Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

22 junho 2007

O processo divisor do pensamento

- Alô, quem fala?...

- Bom dia Celsão! Sou eu JR!

- Espera aí que já ligo de volta no seu telefone, assim você não paga celular!

- Beleza!

Não levou nem trinta segundos para que ele retornasse a ligação...

- Fala garoto, beleza?

- Na correria JR! Na correria! Que você manda?

- Não mando nada! Só estou querendo dar um retorno quanto aquele site que você me indicou.

- Qual, o realidadeoculta.com?

- Esse mesmo!

- O que você achou?

- Olha cara, sinceridade? Depois de tudo que temos conversado, confesso que não sei o que você viu de excepcional naquele site... Tudo que está ali muita gente já sabe!

- Sério que você achou isso?

- Sim, falo sério! Não vi nada demais, você encontra aquilo em vários lugares.

- Mas o cara mostra tudo!

- Mostra tudo o que, Celsão?

- O cara mostra toda a sacanagem do controle financeiro!

- E você acha que esse é o real problema humano?

- Lógico que é! Vai dizer que o dinheiro não é um problema?

- Não, não acho que o dinheiro seja o causador do problema. Para mim, o problema está no pensamento condicionado em relação ao dinheiro. O problema não está no dinheiro, mas em como o ser humano se relaciona com ele. E, em última análise, o que movimenta toda ação do ser humano é o pensamento. Não vi nada disso naquele site. Ao contrário, o que vi lá é um monte de pensamento das coisas cridas pelo pensamento que faz você ficar cada vez mais preso dentro do sistema de conflito e intriga que instiga ainda mais o processo divisor do pensamento. Para mim isso está ficando mais claro a cada dia que passa. Venho tendo várias experiências que tem me mostrado isso com uma clareza descomunal. Ontem mesmo vivenciei uma das fortes.

- Diga!

- Anteontem fui visitar uma amiga minha que está internada para um tratamento contra o câncer. O caso dela é bastante delicado e confesso que é a primeira pessoa querida que me trouxe a experiência da possibilidade de morte diante dos meus olhos. Nunca lidei com isso antes, portanto, não tenho nenhum script no qual possa me basear. Não tive uma pedagogia voltada para a questão morte, muito mesmo de como interagir com alguém que está passando por um quadro clinico delicado. Para agravar um pouco mais a situação, nunca gostei de entrar em hospitais. Não me sinto bem lá dentro; não sei explicar, acho que é uma coisa de energia...

- Sei como é isso, pois também sinto o mesmo. Mas o que é que isso tem a ver com o pensamento e o processo divisor?

- Calma que já chego lá! Depois você me manda a conta!... Como falava antes, eu estava no corredor do hospital vendo aquele monte de familiares, pessoas na fila da quimioterapia, outras na fila da internação... Aquilo foi mexendo comigo... Foi me dando uma ansiedade... Eu mal tinha identificado o motivo da carga emocional, quando, no final do corredor, sentada numa cadeira de rodas, cercada por três jovens enfermeiras, avistei minha amiga. Sua aparência estava ótima, a pele bem corada, sem o tom amarelado anterior a sua internação. Trazia em seu colo um recipiente plástico contendo soro. Ficou bastante eufórica ao me ver e quando me aproximei, limitei-me a sorrir e beijar sua face. As palavras me faltavam. Ela me apresentou para as enfermeiras como se eu fosse o seu "terapeuta mental". Todos rimos com seu jeito meigo de falar. Logo fomos cercados por seus familiares e outros amigos que também estavam ali para visitá-la. Enquanto ela cumprimentava a todos, percebi que uma das enfermeiras estava com seu olhar fixo sobre mim. Meu pensamento logo manifestou uma fantasia de cunho sexual, o que me causou certo desconforto. Ao perceber a sugestão do pensamento e não alimentá-la, o mesmo pensamento apresentou-se em forma de julgamento: "como você pode ter um pensamento desse tipo diante desta situação. Veja só, sua amiga nesse estado e você tendo esse tipo de pensamento"... Fiquei somente observando, com um olho nos acontecimentos externos e com o outro aqui dentro de mim... Não me identifiquei também com este segundo pensamento. No entanto, se antes eu já me encontrava um tanto travado, depois destes, me senti mais travado ainda. Para me recompor, decidi ser o último a subir para seu quarto onde seria feita a visita. Enquanto estava só, consegui perceber a dinâmica do pensamento condicionado. Como o pensamento não sabe lidar com o novo, com a realidade dos fatos, principalmente com fatos referentes à doença e a possibilidade da dor da morte, busca uma forma de fuga num prazer imediato, no caso em questão, a fantasia do sexo com uma enfermeira. Esse pensamento é um reflexo das fantasias armazenadas na memória dos tempos de adolescência colhidas das revistas, filmes, conversas entre amigos e presentes também no inconsciente coletivo masculino. Natural que se manifestassem para serem expostas à luz da inteligência que vê o falso, ou então, o que é mais comum, para darem alimento ao processo do pensamento condicionado compulsivo. Uma vez exposta à observação, pude rir de mim mesmo, recompor meu astral e esperar pelo meu momento de visita, a qual foi muito gratificante para ambos. Também pude perceber, através da minha própria rejeição deste tipo de pensamento, o quanto que a questão sexual é reprimida pela moralidade social. Se eu tivesse tido pensamento de fumar um cigarro (como fazia o marido de minha amiga), ou em comer um chocolate (como o fez o seu filho), será que eu teria reagido ao pensamento da mesma forma? Claro que não, por que o cigarro e o chocolate estão dentro do script social aceitável. Faz parte da hipocrisia burguesa. Não estou fazendo apologia ao sexo livre, apenas observando o processo divisor do pensamento. Você está me acompanhando?

- Claro, continue!

- A observação da ação do pensamento impediu a manifestação do processo divisor, que impede a manifestação de uma verdadeira intimidade comigo mesmo e conseqüentemente com os demais.

- Faz sentido.

- Mas o que pegou mesmo foi ontem à noite...

- Que foi?

- Eu estava numa roda de amigos tomando um café filosófico narrando este acontecimento com o intuito de mostrar todo este processo divisor do pensamento. Na roda havia só homens e bem atrás de nós, estavam as mulheres, entre elas, minha esposa que acabou ouvindo o que eu falava para eles. Sua reação condicionada foi imediata: medo, insegurança e ciúme. A narração do meu processo divisor do pensamento foi de encontro ao fundo psicológico dela, o qual se manifestou instantaneamente dando vida ao seu próprio processo divisor do pensamento. Pela maneira que se comportou com seu silêncio, seu olhar e o evitar maior proximidade no caminho de volta, percebi que ela estava enciumada com o que eu havia falado. Veja só que louco! Veja como o processo divisor do pensamento se auto-nutre através das relações... O fato de perceber seu ciúme foi de encontro ao meu fundo psicológico que também se manifestou em forma de medo de ser controlado e você sabe qual foi o resultado?

- Não faço idéia!

- Acabamos dormindo cada um para um lado da cama, com um tímido beijo de boa noite! Isso foi o suficiente para o meu pensamento (e também o dela) impedir que o sono se manifestasse... Era como se eu tivesse um aparelho de MP4 Player de última geração instalado em meu cérebro: imagens, sons, diálogos, monólogos... Tudo numa sucessão ininterrupta... Levei uma baita surra do pensamento... Cada um virado para o seu lado com os seus medos, ansiedades, com suas buscas de segurança psicológica... Percebeu?...

Agora lhe pergunto: qual a diferença do que ocorreu conosco e o que ocorre com os grupos que detém o poder financeiro no planeta? Não estariam eles também dormindo cada um do seu lado sem se importar com a realidade interna do outro? Então? Qual é o real problema? A divisão que o dinheiro produz ou o processo divisor que o pensamento produz?

- Não sei não! Preciso pensar!

- Então vou desligar para você pensar numa boa e não fazer com que a sua preocupação com o valor da conta de telefone divida seu raciocínio lógico. É preciso bastante energia para ver isso em sua totalidade. Depois que digerir isso, passe aqui para um café. Desta vez, segundo o "protocologo de Sião" que consta daquele site, a conta é minha! Até mais! – Risos.

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!