Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

18 junho 2007

Quem é o você que pode libertar você de você mesmo?

The creation of contemporaneous Adam

- Então, JR? Vim para aquele café filosófico da tarde? Pode ser!
- Opa! Já não estava combinado! Vamos nessa! E aí? O que fluiu da conversa de hoje cedo?
- Nem te falo! Minha cabeça saiu a mil daqui, JR. É muito louco o que esse tipo de conversa faz com a mente... Saio daqui com a mente a dar reviravoltas... É como se as células cerebrais estivessem brigando uma com as outras.
- Faz sentido! Arrisco a dizer que a célula cerebral que se desinfetou do condicionamento através da observação é sistematicamente bombardeada pelas demais células que não querem se entregar ao novo paradigma apresentado. Gosto de ver o processo de limpeza do cérebro por esse prisma.
- O cérebro começa a mandar informação de que vamos acabar enlouquecendo se continuarmos dando vazão a essa linha de observação. Ás vezes vem na minha mente uma percepção de que esse lance de exterior e interior é tudo balela, de que não existe essa separação entre os dois, que isso é mera ilusão.
- Tudo que você está vendo aí no externo... Hoje ainda existe para mim essa divisão, não posso ser hipócrita e dizer que ela não existe... Tudo isso que está aí no externo, para mim, é manifestação da mente...
- Só que aí vem o pensamento...
- Para mim começa tudo na Mente... Seja dessa Mente que não mente, como dessa mente que mente devido aos seus condicionamentos...
- Tem as duas mentes não é JR?
- A Mente depurada do condicionamento e a mente maculada pelo condicionamento do pensamento compulsivo. A Mente não mente. Mas, essa mente corrompida pela ação do pensamento condicionado, compulsivo, interesseiro, egocêntrico, calculista, exclusivista... Essa mente, mente!
- E é essa que a gente tem que se livrar dela, não é?
- Entre aspas, "temos que"! Mas não vai ser nós, através do pensamento condicionado que vamos fazer com que ela deixe de se manifestar. Talvez, através dessa observação sem escolhas a gente possa se libertar dela. Talvez, através da observação, possa acontecer algo que não provem dessa mente que mente, mas sim, dessa outra Mente.
- Como pode haver certeza disso?
- Quem faz essa pergunta agora mesmo é essa sua mente mentirosa que quer segurança na ação. É tudo mentira de uma mente irada!... A gente precisa estar bem atento pois enquanto tiver o desejo de ter que se livrar dessa mente, o próprio desejo e o "ter que" são formas de novos condicionamentos, sacou?
- Faz sentido!
- è o desejo de segurança, que é o próprio pensamento!
- Sim, o pensamento corrompendo!
- Sim, é o danado!... Quando o pensamento cria o desejo e o condicionamento do "você tem que" ele já vem com mais uma forma de condicionamento através da pergunta: "como posso me livrar do pensamento?"
- Sim, a palavra "como" já limita à uma forma padronizada que não dá liberdade de ação.
- Isso mesmo! Fico contente que estamos nos comunicando de boa!... O pensamento começa a dar vida a si mesmo perguntando-se "Como é que eu faço para me libertar do pensamento compulsivo condicionado?"... Aí ele fica rodando feito cachorro atrás do próprio rabo e nunca vai conseguir encontrar a resposta por que ele, em si mesmo, é limitado. Falta inteligência... Como ele não tem inteligência em si mesmo, trata logo de procurar por um método... E assim dá continuidade para a sua escravidão... Continua dando vida ao "você"... "Você" acha que "você" mesmo vai acabar com esse "você" que "você" chama de "eu" de "ego"... O que é "você"? O que é isso que você chama de "eu"?
- Sou o acumulo de memória das experiências com as quais me identifico como sendo eu!
- Show! Hoje você está afiadíssimo! Está dando liga na conversa!
- Já saquei isso... Quando me perguntam por "quem é o Celsão", eu vou lá na memória e começo a dizer que sou fulano de tal, nascido na data tal, no país tal, filho de tal e tal pessoa e por aí vai... Nunca respondo quem eu realmente sou aqui e agora e não faço isso, porque realmente não sei! Estou condicionado a me identificar com esse arquivo morto do passado!
- Pois é! Identificamos-nos com todo esse arquivo morto de experiências e são exatamente elas que nos impedem de olhar com propriedade para o aqui e agora... Tudo arquivo morto! Nos identificamos com nosso arquivo morto e não com aquilo que é eterno que está aqui no eterno agora... Esse "você" acha que por "você" vai conseguir acabar com esse "você"...
- Não vai não é JR? Isso é muito louco JR!
- Então, esse "você", que é pensamento condicionado, essa idéia que você tem de você, que é um resultado do seu arquivo de memórias, das experiências do passado, vê que esse "você" tem que desaparecer... Aí então, esse "você" começa a pensar numa metodologia capaz de fazer com que esse "você"...
- Desapareça!... E aí vem tudo aquilo de novo não é?
- O "você" que é pensamento entrou pela porta dos fundos dando vida a si mesmo! E assim o ciclo compulsivo do pensamento condicionado nunca chega ao seu fim!... O pensamento condicionado vem e começa a perguntar se a vida é só isso, se não estamos fazendo exigências descabidas de nós mesmos, se não temos que nos conformar com o que está ai e por ai vai toda... São inúmeras as formas de racionalização, de masturbação mental que o próprio pensamento condicionado cria para dar continuidade a si mesmo... E assim a gente deixa de viver o que é por estar preso no cabeção atrás de respostas para conseguir acabar com o "você mesmo"... O que faz com que essa inteligência maior possa ser despertada.
- Cara, isso parece papo de maluco! Será que é isso que as pessoas chamam de reencarnação? Você não compreendeu sobre si mesmo e aí volta, volta e volta?
- Acho que isso é encanação! – Risos
- Isso muito louco JR... Eu assisti aquele filme que você me indicou, "O Poder Além da Vida", umas quatro ou cinco vezes. O filme é fantástico e é filme para ser estudado mesmo. Tem muita coisa embutida lá, que se a mente não estiver quieta você acaba não pegando.
- Sem dúvida!
- O filme mostra que tudo é muito simples, que tudo está na simplicidade e é justamente por ser tão simples que a mente acaba achando que é complicado.
- Celsão, pelo que eu compreendi até agora, o grande lance é só observar!... Mas a mente condicionado vem e exige que se faça mais alguma coisa...
- É verdade, é assim mesmo! Ela fala que tem que ler alguma coisa, quem te que se freqüentar algum lugar, que tem que, que tem que e que tem que algo mais e mais... Olha, se você ficar sozinho com esse papo de observar, você vai acabar pirando! Você não acha que é muita prepotência da sua parte querer resolver sozinho seus problemas somente através desse papinho de observação sem escolhas?... É assim mesmo que ela funciona!
- É uma eterna busca por mais condicionamentos...
- Pois é JR! Eu vejo minha mente falando que eu preciso de uma religião, de um pastor, de um Deus, de muito conhecimento... Que eu preciso de alguém que me salve de mim mesmo!
- Que bom que você está vendo isso!
- Cara, é coisa de xarope! Mas é isso mesmo... Eu fico só olhando... Ontem sai para fazer aquilo que o Krishnamurti falou...
- Não, você não vai fazer o que o Krishnamurti falou, você vai sair para fazer aquilo que você olhou e viu que faz sentido... Krishnamurti é só um espelho...
- Faz sentido mesmo!
- Se você vai fazer isso porque o Krishnamurti falou, então você está atrás de um método...
- Não JR, não estou atrás de um método, é que faz realmente sentido o que ele falou...
- Então é seu! Não é do Krishnamurti aquilo que você viu! Foi você quem viu através do "passaporte" que trouxe essa coisa, que te trouxe a bem-aventurança... Aí você, que está condicionado a se relacionar com imagens, com ídolos, pega a imagem do Krishnamurti, pega esse passaporte de nome Krishnamurti e fala que vai fazer aquilo que o Krishnamurti falou... Sacou a insanidade? Tem que ir além do passaporte... Que é essa energia amorosa, criativa, que é essa Mente que não mente, que não traz nenhuma espécie de conforto... Mais não! A gente se identifica com o passaporte chamado Krishnamurti e assim nos mantemos presos nesse constante hábito de formação de imagens, de ídolos, de deuses...
- Cara, isso é muito louco e parece que cada vez que a gente avança mais, mais louco ainda fica!
- Isso faz com que a gente fique mais perceptivo, mais sensível... Enquanto você não chega aqui, sua vida não tem qualidade. Você não tem olfato, visão, paladar, audição... Tudo isso é usado de forma fragmentária... O pensamento rouba tudo... Você não vê nada do que está acontecendo, você não ouve nada do que está acontecendo... Você é um moribundo, um morto vivo! Você não tem real contato com nada... É um automatismo total! Um robô funcionando no automático, como se fosse um computador programado por vários softers instalados por estranhos. Não consegue sair da limitação das palavras e das imagens...
- Pois é, nunca estamos presentes!
- Em outras palavras, por não estarmos no presente, não podemos ser um presente para este mundo. Que presente que estamos sendo? Um presente ou um estorvo? Se continuarmos assim, seremos um presente para este mundo assim que morrermos... Um a menos para dar continuidade ao processo divisor do pensamento. É um a menos para condicionar!
- E não adianta falar por que a maioria não escuta. Cara, como é difícil tentar passar isso para as pessoas... Elas dão risada, tiram sarro, fazem piadinhas, falam que estamos filosofando, que queremos ser filósofos...
- E qual é o problema de optar por ser filósofo? Você já pegou o dicionário para ver o significado dessa palavra? Filósofo é aquele que procede sempre com sabedoria e reflexão, que segue uma filosofia de vida; aquele que vive tranqüilo e indiferente aos preconceitos e convenções sociais... O que pode haver de problemático nisso? Para mim, isso é uma verdadeira benção! Deixe-me perguntar: você não vê um sentido lógico em tudo isso que estamos conversando e vivenciando?
- Claro! É um troço louco e os caras não entendem mesmo!
- Daí dá para entender o por que desses grandes pensadores colocarem as coisas através de parábolas ou de fórmulas... Como dizia Paulo de Tarso , "todos dormem, todos dormem"... A limitação da mente condicionada das pessoas não deixa que as mesmas vejam o novo paradigma... Por melhor que o cara use a palavra, o fundo psicológico recusa a palavra. E cérebro não capta! Isso é fato! Em outras palavras, todos esses grandes passaportes da humanidade quiseram dizer uma só coisa: tudo é falso! Tudo isso que vocês estão vendo não é o que é.
- Que louco!... É muito louco esse processo! Dá um nó na cabeça!
- Que nó, que nada! Não tem nada de nó!... O que se passa é que as suas células cerebrais estão sendo chacoalhadas, é uma lavagem cerebral, um demolir de uma zona de conforto. Na zona de conforto você nunca vai ver nada! Agora, se você chacoalha tudo, se você pega o seu guarda-roupa, com tudo que está lá dentro amontoado, tomba-o no chão, o que acontece?
- Vira a maior confusão!
- Para você encontrar uma determinada peça demora... Mas ai quando você começa a arrumar novamente o guarda-roupa começa a perceber através da observação, que várias peças que estão guardadas ali dentro já estão com o prazo de validade vencidos, já não estão em uso, fora de moda e que precisam ser jogadas fora para dar mais espaço vazio e tornar o movimento mais rápido e fácil. Pode ser um exemplo bobo...
- Nada cara! Faz todo sentido! Precisa jogar fora mesmo! Nem serve para ser doado para terceiros!
- Quando essas conversas parecem que estão dando nó na mente, na realidade, não estão dando nó: estão desfazendo o amontoado de nós existentes nesse novelo chamado cérebro. As células que estão guardando um monte de condicionamentos com seus prazos de validade vencidos estão sendo chacoalhadas, atiradas ao chão... Percebe? Tem lógica ou não?
- Sim!
- Só que a lógica precisa morrer... É preciso ir além da lógica, pois a lógica é limitada. Lembra-se do filme "O Último Samurai?"... O Katsumoto é a representação da lógica. A lógica precisa morrer para a manifestação do último imperador: a inteligência criativa. É a lógica que estuda o inimigo! Enquanto tem a lógica, tem sempre limitação, separação, dualidade!
- Sim, a lógica é limitada, para mim isso é um fato! Ela é limitada pelo tempo e pelo conhecimento. Isso dá um nó na cabeça!
- Desata os nós dessa sua mente cheia de nós! O que acontece é que em cada conversa dessas, a cada observação você desata um nó! O conflito está na guerra entre as células... A energia quer fluir, mas as células querem bloqueá-la... Só quando alógica morre, pode haver perfeição... Isso fica claro no filme! Essa é a última frase do Katsumoto: tudo é perfeito!
- É mesmo! Faz sentido! São as células cerebrais condicionadas que bloqueiam a manifestação dessa energia criativa... Vamos precisar de mais uns quatro ou cinco cafés filosóficos para entender isso melhor!
- Está vendo só? Lá vem seu cabeção criando a necessidade do tempo psicológico para a compreensão do que é! Será que não dá a para a gente ver isso instantaneamente?
- Pode crer, a própria palavra "instantaneamente" já diz tudo... Não dá espaço para tempo, que ocorre ou surge sem ser previsto; repentino, inesperado.
- Então, subitamente devo-lhe dizer que não tenho mais tempo para dar continuidade a esta nossa conversa!
- De boa JR!
- Vamos nessa?
- Hoje valeu o café!
- Amanhã é meu!
- certo!

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!