Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

22 novembro 2011

Você conhece a paz?

pombos
Há alguns dias, numa comunidade do Facebook criada para o compartilhar de textos de Jiddu Krishnamurti, postei um de seus textos que versava sobre a paz, cujo conteúdo publico abaixo:

"...E cada um de nós necessita de paz. Isto é, necessitamos paz, no sentido de termos imenso espaço interior, espaço sem limites. Paz significa espaço no qual nenhum centro existe para criar limites. Isso é muito difícil de investigar e de compreender. A paz é um estado de espírito que não dá fronteiras ao espaço. E, para compreendermos a paz, teremos de compreender o que é o prazer, porquanto é o prazer que cria a imagem, o centro que projeta um espaço limitado e traduz os valores de cada ato. Peço-voz observeis a vós mesmos, para verdes vossas próprias maneiras de pensar e de sentir, conscientes e inconscientes, os valores pro vós mesmos criados." Krishnamurti - (extraído da Net fonte não citada)

Sete horas após a postagem deste, recebo um comentário com a seguinte questão:

‎Nelson Jonas, Você conhece isto que Krishnamurti está falando ?

Com base nas diversas experiências que tenho referentes a participação em comunidades criadas nas redes sociais, senti o receio de que, talvez, este poderia ser mais um daqueles comentários cujo espírito que o move se baseia na egocêntrica competição de conhecimento intelectual/espiritual, ou em testes de "iluminômetro", tão comuns, seja na "sociedade  presencial" ou nestas redes sociais on-line. Isso é muito natural de ocorrer, pois, se na vida real isto sempre ocorre, que dirá onde podemos proteger nossa personalidade repleta de mazelas ocultas atrás desta tela de cristal liquido comprada em suaves prestações? Bem, não vem ao caso aqui, se quem publicou tal questionamento se enquadra ou não neste tipo de postura imatura, postura esta da qual já fiz parte ferrenha e que, se não me observo sou tentado a nela recair. O que vem ao caso, foi o que essa pergunta causou em meu interior...

Olhando com bastante seriedade, a resposta a que chego é: "Sim" e "Não". Apesar da profunda dificuldade de expor isso através da limitação das palavras, começarei postulando a respeito do bem-aventurado "Sim", tendo como base o fato de que, a grande maioria dos seres humanos, em determinado momento de sua existência já saborearam aquilo que convencionei chamar de "pequena amostra grátis de Deus"...

Todos nós já vivenciamos aquele estado de ser que não pode ser captado pela palavra, pelo pensamento, aquele estado de ser que apesar de ficar registrado em cada uma de nossas células, somos incapazes de reproduzi-lo através de nossa limitada vontade. Todos sabemos o que representa aquele estado de ausência de movimento mental, aquele estado onde nenhuma forma de conflito se faz presente, onde um profundo sentimento de integridade e integração amorosa, de doação incondicionada e de silêncio, se faz presente. Aquele estado em que não existe mais um "você" e a natureza, um "você" e o "outro", onde todo sentimento de  separatividade, sem a ação de nossa vontade, de forma incausada, deixa de existir. Creio que todo aquele que já vivenciou esta bem-aventurança, através destas poucas palavras, sentirá aquilo que com elas tentei verbalizar. Todos que vivemos esta "boa-aventura" sabemos que, a partir dela, nunca mais somos os mesmos... Ela se vai mas, algo fica: uma nova consciência de um estado de Consciência infinitamente superior, nunca antes vivenciado. Nessa experiência, todo nosso acumulo de experiências passadas, toda nossa visão de mundo, toda nossa visão da vida de relação é literalmente jogado fora e nos vemos instantaneamente arremessados num novo paradigma, num paradigma que traz consigo o que podemos chamar de "ponto zero", ponto este que torna nossos antigos valores uma nulidade. Todos sabemos bem o que significa o ingresso nesse ponto zero... Confusão. Tudo que antes tinha graça, agora, depois do experimento da verdadeira Graça, passa a ser visto como algo sem graça, o que, na visão de muitos ao nosso redor, é tido como uma espécie de desgraça. As antigas autoridades, convenções e escala de valores passam a ser vistos como condicionamentos enclausurantes, que servem tão somente para nos privar da liberdade de movimento e expressão e para nos impelir à conformação, à formatação da domesticação servil. Esta bem-aventurança, esta "amostra gratuita da paz de Deus", aos olhos dos outros que se encontram devidamente ajustados ao sistema criado pela astuciosa rede do pensamento, faz de nós membros rotulados como rebeldes, entre outros tantos rótulos, isso quando não nos torna pessoas "não gratas", pessoas de idéias perigosas das quais seus filhos e mentes devem ser mantidos afastados. Todos sabemos que este ponto zero, que este portal, que este paradigma que se apresenta mediante a manifestação desse incausado estado de profunda paz, faz de nós "passageiros", "estrangeiros numa terra estranha",  aquilo que Colin Wilson retratou de forma brilhante em seu livro cujo título é "Outsider - O Drama Moderno da Alienação e da Criação". Como este texto não tem por fim a idealização de um tratado, creio que a sustentação da resposta "Sim", já foi devidamente explanada.

Agora, caminhemos em direção a resposta "Não", com relação ao conhecimento do estado de paz profunda na qual se refere Jiddu Krishnamurti em seu texto... Apesar de sabermos bem o significado desta profunda mutação em nosso estado de ser, produto direto da ação desta "bem-aventurança", todos sabemos o que significa a profunda frustração mediante a total impotência de reproduzi-la mediante a nossa limitada vontade. Todos sabemos, como nas palavras de nosso  amigo Nabil Chaar, em seu blog http://abordagemassimetrica.blogspot.com, o que significam essas "entradas e saídas do Ser" que somos. Todos sabemos o que significa a nossa impotência diante da estabilização desse estado de paz na qual desaparecem todas as formas de "controvérsias públicas", onde desaparecem todas as necessidades de doações psicológicas de fora, onde desaparece toda forma de fragmentação, toda forma de visão dual por nossa parte. Creio que todos nós sabemos muito bem o que significa essa falta de unicidade, caso contrário, por que dedicaríamos tanto tempo e energia em comunidades que colecionam artigos cujo maior esforço e experiência se traduzem no simples e acelerado apertar das teclas Ctrl A, Ctrl C e Ctrl V? Por que dedicaríamos tanto tempo ao estudo das obras deixadas por homens e mulheres que em seus escritos nos levantam a suspeita de que alcançaram o sucesso por nós, outsiders, tão almejado? (Por favor não se prenda na palavra outsiders)... Bem, acho que, no tocante a negativa do conhecimento de um estado estabilizado de paz, podemos encerrar por aqui.

Para uma pergunta com tal conteúdo, não caberia de forma alguma, uma resposta levianamente reacionária. Não sei se o questionador foi motivado por um amoroso espírito convidativo para a reflexão. Se o fez, com certeza, ao término da leitura desta resposta, saberá que foi feliz em seu intento. Espero que, do mesmo modo, minha reflexão seja tão nutritiva, como para mim o foi seu questionamento. E em meio disso, em silêncio, aqui ficamos, como nos dizeres mecanicamente repetidos por alguns cristãos: aguardando a vinda do "Cristo" Salvador, a vinda da paz que transcende todo entendimento...

Um fraterabraço,

Nelson Jonas Ramos de Oliveira

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!