Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

27 abril 2011

Divagações num vagão do Metrô

Metrô
Metrô, por NJRO

16h12m de um dia nublado de outono. Bate o vazio e com ele uma vontade de fazer sem o saber o que. É uma ânsia pelo desconhecido, uma vez que, o que me é conhecido, causa-me fastio. É uma sensação de falta, de incompletude. É uma forte vontade de liberdade de mim mesmo.

Peguei um dos novos trens do Metrô. A temperatura do ar condicionado gela as orelhas e a cabeça raspada. Deixo a caneta solta sobre o pequeno bloco de apontamentos, feito com papel reciclado, a espera dos sentimentos a serem materializados em palavras.

Observo as pessoas desconhecidas, absortas em seus pensamentos. Tento imaginar como serão suas vidas, no que pensam e o que agora sentem. A quentura no peito, com aquela benfazeja sensação de Presença parece querer chegar de mansinho... Aviso falso.

Na porta esquerda, parado, um soldado da Polícia Militar; seu olhar se faz tenso, carregado, diante do meu observar. Nisso, um grupo de adolescentes, com suas vozes altas rompem o solitário silêncio do vagão. Seus assuntos são bem infantis. Duas delas, com sacos de pipocas doces, as engolem em bocados apressados, sem o tempo necessário para o saborear. Não devem ter mais que dezesseis anos e parecem disputar suas certezas. Duas também são as que já apresentam os cabelos descoloridos num loiro desigual. Todas fazem uso de muita gíria e soa bastante estranho vê-las se comunicando com frases iniciadas por “e aí mano”... “então cara”...

Agora faltam duas estações para chegar ao meu destino. Em meio ao meu solitário Vergueiro, desço no Paraíso, ansioso por um momento de Augusta Consolação.

Nelson Jonas

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!