Sexta-feira, 18h06min. As nuvens são de um tom cinza escuro, o vento faz a pele arrepiar e a chuva parece não demorar a chegar. O trânsito é absurdo, bem como o vazio e a inquietude interna.
Todos correm, sendo que a grande maioria, pela expressão de seus olhares, com certeza, sem ao menos saber por que e para que. Eles parecem não perceber que vivem dentro de um maquiavélico sistema de regime de liberdade assistida... Todos correm para as celas de seus condomínios, geralmente atrasados...
Com certeza, os tempos mudaram; já não se faz mais uso das pesadas correntes presas ao pescoço: as mesmas foram trocadas pelo crachá, o palmtop, o celular e o aparelho de mp3 aos ouvidos, para não dar ouvidos ao ininterrupto e insano movimento do pensar. As cartas de alforria só nos deram a liberdade de escolha dos modelos, cores e quantidades de prestações geradas pelas aquisições dos produtos dos senhores do engenho (e como são engenhosos estes senhores), vendidos nas senzalas chamadas shopping centers.
Sem o menor sinal de depressão, percebo que nada do que está aí me atrai. Já não faz mais sentido buscar por distrações ou anestésicos de happy hour, muito menos optar por aquelas situações que depois de feitas, torna-se impossível de se conviver com elas. Sinto a necessidade de algo que as palavras desconhecem, mas, que no mais fundo do meu ser, sinto saber existir.
Só por agora é na escrita que encontro meu alento, se bem que em certos momentos, até mesmo as palavras me parecem sem sentido.
Nestes chamados tempos modernos, sinto que mais do que nunca se faz necessário momentos de silêncio e recolhimento.