Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

22 junho 2007

Personalidades ou Princípios?

Eu estava sentado sobre a sobra da pequena árvore, contemplando a profundidade dos olhos castanhos do meu pequenino cão por detrás do portão de casa, quando fui abordado pelo Sr. Pitágoras. De físico franzino, com um surrado boné sobre os longos cabelos brancos, a barba mal feita e as duas mãos em seus bolsos dianteiros, exclamou:
- Bom dia JR!
- Bom dia Sr. Pitágoras! Fazendo sua caminhada matinal ou buscando inspiração para seu novo livro?
- Creio que os dois ao mesmo tempo. Como vão as coisas com você?
- Em busca de paz e de alguns trocados, como sempre!
- Estive pensando na nossa última conversa. Sei muito bem da sua oposição em estudar a biografia dos "homens que aparentemente deram certo". No entanto, estou acabando de ler aquela biografia do Krishnamurti, escrita pela Mary Lutyens, daquele livro que você me emprestou. Se me permite, com todo respeito e apreço que tenho por você, sugiro que repense sua postura. Creio que se você a ler poderá entender muitas coisas, como a influência das pessoas que estavam ao lado de Krishnamurti e que o levaram a obter tal conhecimento. Acho mesmo fundamental conhecer o processo de formação psicológica desses grandes pensadores. É só uma singela sugestão – afirmou com um tom visivelmente acanhado.
- Agradeço sua colocação. No entanto, continuo mantendo minha postura. Não vejo sentido nisso. Acho pura perda de tempo e energia.
- Acha mesmo?
- Sim!
- Poderia me explicar melhor o porquê desse ponto de vista?
- Vejamos... Quando o carteiro toca a campainha da sua residência com uma carta em suas mãos para ser entregue aos seus cuidados, o que o Sr. faz? Recebe-a prontamente e com gratidão ou solicita do carteiro um livro com a sua biografia? O Sr. precisa conhecer os motivos que o levaram a escolher a profissão de carteiro para poder receber a carta? O Sr. pergunta para ele sobre a influência que ele sofre dentro do seu local de trabalho por parte das pessoas a quem está subordinado?... O que é de essencial interesse para o Sr.: o carteiro ou a carta?...
Ele retirou sua mão direita do bolso, levou-a até o queixo, levantou seu olhar para o céu e balançou levemente a cabeça. Logo a seguir, voltou-se para mim, colocando novamente sua mão no bolso direito exclamando:
- Ainda penso que você deveria estudar a biografia desses homens. Pense nisso! Já estou quase terminando a leitura do livro. Assim que terminá-la lhe devolvo o mesmo.
- Por favor, sinta-se a vontade, não tenho pressa. Sei que está em boas mãos!
- Tenha um bom dia!
- Passar bem!
Depois de se despedir, continuou sua caminhada com seus passos delicados e de forma bastante reflexiva. Enquanto eu observava sua silueta sumindo ao longo do caminho, perguntas passavam pela minha mente:
O que mais importa? A mensagem ou o mensageiro? O princípio ou a personalidade? Porque nos dedicamos a estudar a vida de outros homens e mulheres ao invés de dedicarmos tempo e energia no estudo de nossa própria vida?...
A "Impessoalidade" da mensagem traz em seu anonimato a essência da energia.

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!