Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

13 junho 2007

O fenômeno da energia pura: um poder além da vida!

Eram por volta das 10:00 horas da manhã, quando da sacada de minha casa pude avistar o velho Celso, em sua montain bike colorida. Apesar da temperatura média, usava uma grossa blusa de lã verde e carregava nas costas, sua surrada mochila repleta de cacarecos.
- Bom dia Celsão! Agora sei de onde vem esse cheiro de carne assada! Você está doente? Por que essa blusa de lã?
- Sei lá! Já estou acostumado! Você está muito ocupado? Dá para a gente tomar aquele cafezinho filosófico? Hoje eu pago!
- Agora é que não dá para recusar. Espere um minuto enquanto prendo meu cachorro no quintal dos fundos.
- Ok, vai lá!
Meu cão está com seis meses de idade e uma das suas peripécias é comer tudo que aparece pela frente e tem a estranha mania de fazer seu cocozinho e espalhá-lo por todo canto da casa. Está sendo bastante difícil de condicioná-lo a fazer suas necessidades sempre no mesmo canto quando não estamos por perto. Até parece que faz isso para chamar a atenção. Quando estamos por perto, sempre procura o mesmo cantinho da casa.
- Vamos lá! E então? O que descobriu? Algo de novo ou continua tudo no velho?
- Cara, estive pensando naquela conversa que tivemos na semana passada sobre o pensamento condicionado. A coisa está ficando profundamente clara para mim, ainda mais depois que li os textos do Krishnamurti que estão no site da Cuidar do Ser. Cara, estou perplexo! Agora entendo por que você sempre frisava a total desnecessidade de se colher conhecimento psicológico. Está tudo lá, só não vê quem não quer. Faz todo sentido! A xícara para ser útil tem que estar vazia... Bateu com aquele filme que você me indicou, "O Poder Além da Vida"... Fantástico JR! Identificação total! Fiquei perplexo com a clareza de pensamento do Krishnamurti. Em todos os textos que li, não consegui encontrar sequer uma contradição. O cara saca tudo! Quanto ao filme, me vi em quase toda cena. Percebi como estou condicionado nessa viagem no tempo psicológico, passado, futuro e a total incapacidade de estar centrado no presente com a totalidade do meu ser. Meu pensamento foge para todos os lados... Você não vai acreditar, mas ontem, depois que percebi isso, quando caiu essa ficha, comecei a ficar com um puta cagaço!
- Por que?
- Cara, lembra-se da cena, logo no começo do filme em que aparece o menino tendo as pernas estilhaçadas?
- Sim, o que é que têm?
- Caiu para mim como uma luva. No misticismo, os pés e as pernas simbolizam a compreensão do homem e o conhecimento adquirido pelos caminhos por onde passou. Vi essa cena simbolizada pela necessidade de estilhaçar de vez o passado morto, exatamente como num texto do Krishnamurti, chamado, Liberte-se do Passado. Para mim fez todo o sentido. Foi aí que comecei a entrar numa confusão danada, numa espécie de crise de identidade... Quem sou eu sem o conhecido? Para onde vou? O que vai me dar segurança? Aí quando aparece aquela cena do menino em cima da torre do colégio, tentando segurar desesperadamente a imagem que ele tinha dele mesmo, aí é que a coisa ficou preta... Comecei a entrar em pânico. Fiquei com medo de estar enlouquecendo! Apesar de ver a lógica tanto nos textos como no filme, confesso que fiquei com medo.
- Ficou ou está?
- Tenho que ser sincero, ainda estou! Parece que estou fazendo uma lobotomia, uma lavagem cerebral... Tem momentos em que minha cabeça chega a doer pra cacete! Meu pensamento fica dizendo que vou ter um derrame, que vou enlouquecer, que vou parar num sanatório, que é melhor parar com isso tudo, que você não passa de um maluco e que se eu continuar, vou acabar como você!
- Eu te compreendo! Já vivi isso na pele! Você está com medo de atravessar esse portal... Isso é normal. Lembro-me que quando comecei a ler os textos do K, fui apresentado para um senhor que era um dos responsáveis pela conferência das traduções feitas dos textos do K aqui no Brasil. Esse senhor, de fala mansa e suave, sentado naquela cadeirinha branca da loja, olhou em meus olhos e me perguntou:
- JR, o que você está buscando nos textos do Krishnamurti?
- Sr. Laerte, busco encontrar respostas para os meus conflitos existenciais.
Ele deu um leve sorriso, passou a mão em seus poucos cabelos grisalhos e me respondeu de maneira um tanto amorosa:
- JR, tenha bastante cuidado! Krishnamurti não vai lhe dar nada, absolutamente nada. No entanto, quando você menos esperar, olhará em volta de você e perceberá que ele lhe arrancou tudo que lhe era conhecido e que proporcionava uma idéia falsa de segurança. Ele vai estilhaçar suas muletas psicológicas, vai limpar sua mente da poeira e do mofo do conhecimento disfuncional que você carrega em suas células cerebrais, em sua memória. Portanto, tenha cuidado!
- Celsão, confesso que aquele alerta amoroso, por um lado, me encheu de medo, e por outro, foi como que um desafio para seguir em frente. Lembrei-me da expressão bíblica: "não se pode colocar vinho novo em odres velhos". Hoje, esse medo já não existe mais, no entanto, confesso que quase enlouqueci quando me vi sem chão, sem crença, sem deus, sem muletas, sem organizações, quando me vi só comigo mesmo e a minha confusão. Hoje tenho a absoluta certeza de que a essência da maturidade é ser uma luz para si mesmo, como dizia o K.
- É exatamente isso que senti ontem a noite JR!
- E o que você pensa fazer agora?
- Cara, não tem mais como voltar!
- É verdade Celsão! Uma vez aberta as portas da consciência torna-se impossível fechá-las novamente! Se minha experiência pessoal valer para alguma coisa, fique tranqüilo que você não vai enlouquecer de forma alguma, ao contrário, o que está acontecendo com você é um caminho de volta. É um processo que vai te tirar da loucura coletiva em que você vinha vivendo e que se você for bastante sério, vai te levar para você mesmo, para aquilo que você realmente é e não para aquilo que você idealizou sobre você!
- Cara, isso é coisa de maluco!
- Não Celsão, isso é a verdadeira comunhão dos santos... Não se assuste com o preconceito da palavra santo. Não me refiro a imagem religiosa que essa palavra evoca. Santo, para mim, é aquela pessoa dotada de inocência, que não tem sua mente maculada por nenhuma forma de condicionamento, que é pura. Só a pessoa santa, ou seja, portadora de sanidade mental é que pode ser realmente útil. Para você não se assustar com essa palavra, faça o seguinte: pegue aí um guardanapo de papel...
- Pronto!
- Agora escreva a palavra "santidade" excluindo a letra "t"...
- Caracas! Sanidade...
- Pois é! E tem sempre gente dizendo que não quer virar santo! Você acredita!
- Cara, como estamos limitados pela palavra!
- Bota limitação nisso! Acho que vou pedir mais um café!
- Fique a vontade! Quer comer alguma coisa!
- Não, obrigado! Mas, continuando, ontem caíram umas fichas para mim!
- Diga! Meu orelhão está ficando adicto de fichas!
- Tive uma sacada que me veio de repente. Me vi funcionando em duas fases de energia, uma no 110 watts e a outra no 220 watts. A minha parte mecânica, aquela que faz as coisas do cotidiano, que está presa na rotina diária, trabalha no 110 watts e é responsável pelo meu desgaste físico que pode ser revigorado durante o sono. O problema está na outra fase, a do 220 watts... Essa é aquela parte minha que é prisioneira dos pensamentos compulsivos, acelerados, condicionados e que causam um grande desgaste mental e também corporal. Cheguei à conclusão que acabo gastando 330 watts da minha potência e creio que é justamente isso que faz com que cheguemos ao stress. Como funcionamos acelerados, essa parte do 220 watts não consegue ser uma peça útil para identificar possíveis desgastes desnecessários nas ações do cotidiano. Lembra-se daquele filme com o John Travolta, chamado "O Fenômeno"?
- Sim lembro! Aquele em que o cara tem um despertar da inteligência e seu cérebro começa a funcionar numa intensidade desconhecida de todos!
- Pois bem! Lembra-se daquela cena em que ele começa a estudar o tempo e a energia desperdiçada pelas pessoas no tramite das atividades diárias? Lembra-se que ele chega a diminuir em quase duas horas os serviços do carteiro da cidade?
- É verdade cara!
- Onde quero chegar com isso? Imagine você, que ao invés de gastarmos esses 220 watts, conseguíssemos fazer com que o pensamento fosse usado somente como um servidor de confiança, nas horas em que realmente fosse necessário... O que aconteceria? - Haveria menos perda de energia.
- Sim, tanto na fase 110 watts como na fase 220 watts. O que aconteceria então?
- Haveria energia concentrada!
- Muito bem, haveria uma espécie de dínamo... Sabe o que significa essa palavra? De "dínamo" vem também dinamite... Significa "potência, "força" e a "dinamite" é uma força explosiva num corpo que está inerte... O corpo inerte é o cérebro condicionado... Sacou?
- Cara, isso é muito louco e faz todo o sentido!
- Sem esse dínamo, não tem como haver a concentração de energia necessária para que ocorra aquela explosão mental totalmente criativa... Isso está completamente claro para mim... Disso não haveria stress, uma vez que a energia estaria sempre se renovando em si mesma...
- JR, lembra-se daquele outro filme, "Energia Pura"?
- Isso mesmo, já ia chegar lá!
- Lembra-se como o garoto conseguia movimentar a energia?
- Movimentar não Celsão! Era como se ele fosse um só com ela! Lembra-se da capacidade mental que ele tinha?
- Sim! É isso que quero dizer! Usamos uma minúscula parte do nosso cérebro e o pior de tudo, é que nem essa parte usamos com propriedade! Faz sentido!
- Isso me levou numa visão unificada desses três filmes que comentamos até agora: Qual é "O Fenômeno" capaz de nos fundir a essa "Energia Pura", capaz de nos proporcionar "Um Poder Além da Vida" medíocre que hoje levamos?
- Grande pergunta!
- Achou mesmo? Então pague o nosso café, vá para casa e, como no filme "O Poder Além da Vida" só volte aqui quando tiver algo de novo para me falar, algo que você não tenha tirado do velho lixo do conhecido que você carrega em seu cabeção. Já que você não tem um carro velho para sentar em cima e pensar, serve sua velha mountain bike mesmo!

Gostou? Então compartilhe!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!