Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

17 junho 2007

Sou fera ferida

Se há uma coisa a qual sou realmente alérgico essa coisa é o controle. Não suporto a mínima tentativa de controle sobre mim.
Quando isso ocorre, me transformo: o que há de pior em mim vem à tona com tamanha intensidade que chega a me causar medo.
A fera se apresenta.
Meu olhar, respiração e cérebro se comprimem e a única vontade que sinto é a de agredir o controlador, não fisicamente, mas sim, emocionalmente, com o intuito de me defender...
Vejo que sempre foi assim, desde a minha infância.
Parece que isso faz soar lá dentro, no mais profundo de minha memória, as frases e atitudes insanas dos abusadores da minha infância, adolescência e juventude...
Nunca permitiram ou incentivaram que eu fosse eu mesmo. Sempre a tentativa de fazer de mim o que não sou, sempre a retaliação, o boicote, o castigo, o abuso físico e emocional, os gritos, a reformação, que erroneamente chamavam de educação.

Sempre a repressão diante dos meus desejos, pensamentos e sentimentos. Nunca a mínima expressão de validação, de apoio e confiança...

E tudo isto ocorreu numa época em que eu não tinha condições de me defender emocionalmente...

Essa vulnerabilidade, essa impotência diante dos abusos e do controle causou-me enormes feridas que levaram anos e anos para cicatrizarem e, quando hoje, algum "infeliz" tenta tocar nessas cicatrizes, a fera prontamente se apresenta... Uso a palavra "infeliz" por que somente uma pessoa infeliz pode fazer uso dessa infeliz atitude que tanta infelicidade produz.

E como é doloroso ver a manifestação interna dessa fera ferida, com seus urros em forma de pensamentos, sua frieza, seu olhar cerrado soltando chispas de fogo juntamente com cada palavra devidamente articulada...

A fera só silencia quando vê o agressor acuado, arcado em seus medos e emoções descontroladas...

E quando isso acontece, a fera ferida dá lugar à outra fera: a culpa.

Esse insano mecanismo tem ocorrido comigo por anos. Um misto de paixão e ódio...

Nesses momentos de insanidade animal, os pensamentos disparam de tal forma, que tudo que está em volta desaparece, o agora escapa entre o eco das palavras e o que se apresenta é uma torrente de imagens e sons do passado projetando-se num futuro imaginário que faz o presente submergir... Um verdadeiro tsunami emocional...

Minha reação natural é de fugir das garras do controlador que tenta me manter cativo.

Prefiro a solidão do que a morte em vida por novamente me permitir ser fera ferida encarcerada somente para fazer média diante do público...

Isso nunca mais!

E que se torne público!

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!