Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

15 junho 2007

A Falácia da Propriedade Intelectual

Por causa da greve do metro, o fluxo de carros hoje estava bem mais acentuado, o que aumentou em muito o barulho produzido pelo trânsito. Eu ainda estava abrindo o toldo da loja, quando do outro lado da rua, em sua montain bike, com o sorriso de sempre, avistei meu amigo Celso.

- JR, estou ficando louco!

- Mais?

- Sério cara! Desculpe voltar aqui novamente... Você deve estar ficando de saco cheio de mim, no entanto, não tem com que conversar sobre o que está passando na minha cabeça. Se eu falar em casa, é sanatório na certa!

- Pegue aqui a chave de casa e guarde a bike lá em cima na sacada para que possamos conversar melhor. Enquanto isso, acabo de arrumar a loja.

- Belê!

- Então? Que se passa nesse cabeção?

- Cara, meu cérebro não serve para nada mesmo! Estou ficando maluco... Desde ontem que já não estou sabendo quem eu sou. Percebi que não sou aquilo que eu penso que sou; é tudo imagem! Cada hora é uma imagem e olha que são mais de cinqüenta... Quando comecei a constatar isso me perguntei: e agora?

- Que foi? Te deu medo? Qual?

- Um puta medo de acabar sozinho e ainda por cima, louco! Parece que tudo aquilo que conversamos, tudo aquilo que eu li nos textos do Krishnamurti, fez com que as minhas muletas fossem estilhaçadas... Cara, sinto que tudo que colhi até agora não serve para mais nada! Sinto-me nu! Despido da imagem de mim mesmo! Estou em pânico! Cara, isso é muito louco!

- Lembra-se do filme "O Poder Além da Vida", quando o cara fica sem as pernas? É isso aí que está acontecendo com você!... Você não estava em busca da Verdade? Está preparado mesmo? Agora é que eu quero ver! Vamos ver se você tem mesmo a coragem de abrir mão das imagens que você mantinha de você mesmo que de certo modo lhe proporcionavam uma idéia falsa de segurança. Agora é que eu quero ver se você é mesmo homem de saco roxo!

- JR, agora estou entendendo por que é que as pessoas usam as frases "quebrou as minhas pernas!", "Chutou o pau da barraca!" Agora isso faz sentido para mim!... Cara, ontem à noite eu comecei a ficar com um puta medo... Começou a me dar uma pressão na mente, uma dor de cabeça, parecia uma pressão vinda de um vácuo total... Mal consegui dormir esta noite... E acordei numa excitação sexual animal... Não parava de vir a vontade de me anestesiar com a prática do sexo compulsivo... Vim para cá numa loucura total, no maior "olhar de radar", me anestesiando nos "tragos visuais"... Você me entende?

- Sei muito bem o que é isso! A dor é tanta que eu preciso de alguma forma de prazer imediato! No momento do prazer a gente se esquece, pelo menos momentaneamente, de nós mesmos, do que se passa em nossa realidade sombria. Por isso que o sexo se tornou tão importante para nós...

- Só que dessa vez não alimentei não! Fiquei só olhando para a excitação, para as sugestões da mente... Só não consegui deter o "olhar de radar"... E tem mai JR... Parece coisa do diabo, por onde passava, só aparecia diaba na minha frente... Cada diabona! Se fosse em outras épocas... Batata! Já estava dentro! Você sabe o que é isso?

- Encontros quase que telepáticos, diabólicos!... Isso é freqüência, é energia! É como ondas de rádio! Se você fosse viciado em drogas, com certeza, você iria se deparar com usuários ou fornecedores pelo caminho até aqui!

- faz sentido!

- É bem assim que o pensamento condicionado funciona... Bateu o medo, busca logo por algo para anestesiá-lo... No seu caso, o sexo compulsivo.

- Esse medo, JR, é natural não é mesmo? Mas ele pode sumir não pode?

- Por que você acha que sou eu que tenho que dar essa resposta? Por que você pergunta para mim? Não seria o próprio medo que está fazendo com que você me faça essa pergunta?... Você disse que está sem todas as suas muletas, mas a muleta do sexo você deu um jeito de guardá-las em segurança, não deu?

- Só por hoje, já te disse que não estou preparado para mexer com isso! Acho que se eu começar a mexer com isso, aí sim é que eu vou parar num sanatório?

- Por que você tem tanto medo de mexer com isso?

- Com o que? O sexo?

- Sim! Por que o sexo é tão importante para você?

- Sei lá cara! É uma das poucas coisas que me preenchem com prazer! O resto já não faz sentido! Com ele eu esqueço meus medos e me sinto momentaneamente num estado de plenitude!

- Mas você já viu que isso também é falso, não viu? Acabou o efeito do gozo, a realidade fica de frente com você numa proporção muito maior... Não percebeu isso ainda?

- Não dessa maneira! Mas já constatei que por vezes, o vazio fica muito maior!... Cara, que coisa louca!... Que medo é esse, JR? Comecei a ter medo, medo, medo, medo... A coisa foi aumentando como nunca antes... Pensei atém que fosse o que chamam de síndrome de pânico! Nunca fiquei assim antes! Tudo que eu pensava fazer, logo vinha o pensamento e dizia que não iria adiantar... Vai fazer o que? Vai comer? Não vai adiantar!... Vai assistir um filme? Não vai adiantar?... Vai se masturbar? Não vai adiantar!... Vai sair agora a noite, nessa hora, atrás de mulher? Também não vai adiantar!... Vai atrás dos seus velhos amigos? Também é falso, não vai adiantar!... Vai correr para o colo da mamãe? Também não vai adiantar!... E aí? O que você vai fazer?... Comecei a olhar para tudo isso e começou a me dar um puta desespero, uma pressão ferrada na cabeça, bem aqui dos lados! Comecei a ficar com medo de ter um AVC...

- Qual era o medo?

- Medo de ficar sozinho!... Medo de ficar sem nada, medo da solidão! Medo de ficar só, sem ter onde me segurar?

- Então, na real, será que você não tem medo de ficar livre?

- Acho que no fundo eu tenho esse medo! Sei lá! Está tão confuso aqui dentro que eu não me arrisco a dizer que saiba alguma coisa por mim mesmo. Ontem à noite, teve um momento em que minha cabeça me bombardeou dizendo que eu não passo de uma cópia barata dos outros, que eu sou uma pessoa de segunda mão, uma espécie de bonequinho em série...

- Nosso pensamento condicionado é mesmo uma merda... Ele faz uso até do novo paradigma para que você passe a se detonar, para que você continue nesse processo de se fragmentar! Percebe?

- Acho que não com tanto clareza como você o vê... Ontem o pensamento ficava falando que tudo o que eu tenho é falso, interesseiro, mercadoria de segunda: pais, família, nome, prestigio, namorada... Tudo um jogo de interesse mútuo para obter a idéia da pseudo segurança. Você está me compreendendo? Está acompanhando o raciocínio?

- Claro! No fundo, é isso mesmo! Tem sempre um interesse escondido por baixo da manga! É sempre um interesse velado, mas ele está lá! É que ninguém quer ver isso com propriedade! Faz parte da cultura, da hipocrisia burguesa!

- Muletas cara, muletas! Todo mundo ama uma muleta... Deveria até existir uma religião chamada "muletanismo"... Esse é o grande deus de todos nós: as muletas! Na real, ouso dizer que amamos mais as nossas muletas do que o próprio Deus, se é que ele existe ou então, não seja mais uma das muletas.

- Cada um com as suas muletas!... E são tantas as muletas!... Tudo por falta de coragem para sentar com os próprios medos! Só os coxos precisam de muletas!

- Pois é cara! Esse puto do Krishnamurti estilhaçou as minhas muletas!... E agora? O que é que eu faço? Confesso que estou sem chão.

- O processo é assim mesmo! No começo é difícil mesmo e o pânico é natural. No entanto, se você for sério e perseverante, vai descobrir um modo de vida dotado de uma liberdade sem palavras. Tem muito mais liberdade!

- Você fica livre?

- Está vendo? Esse é o seu medo novamente perguntando, ele quer certeza, garantia, segurança...

- É foda! Parece uma baita piração, que vou acabar louco a qualquer momento!O cabeção fala um monte de coisa!

- Celsão, isso é uma lavagem cerebral! Fica frio! Deixa a mente ficar limpinha!...

- Cara, a coisa está tão forte que agora fico o tempo todo querendo saber o que na realidade significam as palavras... Tenho procurado prestar atenção em tudo que se passa comigo no decorrer do dia: como ando, como respiro, como me alimento, como me relaciono com as pessoas... No olhar das crianças e dos adultos... Nas pessoas dentro da condução, na fila do banco... Aí começam as palavras...

- O que tem as palavras?

- Parece que todas as palavras pedem para que a gente fique distante da dor e da mente. Já percebeu isso?

- Explique-se melhor.

- Pegue a palavra "pressentimento"...

- Sim! O que tem ela?

- De onde que vem essa palavra? O que ela realmente quer dizer?

- Segundo o dicionário, é um sentimento intuitivo e alheio a uma causa conhecida, que permite a previsão de acontecimentos futuros...

- Cara, divide a palavra... pre+sente+mente... Aquilo que vem antes da mente... Sacou? É um estado onde não entra o tempo... É o agora! Sacou? Você se lembra do filme "O Último Samurai"?... Lembra-se da cena em que o menino fala para ele sair da mente e aí ele começa a ter uma visão exata dos movimentos futuros da luta?

- Sim, lembro-me! Justamente...

- Então!... Olha só para essa palavra que você acabou de falar...

- Qual?

- "Justamente"... Ela vem da palavra "justapor", que significa "por de lado", ou seja, por a mente de lado, ajustada... Sacou?

- Faz sentido!

- Ai veio outra palavra na mente: "nascimento"... nascer+pensamento...

- Vai ver que é por isso que todos nós choramos quando nascemos... Deve ser um pressentimento de que vamos sofrer por causa dos pensamentos! – Risos.

- Você já viu quantas palavras terminam com "mente" e com "dor"? Parece que existe uma inteligência que faz uso das palavras para assinalar a necessidade de se compreender a dor e a mente... Olhe para a palavra "observador"... observa+dor... Cara, parecia que eu ia pirar! As palavras começaram a passar pela minha mente numa intensidade e clareza como nunca antes! A clareza era tanta que me deu até medo! Por isso que vim aqui! Sinto que vou pirar!

- Você pensa isso ou pressente?

- Eu penso!

- Menos mal!

- Cara, como ficar livre dessa mente?

- Não creio que o problema esteja na mente... Acho que o problema está no "cérebro" que está em boa parte condicionado. O problema está no instrumento, no mecanismo que é usado pela mente. O cérebro é o instrumento pelo qual essa mente se manifesta, funciona. Como as células cerebrais, onde está armazenado todo o nosso arquivo morto da memória, estão embotadas, a mente não pode se manifestar de modo saudável. A mente não tem como funcionar com clareza por causa do instrumento que está desgastado, embotado, maculado pelo pensamento condicionado.

- Faz sentido!

- Uma coisa é a mente, outra o cérebro. A mente não é essa coisa corpórea, esse conjunto de energia condensada... O cérebro é o instrumento através da qual a mente pode se manifestar. No entanto, como esse instrumento que é o cérebro está desgastado, embotado, maculado, a mente não tem como se manifestar com toda a sua intensidade. Um machado que não está afiado não pode produzir o mesmo resultado que um machado afiadíssimo.

- Faz sentido!

- Como as células do cérebro não estão inocentes, a mente não funciona com toda a sua totalidade e é por isso que falam que a doença é mental. A mente é pura, as células cerebrais é que estão sujas. O instrumento é que está deturpado, desgastado!

- Entendo!

- Se as células cerebrais forem renovadas, a mente então, pode funcionar em sua totalidade. Um machado afiado faz o mesmo trabalho com menos gasto de energia e tempo. O mesmo machado sem estar afiado exige muito mais energia e tempo. Percebe?

- Sim!

- Por isso que essa lavagem cerebral é importante! A sociedade acha que lavagem cerebral é algo pernicioso. De fato é!... Pernicioso para a continuidade do modo operante da sociedade, uma vez que um homem que sabe usar sua mente, não pode jamais ser controlado. O cérebro precisa estar renovado para que a mente possa funcionar "naturalmente", ou seja, de forma natural, em sua origem que não está no tempo e que, portanto, não possui condicionamento. Hoje, a mente está doente, por que o instrumento pela qual ela se manifesta está sujo, contaminado.

- Faz sentido! Como o cérebro está cheio com o arquivo morto de conhecimento, não tem como a mente passar sem ser infectada, não é isso?

- Creio que podemos nos expressar dessa maneira! Em outras palavras, um copo sujo pode fornecer água limpa?

- Lógico que não! Não tem como se manifestar a água limpa!

- Exato! O que se manifestar vai estar contaminado pela sujeira do copo, que é o pensamento, que é memória, imagem, armazenado nas células cerebrais. Fica tudo retido nas células da memória. Fica então a pergunta: por que o cérebro tem essa necessidade de reter? Por que não ocorre um fluir? Por que é que o cérebro quer reter o que está se manifestando e de identificar como se fosse algo "seu", produto do "eu", do "meu"? Por que ele acha sempre que foi o "eu" que manifestou o não-manifesto?

- Essa me parece ser a própria essência do ego, não é JR!

- Por que essa energia manifesta não pode continuar no anonimato? Por que o eu tem essa mania insana de querer se apropriar da manifestação?

- Por causa que busca por segurança, poder e prestigio, não é isso?

- Por que não pode deixar de existir essa identificação do "eu", do "mim", do "meu"? Por que não pode ser apenas o fluir dessa energia anônima? Por que essa mania de "propriedade intelectual"? A energia se manifesta através deste passaporte com um nome e o "eu" vem e logo se apropria como o mentor intelectual da manifestação... Por que isso? Isso não veio de graça? Por que não dar de graça?

- Entendi! O eu quer se apropriar da manifestação dessa energia, quer se dizer como proprietário intelectual da mesma para poder organizá-la como tal e finalmente mercantilizá-la!... Que doideira JR!

- É que dessa maneira o "eu" consegue se reforçar! Isso faz com que a imagem do "eu" seja reforçada, tanto para esse passaporte como para os demais que também vivem de imagem! É por isso que eles inventaram os "direitos autorais"... Busco segurança no direito autoral por que sei que eu por mim mesmo não tenho capacidade de manter esse fluir... Ele pode acabar, então, tenho que garantir o que veio agora!...

- Então, deixe eu ver se eu entendi... O cara teve uma idéia do avião...

- Já começou errado! O cara não teve a idéia do avião... A energia criativa manifestou o avião através do passaporte que é o cara... A propriedade intelectual não é do cara, mas sim, dessa energia criativa que se manifestou através do passaporte que é o cara! Sacou? O manifesto veio através do não-manifesto... Veio através desse grande anônimo de mil nomes! Que não tem nome, que não tem palavra e que, portanto, não está no tempo!... Então vem o "eu" e se apropria indevidamente da manifestação e diz: "eu é quem criei!" e com isso, reforça a si mesmo...

- Percebi... O eu cria a ilusão de que foi ele quem criou e não a ação dessa energia amorosa criativa que se manifesta sem buscar por nenhuma espécie de recompensa, o que em sua essência é amor, não é isso!

- Eu compreendo dessa forma! Essa energia amorosa e anônima manifesta o não-manifesto para a melhoria de vida da raça-humana, já esse eu, busca pela melhoria de suas próprias condições! Ele visa somente o próprio bem-estar e não o bem-estar comum! Percebe? Ele cria os "direitos autorais, as patentes" para poder mercantilizar e levar vantagem!

- Agora saquei! O não-manifesto, manifesta a idéia do avião através do passaporte e esse passaporte deturpa a idéia do avião e a usa para jogar uma bomba sobre uma cidade e garantir poder! Que sacada!

- Percebeu? O cérebro que está sujo macula o que é inocente, puro! O cérebro condicionado corrompe! O "eu" não quer ser apenas uma passaporte, ele quer se apropriar do porte, ele não deixa o porte passar, ele quer pegar para ele. Como o "eu" quer dar sustentação para a própria imagem, se apropria indevidamente do porte passado pelo não-manifesto. É por isso que o eu é sempre uma mercadoria de segunda mão!

- Isso é muito louco!

- Por que não posso ser um anônimo? Por que não posso ser apenas um passaporte? Por que vou me organizando como "o tal", o proprietário, o intelectual? Por que não posso ser um anônimo, ou seja, apenas um instrumento pelo qual essa energia sem nome possa se manifestar? Não, eu tenho que me organizar como tal! Quero ser manchete de jornal, ser entrevistado pelo Jô Soares! Quero correr atrás dos "meus" direitos autorais... Isso é de autoria "minha", do JR! Não é uma manifestação gratuita dessa mente!... Não, o eu quer dizer que é de sua propriedade! Quando eu digo que essa idéia é "minha", já está embutido o medo por detrás dessa palavra e sem perceber, o eu que busca por segurança, vive num eterno ciclo de insegurança: "será que alguém vai copiar a minha idéia? Como posso protegê-la?" Percebe!

- Claro!

- Ai, por causa da preocupação excessiva consigo mesmo, cessa o fluir dessa energia criativa e o eu passa a ser uma mera máquina de copiar! Como uma pessoa que tem medo pode ser uma pessoa livre para manifestar o não-manifesto? O que ela pode manifestar é tão somente o que já foi manifesto só que de forma um pouco mascarado! É por isso que existem tantos livros de auto-ajuda que em nada ajudam!

- É fato!

- Bem Celsão, eu gostaria de continuar nossa conversa mas tenho que dar um bom trato aqui na loja! Você não me leva a mal?

- Que nada! Volto outra hora para a gente terminar essa conversa!

- Você vai estar ocupado na parte da tarde?

- Não! Estou na boa!

- Então vem aí lá para as 16:00 horas que eu pago o café e continuamos esta conversa. Pode ser?

- Na veia! Combinado! Mais tarde passo aí! Valeu irmão!

- Cuide bem do passaporte que você é! Até mais!

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!