos, na real, estamos mais para homo demens, não para homo sapiens! E quando nos julgamos iluminados, penso que somos homo demens demens, como diz Leonardo Boff. Ouvi num seminário que levam poucos segundos para arrancar uma roupa, mas quanto tempo é necessário para arrancar nossa rede de ilusões que nos impedem de ser humanos? Ser humano é ser capaz de amar! Não sabemos o que é esse estado que não é ação de escolha, no entanto, buscamos por isso e isso não pode chegar quando abrigamos ilusões ilumináticas, ilusões de perfeição.
X: Sim, isso trata-se do materialismo espiritual.
N: Prefiro ficar com o que é, com o que sou aqui e agora, um cara com algumas dificuldades internas, em busca de compreensão para superá-las,
um cara que vê o fluxo, por vezes, ainda acelerado de sua mente.
X: Exato! Aqui Agora!
N: E que ainda se sente impotente diante do fluxo mental, mas, que no entanto, através da observação, não vêm acrescentando dor e confusão
a dor e confusão do “não-ser” já instalada. Me vejo em constantes entra e sai desse estado de presença. Não tenho isso estabilizado em mim, oscilo entre um estado de ser amoroso e arrogante, tenho todos os demonios me rondando aqui dentro, querendo saltar e assumir controle, mas, os observo em paz... "Faça as pazes com o seu inimigo interno..."
X: Lindo!
N: Já dizia um sábio guru que não vendia a graça e no qual muitos dos gurus auto-proclamados da atualidade, secretamente nele também se baseiam.
X: Muito bom! Meu amigo, estou muito grato por este momento.
N: Eu é que agradeço!
X: agora, vou me arrumar para ir ao trabalho.
N: Agradeço pelo compartilhar de um modo humano de ser e estar na vida de relação... Olhos e coração abertos!
X: Isso é amor. Sei muito bem o que está implícito em tudo que você disse... Pode deixar que estarei de olho! Mas, ainda tenho que estar junto para ver!
N: Sim, de olhos abertos, até a ilusão serve de alimento.
X: Vamu q Vamu...
N: Isso! Tenha um bom serviço.
X: Valeu!
N: Vai lá! Um chute nas canelas, sempre!

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!