Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

18 março 2008

Nos embalos do cotidiano

Sua barba estava mal feita e seu corpo permanecia exprimido no canto direito do banco, com seu ombro encostado ao batente da janela. Seus polegares, freneticamente disparavam contra as teclas do aparelho de celular cujas luzes eram de um azul hipnótico. Seus dentes, aceleradamente mascavam um pequeno chiclete. É bem provável que o jovem rapaz tenha sérios problemas de dentição, visto que mascava somente do lado esquerdo de sua boca. Com exceção do balançar negativo de sua cabeça, por ocasião de algum erro cometido durante o jogo, seu corpo todo parecia estar petrificado. Com o olhar fixo no visor, o arcado rapaz, raramente piscava. Ele, com o olhar fixo no celular enquanto vários outros com os olhares perdidos, fixos em algum lugar de seus pensamentos. Alguns poucos dormiam sem parecer se importar com o imenso ruído dos vagões sobre os trilhos por ocasião dos túneis mais longos. Em cada estação, ocorria um enorme entra e sai de personagens, enquanto o enredo permanecia o mesmo.
Ao soar do aviso da estação terminal, todos se levantaram, aglomerando-se junto às portas do vagão, feito corredores esperando pelo inicio da maratona. As portas se abriram e a massa apressada de autômatos silenciosos disparou pelos corredores repletos de anúncios, em direção às longas filas dos ônibus no terminal. O arcado rapaz, ainda com o chiclete, nem mesmo nas escadarias desviou seu o olhar do visor colorido de seu celular. Alguns poucos fizeram uma rápida parada junto ao carrinho de pipocas, de onde um forte cheiro de bacon frito espalhava-se pelo ar.
A estação chegou ao seu fim, mas não o jogo. Seja sentado a tudo assistindo, ou seja, se anestesiando, com certeza, todos com a mesma alegria contagiante de uma entalhada peça de xadrez, amanhã repetirão o mesmo jogo. Quem sabe, até o dia em que se deparem com o aviso final de cheque-mate e então se dêem conta de que por anos e anos permaneceram neste estúpido jogo sem ao menos saberem contra quem e pelo que jogavam.

Gostou? Então compartilhe!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!