Dom Pepe: Estou decidido! Vou fazer um retiro de silêncio de um ano.
Outsider: Não acaba isso sendo uma espécie de escapismo místico, uma fuga geográfica?
DP: Não sei; pode até ser! Eu não sei também!
Out: Ficar, acreditar que se a gente sair daqui e for para algum ambiente e fazer um retiro de silêncio possa...
DP: Será que isso não pode potencializar? Tem muita gente que faz isso ai!... Se eu fizer um retiro de silêncio, será que eu não poderia potencializar?
Out: Mas o que é o silêncio? Silêncio físico?
DP: Não! Físico mesmo!... Você acha que não pode dar em nada?
Out: Não sei! Assim: no meu modo de vida, o fator de eu ficar muito isolado, que é uma escolha que fiz; não consigo estar em grandes ambientes, prefiro estar mais isolado; essa questão de ficar mais isolado, realmente parece que faculta de você ter menos interferências externas descentralizadoras. Por outro lado, a falta de interferência externa pode criar uma zona de conforto que impeça de você ver as suas reações que ocorrem quando você está tendo uma interferência externa.
DP: Entendi! Tem que viver os dois lados, não é?
Out: Eu não sei! Eu acho que o "meio termo" seria o... Por exemplo: Eu não fico direto lá, sozinho em casa... pelo menos um ou dois dias eu venho para cá, para este ambiente comercial, onde eu sofro influências de tudo: estou vendo o visual, mulheres, homens, as conversas, então, acaba dando para perceber aqui no freguês como é que tudo isso interfere.
DP: Tem que ter o meio termo, então, não é? Não pode ser radical, não é?
Out: Eu acho que isso, só se você está vivendo realmente uma crise existencial que está colocando em risco a sua sanidade; então, do mesmo jeito que fisicamente, quando uma pessoa está com uma doença muito grave, ela é tirada das atividades dela e entra numa "UTI" — unidade de tratamento intensivo — ; tiram até, toda roupa dela, para que não tenha preocupação nenhuma nem com estética, essa coisa; ela tem que ficar totalmente no organismo. Toda energia vital dela não pode ser desperdiçada, por isso que não tem contato com familiar, nem nada, que é para que a energia vital não se perca até no sentimentalismo, no apego parental. Então, acho que há determinados na vida do ser humano, que ocorre uma necessidade disso, — não por escolha —; acho que até faz parte de uma "inteligência psíquica" que faz você se isolar um período e se convergir, se converter para dentro, ali, voltar para cá (coração). Mas eu não sei se isso, se no momento, você pegar e disser: "Tá! Agora vou fazer um retiro — e tem um monte de cara que faz isso, que está fazendo isso; o último que fiquei sabendo foi aquele escritor e palestrante, Roberto Crema, que foi para a França e está com uns monges; deve estar lá há uns dois anos fazendo isso. Mas, não sei se é por aí; não sei. Se seu coração está pedindo por isso, "pau na máquina"! Não sei!
Eu estava lendo nesta semana, um texto sobre isso; quem fazia muito isso, eram os padres do deserto. Através dos padres do deserto é que surgiu o termo "Terapeuta"... Quando eles perceberam a falência do sistema, eles sentiram a necessidade de se retirar para local próximo à cidade.
DP: Próximo!
Out: Próximo à cidade, de fácil acesso, mas que não tivesse aquele contato da cidade, aquela coisa da cidade. E lá, eles construíam "pequenas celas" — inclusive, aquele local que eu lhe indiquei uma vez, a Uniluz...
DP: Uniluz? Está caro!
Out: Lá é baseado nos padres do deserto. Agora, você está me falando que está caro, ai eu já não sei, porque, antigamente, lá não era assim.
DP: Antigamente não era. Quando você me falou, lá estava numa transição... Antigamente você doava o quanto você queria... Agora está entre R$500,00 e R$700,00.
Out: Pra ficar lá o que? Um mês? E trabalhando ainda pra eles?... Legal, em!... Quer dizer que você paga e ainda vai trabalhar pros caras!...
DP: Pois é!
Out: Não tem jeito! O sistema corrompe mesmo!
DP: Corrompe. Porque antigamente eu lembro que lá, um amigo meu falou para mim que era só doar o quanto você queria, não é isso?
Out: Você ia ficar lá e trabalhando lá dentro, se trabalhando.
DP: Já corrompeu.
Out: Através dos trabalhos de lá, se trabalhando... Mas, que seja! Esse local foi baseado na experiência dos padres do deserto. Esses padres do deserto, se retiravam para vivenciar exatamente isso que a gente vive: essa inquietude que nós temos; essa inquietude que é uma inquietude metafísica... Esse vazio existencial!... Essa crise de identificação que a gente tem... Essa crise de identidade; crise de identificação no sentido assim: "Eu não consigo me identificar com nada que está ai, não é?"... Crise de identidade no sentido de você não mais se identificar com nada do que está ai; você não consegue se identificar com o "modelinho" que para trabalhar "tem que" ser assim, que eu "tenho que" ter um carro, que eu "tenho que" estar casado, que eu não sei o que, que eu não sei que lá, que eu "tenho que" ter filhos... Esse "modelinho" todo que é colocado de forma hipnótica na mentalidade de todo mundo. Então, esses caras, esses padres, eles ficavam o dia inteiro — de forma consciente —, e eles davam o nome de "Demônio do meio dia"... "Acídia"... Eles se trancavam na cela, o dia inteiro, só olhando para dentro... Porque não tem silêncio!... Você pode ter silêncio "físico", você pode subir para uma montanha, mas a cabeça ainda está gritando! E você pode estar no meio da torcida do Corinthians, lá, e estar totalmente equilibrado sem ser influenciado pelo movimento louco da torcida, não é? E o que eles faziam? No final do dia, eles se reuniam para jantar juntos. Então, quando eles se sentavam para jantar juntos, falavam sobre tudo o que estava passando na mente, como você está fazendo também agora aqui: "Olha Out, estou pensando em ficar um ano em retiro!" Talvez você precise! Não sei! Só seu ser mesmo é quem pode lhe indicar isso!... Eu sinto que eu preciso de recolhimento, só que meu recolhimento foi dentro da sociedade; é uma coisa muito conversada com a Deca, com a minha companheira... "Olha, nós vamos reduzir — foi traçado todo um plano — vamos reduzir nossas despesas, porque vai entrar menos da minha parte; pra gente poder, pra eu poder me dedicar totalmente à isso,!"... Porque que tenho plena certeza disso, hoje. Uma vez, esse cara que eu citei, o Roberto Crema, ele falou assim: "Na contemporaneidade que estamos vivendo, aquele que não for vocacionado, será um grande escravo do sistema"... Por que isso? Então, eu fiquei meditando sobre isso: é realmente um fato!... Nós não temos nada de criativo... Nós não temos nada de original... Nós não temos nada do Si-mesmo, manifesto... Isso está aí! Em estado dormente! Sufocado por todos esses condicionamentos que a gente tem feito um puta trabalho para se limpar deles. Então, como a gente não teve acesso à isso, não potencializou esses talentos — esses talentos, estão lentos — como a gente não potencializou isso, a gente fica "imitando", "copiando" coisas que a gente acha que talvez podem dar uma amenizada. Só que a gente já chegou a essa conclusão de que não adianta ter uma "puta grana", porque essa "puta grana", não resolve a questão da felicidade, a questão do sentimento de ser livre... pelo contrário; a gente, quando começa a ver a coisa crescer, está entrando dinheiro mas começa a estrutura toda crescer, a gente se sente preso, não aguenta, "chuta o pau da barraca" e vai embora! Então, eu vejo que, realmente precisa ter um processo de interiorização, e quem sabe nesse processo de interiorização, de autoconhecimento, a gente ter um "insight", uma "revelação", que traga qual que é a nossa "real vocação", entendeu? Porque, você sendo um cara vocacionado, você "nunca mais trabalha"... Não tem esforço!... tem alegria e felicidade, de você estar servindo; é diferente! O que a gente faz hoje, é um trabalho escravagista, que rouba uma energia vital ferrada, que não potencializa nada, e que você é só "mais um"... O cara olha para você e diz: "Vendedor de perfume? Está cheio de vendedor de perfume!" Ainda, se você tivesse um "insight" de uma essência completamente diferente que não tem no mercado...
DP: Seria diferente, não é?
Out: É diferente! Seria uma coisa completamente diferente, mas, não temos isso!... Então, a gente é só mais um! Quando a gente é só mais um, o cara que está inserido no sistema, identificado com o sistema, que compreendeu o sistema — em partes ele compreendeu — e usa o sistema de forma egocêntrica, de forma "não-inteligente" — ele olha para você e vê que você é só mais um, ele lhe explora! Você chega vendendo a R$100,00, ele fala: "Pago R$30,00!... Você quer? Não?... Próximo!"... E vai ter outro atrás de você que vai aceitar os R$30,00. Mas, se você tem algo vocacionado, quem sabe a gente... não é? Eu acredito que se você tiver algo profundamente diferente, que seja essencial para o ser humano, está cheio de cara ai que dá o que tiver para ter isso na mão, entendeu?... Alguém que facilite um apontamento com o qual ele possa compreender os seus conflitos, os seus vazios, os seus tédios, essas coisas. Isso ai tem mesmo; você tem isso no mundo corporativo, não tem?... "Não! Para falar sobre perfume, chama o Marcão, cara! Pra falar de perfume, só esse cara, tem que ser ele! Não quero saber! Vai lá!... Aluga apartamento pra ele, põe um carro bom na mão dele, se precisar, pague até a escola dos filhos dele, mas esse cara tem que estar com nós!"... Não é assim na corporação?
DP: Sim!
Out: Então, nisso, é a mesma coisa! Você não vê ai? Krishnamurti não viveu o tempo todo pra cima e pra baixo? Quem você acha que bancava ele?... Os "bacanas" bancavam ele! Não é?... Você pega ai, caras que não tem tanta percepção de mundo, que estão dentro do sistema... Esses padrecos da vida aí, esses padrecos cantor, eles não tem tudo garantido, tudo sustentado?... E estão só repetindo coisas que estão escritas secularmente, não é? Imagina se a gente tiver isso!
Agora, eu acredito que isso não virá se você não tiver uma seriedade — seriedade que eu quero dizer é no sentido de "série", não é? —... Realmente, eu me dedico à isso todo o dia. Como por exemplo, as pessoas tem que ter seriedade no sistema.... Eles não falam? "O cara é um cara sério! Trabalhador! Um cara que se dedica! Dá a vida pela empresa!"... Se a gente também tiver esse processo de seriedade de querer saber: "O que é que eu vim fazer nessa terra? Não é possível que é só vir aqui pra pagar conta e dar dinheiro para os outros"... Se a gente tiver essa seriedade eu acho que a gente vai chegar nessa resposta; agora, eu acho que para isso, eu acho que a gente tem que ter períodos em que você possa estar numa meditação sem essa enorme massa de influência dispersiva que o sistema traz pra você.
DP: Que é a rede do pensamento, não é?
Out: Que é a rede do pensamento!
DP: Que é muito feroz, que é muito poderosa!...
(nesse momento, duas mulheres se sentam duas mesas ao nosso lado, sendo que uma se senta, de pernas abertas, com um micro-shortes jens, voltada para nosso lado)
DP: Não! É impressionante essa coisa da rede do pensamento!... É pra te tirar da coisa mesmo! Tipo assim: você está saindo, está saindo, está saindo, você vai sair... Vem alguma coisa do tipo e tenta "laçar você"!
Out: Isso é direto, cara!
DP: Que louco!
Out: E eu percebo assim: A gente tem que estar atento às pistas que os caras deixar ai, não é? Eles falam; tem um dito popular, um preceito espiritual que fala: "A quem mais é dado..."
DP: Mais é cobrado!
Out: "...mais é cobrado!"... Quanto mais consciência você tem, do processo do pensamento condicionado; quanto mais consciência você tem do movimento da sociedade; quanto mais percepção você tem de como você está sendo influenciado por isso, mais o pensamento "se transveste" e tenta causar esse estado de hipnose, no qual você se identifica e se entrega praquilo... (dirigindo-se para as mulheres como um exemplo influenciante descentralizador)... isso eu tenho percebido direto!
DP: E, você acredita que, por exemplo, ele... É mutante! Você percebeu?
Out: Eu não tenho falado "mutante", mas é uma boa palavra; eu tenho usado a palavra "se transveste"... Ele se transveste! Que eu acho que é aquilo que os caras tentaram mostrar no filme "Matrix", quando o personagem "Smith" entra dentro de um outro corpo...
DP: É exatamente isso! É isso mesmo!
Out: Essa "mutação" que você está falando é esse "transvestir"... Ele só usa roupagem, ele pega uma outra roupagem, ele é uma roupagem e usa outra, e consegue entrar e vem...
DP: parece um computador, não é? Nossa!
Out: Eu vejo isso! Agora assim: também fica muito difícil, de você perceber facetas suas se você não estiver na vida de relação. Se você não tiver influências disso — (referindo-se as mulheres que factualmente davam entrada) —...
DP: Se não olhar pra isso profundamente...
Out: Você nunca vai perceber...
DP: Quem eu sou realmente!
Out: Que você não é imune à essas influências! Agora, uma vez que você percebeu a influência e percebeu ela funcionando, já criou uma imunidade. Agora, se eu trancar lá dentro do "Tibet", se eu me trancar dentro do meu quarto, sem ter nenhuma influência, isso estaria funcionando com o Cristianismo há muito tempo: os padres não se trancam? As freiras não se trancam? Cadê mudança no mundo? Cadê essas pessoas felizes? O que você mais pega quando vai conversar com freiras e padres, é um pessoal amargo, sem graça, xoxo, sem vida!
DP: em energia, não é?
Out: Só sabem falar aquelas decorebas!
DP: É isso mesmo: sem energia!
Out: Não toca a alma de quem tem um pouquinho de percepção, certo?
DP: Sim.
Out: Então, assim: a gente se isolar também...
DP: Não é o caminho!
Out: Não sei!... Pra mim, não é! Já houve um tempo de eu me isolar! Houve momentos que foram profundamente necessários eu sair senão eu iria enlouquecer... Eu sair fora de situações e ficar comigo, entendeu? E se deparar com essa solidão... Eu acho que tudo aponta para isso: para um estado em que você...
DP: Solitude, não é, digamos assim!
Out: É! Isso, isso!
DP: Solitude!
Out: É! vamos colocar solitude ou solidão, tanto faz! Uma cosia que eu venho percebendo é assim: a essência nossa, ela é solitária!... Você vê a criança!... A criança nasce, ela nasce sozinha, ela é solitária! E a gente vem fugindo disso, com incentivo da educação, com incentivo de família e de toda uma cultura, pra você se agrupar, pra você fazer parte e não manter contato com essa solidão, não é? Até assim: a solidão, ela é vista de uma forma perniciosa; em todos os ramos da sociedade, inclusive na arte. Pegue as músicas ai, o que elas falam sobre a solidão... Ela é sempre vista de forma depressiva, não é? penso hoje, que é o caminho do meio... Mas acho que isso só é possível conforme você vai se equilibrando... A coisa vai dando conforme você vai se equilibrando! Que ai, você começa a perceber. Ontem mesmo, a Deca, numa fala dela falou: "É muito fácil você ler Krishnamurti, não é? E aplicar isso quando você não está tendo uns grandes desafios perrenhos ai fora... Agora, você vai ver se isso funciona mesmo quando você está tendo, quando você está sendo desafiado por algum perrenho; ai você vai ver se isso é funcional ou não. Pra mim, no meu momento, não seria viável; talvez, para você, seja viável. Primeiro: eu não faço nenhum tipo de compromisso a longo prazo; então, é uma coisa que eu sempre tive: eu não consigo fazer compromissos a longo prazo!
DP: Eu também não!
Out: Compras muito longas, coisas assim, sabe? Eu quero acabar logo!
DP: Eu não consigo nem pagar!
Out: Quero liquidar tudo rápido!... Então assim: eu não faria algo nessa proposta assim tão longa. Lembra de quando você estava vivendo isso e eu te encontrei, na última vez, eu falei assim pra você: tem lá, por que você não fica uns três meses — três meses eu acho que é um tempo muito bom para você começar a refrescar e sentir o lado intuitivo. Mas, não adianta: você vai ter que voltar, não é? Enfim, eu, eu sinto que o meu momento, hoje, é esse: é aqui no meio da sociedade, tem que frutificar, florescer — não frutificar, mas florescer — onde a grande vida me plantou; ela me plantou aqui na sociedade; eu tenho que ter essa descoberta aqui mesmo! É óbvio que, eu tenho que saber, que eu preciso de momentos de repouso. Do mesmo jeito que eu preciso de momento de repouso físico... Quando você vai dormir você não quer barulho, você não quer interferência de nada. Também preciso de momentos, de repouso psíquico. Quando você vai comer... Quando você vai comer, você não quer ser incomodado; você desliga o celular, tudo, não é? Então, também, para eu me alimentar psiquicamente, eu também não quero ser incomodado. É uma coisa de recarregar as baterias... Mas, no resto, eu tenho que estar em contato, porque é aqui que o "bicho pega"... É aqui que você vê a sua tendência à normose, a sua, sabe...
DP: Sua vontade, os desejos...
Out: Você começa a perceber, olhar o desejo se manifestando, tentando tomar conta do corpo... Você olhar pra ele, do porque, o que é que está atrás dele... Porque é assim: o desejo... é porque você está insatisfeito. Você está insatisfeito, o pensamento começa a buscar alguma forma de prazer, que é desejo... Só que sempre frustra, não é? Sempre frustra! Traz um alívio imediato seguido de frustração ao quadrado. Mas isso, a gente já está careca de saber!
DP: É, percebe!
Out: Agora eu percebo isso é fato: Quanto mais você vai chegando nessa compreensão do movimento interno, mais o bicho ataca ferozmente... Engraçado que parece que até o externo colabora para isso, entendeu? Espreme! Espreme!... As fontes para você conseguir o mínimo necessário para conseguir uma existência digna, parece que também, também espreme! Espreme relações, espreme tudo! Por exemplo: ontem! Ontem eu escrevi um texto, sobre um sentimento que eu estou sentindo muito, que é um sentimento de solidão psíquica. Não física! Porque física, eu nem estou tendo tanto, porque assim, a gente, com essa busca do auto-conhecimento, você começa a ficar um cara mais seletivo, e também um cara mais ponderado no que você vai dizer, então você agride tanto as pessoas e também não permite ser agredido; então, você até tem pessoas em volta de você, só que, essa pessoas, elas estão totalmente enredadas pelo sistema; não tem como você falar nada do que você vive; não tem como você falar nada sobre sua percepção de mundo... Não tem! Você pode até tentar e vai ver que em cinco minutos elas já começam a abrir a boca de sono! Porque aquilo, dá um nó no cérebro delas! Com cinco minutos de conversa, você entra pra uma energia que eles não estão preparados: isso descarrega eles! Então, você não tem feedback!
DP: É por isso que a pessoa quando você está conversando ela fica fugindo: porque ela não tem energia praquilo ainda, não é? Ela não está preparada!
Out: É! Então, você percebe isso, você fala: tenho que ficar em silêncio! E ai, você deixa a pessoa abrir a boca, só que a pessoa vai abrir a boca dentro daquilo que você já viveu lá atrás e que você já viu que é falso: que é a "Outrite"... Que é falar só de fora; só externalizar, ou então, ficar falando das pseudos-conquistas do ego dela...Dos planos, dos idealismos que a gente sabe que vai ser falido! Mais cedo ou mais tarde, vai falir aquilo!
DP: Não tem jeito!
Out: Porque não é do Ser!... É do ego!... E não adianta você querer chegar pra pessoa e querer falar contra que ela vai achar tudo: ela vai achar que você é um cara que está com inveja, que você é um cara falido, menos que você está "apontando pra algo" que faz sentido. Ela não vai nem querer meditar em cima disso que você está falando. Então sobra aquele, fica aquele, fica... Não tem "reverberação": Você joga, mas não tem retorno! Não tem, inclusive, o que tenho percebido, a mínima demonstração de interesse em questionar isso que você está falando... "Não! espera aí! Deixa eu ver o que o Marcão está falando! espera ai!... Mas do que você está falando ai?"... Não tem! A pessoa fica ali olhando pra você, ela está só olhando para você, mas a cabeça dela está pensando num jeito de fugir...
DP: Da conversa!
Out: Dessa conversa, de sair de perto de você... Porque aquilo não interessa pra ela... Porque aquilo não alimenta o ego dela... Ao contrário: isso é um puta de um alfinete! Vai fazendo furinhos e vai murchando. O meu sentimento tem sido um sentimento de solidão psíquica, que eu acho, que é providencial... Pra que? Pra que você também deixe de criar expectativas no externo (que ainda é manifestação do ego)... Já que você não tem mais expectativa no campo material, mas você ainda está tendo expectativa...
DP: No campo espiritual.
Out: Então quer dizer que você ainda está mendigando também! Então, talvez, esse estado, esse
sentimento de solidão psíquica que está surgindo, está sendo um grande professor para levar à um estado de autonomia e centramento.
DP: Real, não é? Que é o Real!
Out: Eu fui viajar neste final de semana para a casa de uns conhecidos, na praia... Por sinal, foi fantástico ter ido pra lá porque deu para enxergar a doença do ser humano... Como o ser humano está doente, como ele está automatizado, como que...
DP: Um androide, não é?
Out: Um androide, sem centro nenhum! Sem centro nenhum! Ele não percebe absolutamente nada; ele não percebe; essa falta de percepção dá sinais claros no corpo físico dele, e também no corpo físico da natureza. Então, foi muito bom ter ido pra lá. Fui pra lá e, olhando tudo isso, olhando as pessoas, conversando com as pessoas, vendo o movimento e vendo o meu próprio movimento, caiu uma ficha muito poderosa pra mim: de um nome, de como a gente simbolizar através de um nome, a doença, a doença básica que dá origem á todas humanas...
DP: A doença básica que dá origem à todas as doenças?
Out: Presta atenção:... "Pensamentose Descentralizante"... "Ose" é doença; do pensamento; ou seja, a doença do pensamento descentralizante... Porque ele tira você do seu centro ai você facilmente sofre as influências do meio. Você, sem centro e, sofrendo as influências do meio, não tem como não ser adulterado; e você sendo adulterado, não tem como você não adulterar também!... Ser um agente...
DP: Do sistema! Um "Smith", "um Cipher", vai!
Out: A pensamentose leva à normose, que leva à neurose, que leva à esclerose e outras "oses" mais.
DP: Entendi!
Out: É óbvio!... Como é que eu posso me ajustar ao "normal" se eu não pensar conforme o normal?... Então, a base da doença é o pensamento mesmo.
DP: A base da doença do ser humano em geral é a identificação com o pensamento...
Out: Lógico! Essa doença que não deixa você ser do Ser, mas passa a ser do ego... funcionar nesse movimento...
DP: Automatizado, não é? Robótico! Androide, não é?
Out: Por que esse sentimento de solidão psíquica?... Porque está faltando centro! Você está apontando pra fora, não tem centro ainda!... Então, eu percebo que o grande lance é ficar...
DP: Observando, não é?
Out: Observando tudo que está ocorrendo em cada situação que vai se apresentando...
DP: Sem julgamentos, não é? Ou tem algum...
Out: Ou percebendo também como a mente está julgando...
DP: Porque eu percebo também a minha mente julgando sempre!
Out: Veja bem: eu acho que a gente precisa separar "julgamento" de "constatação".
DP: Ou de "discernimento", digamos assim.
Out: O julgamento, sempre é postulado pra quem é julgado, uma pena.
DP: Certo!
Out: Constatação, não! Constatação, quem constata é a testemunha... não tem um veredito final da constatação.
DP: É um fato, então, não é?
Out: O julgamento vem sempre com uma coisa de você querer punir... que eu acho que é o movimento inicial, não tem como fugir disso! Você começa a se deparar com isso, você começa a julgar todo mundo e... você fica até com um censo crítico muito ácido.
DP: Muito apurado!
Out: Muito apurado, muito ácido, não é? Maldoso até, tem que tomar muito cuidado... Eu lembro que assim: eu ataquei muito as pessoas com a escrita e com a palavra nesse momento. Mas ai você vai madurando e passa a ser só uma constatação, porque é fato! Contra fatos não tem argumentos!... Você está constatando! É fato mesmo! Te dou um exemplo simples: fui para Caiçara... Lotado!
DP: Onde fica Caiçara?
Out: Depois da Praia Grande, antes de Itanhaém...
Dp: Tá, tá!
Out: Lotado! Sujo pra cacete!... Cara, de cem em cem metros, tem uma boca de esgoto jogando a água pro mar... fedida pra caramba!... E todo mundo entrando na água, cara!... Eu na água lá, pertinho, tudo sujo!, sabe? E todo mundo nadando!... Eu estou julgando? Eu estou constatando um fato! É um fato a falta de consciência do ser humano, que na altura do campeonato, 2013, ainda não chegou para o sistema público e falou: escuta! Como que vocês até agora não pensaram num modo de não jogar essa água onde os banhistas vão estar e dar um jeito de sanear essa água para algum tipo de uso qualquer... "Olha, essa água é só para lavar carro", entendeu? Como é que as pessoas aceitam isso, não brigam por isso, não exigem os seus direitos e, além disso, elas se expõem fisicamente à isso?... É um antro de virose!... De cem em cem metros na praia, aquela poça de merda derretida indo pra água, de urina, e os pais com as criancinhas, com baldinho d'água... O que é que é isso, se não é a falta de centramento, de percepção?... Se você não está centrado, você não está vendo nada... Você não enxerga nada, não vê nada!
DP: Então, e quando o ser, por exemplo, ele não está centrado aqui, nele, ele pode e faz barbaridades, não é isso que você está vendo também? Não é isso que você está conseguindo perceber?
Out: Enquanto tem observador e cosia observada, haverá esforço e conflito... Observador e coisa observada ainda tem condicionamento ai. Você tem um condicionamento sexual... Você está aqui, observa a outra chegando toda condicionada, com o corpinho pintadinho, olhando aqui pra nós...
DP: Eu percebi, eu percebi!
Out: Se não tiver o observador, o que é que acontece? Você tem uma reação baseada lá no prazer, na memória que você teve de algo parecido com essa mulher que te provocou. Então, você esquece tudo "e vai pras cabeças!"... "Só pensa naquilo!"...
DP: Exatamente!
Out: Você vai ter uma reação, que não é ação, que pode te trazer prazer imediato mas que depois, vai te trazer dor de cabeça. Agora, se além desse observador há esse estado de testemunhar o que a coisa observada está gerando nesse observador, criou-se um espaço, que impede essa reação maluca.
DP: Nem tem reação, então!
Out: Você olha, vê, percebe...
DP: Percebe aqui também?
Out: Não nega aqui dentro, não nega aqui dentro...
DP: Não pode negar, não é?
Out: Que afetou, afetou...
DP: Mexeu, não é?
Out: Mexeu... mas ai, a testemunha vem e traz a pergunta: mexeu por que? Qual a natureza exata disso que está tentando te descentralizar?
DP: Por que isso te tira do centro, não é?
Out: É um exemplo! Nós pegamos esse exemplo da mulher ai, que eu sei que mexe bastante pra você, não é?
DP: É, esse negócio da rede é...
Out: E pra mim é assim: que todo esse trabalho, de todos esses tempos e até pela minha idade, parece que vai caindo, a libido parece que vai voltando para o lugar que lhe apetece, entendeu? Mas, não pode dizer que não tem um ser condicionado aqui dentro, que quando está fora do centro, se está desatento, vamos colocar assim, se não está nesse estado de vigilância... "Vigiai e orai sempre!", não é? Porque a gente não teve uma educação pra vigilância de si mesmo... Não teve! Quando você está meio disperso, por causa dessa hipnose do pensamento, essas influências batem, dão um toque e você não percebe. Então, enquanto está só no observador, é uma coisa, mas eu percebo que do observador, você vai começando a ter um estado de testemunha que começa inclusive a observar o observador enquanto...
DP: Tem um terceiro estágio, digamos assim?
Out: cara, eu não sei te nomear isso...
DP: Observador, observado e testemunha, digamos assim?
Out: É! Porque é assim: o observado, está sempre focado fora...
DP: O observador está focado fora!
Out: É! mas, daqui há pouco começa a testemunhar o próprio observador, enquanto observando... E aí também...
DP: A testemunha, digamos assim?
Out: É! Então começa a ampliar ainda mais essa distancia...
DP: Essa consciência?
Out: O centramento, vamos colocar assim; o poder de desidentificação com isso...
DP: Você não se identifica.
Out: A percepção da ilusão que é se entregar pra isso... Que é aquela cena do "Matrix", quando a Trinite vira pro Neo e fala assim — ele quer descer do carro — ela fala: "Não vai descer! Você já foi ai mil vezes antes, você já conhece aonde isso vai dar"... Então ele para, observa e fecha a porta e retoma o processo dele. Então, esse testemunhar ai, do próprio observador... "Não! Isso é falso! Esse valor finito ai, não tem o poder de matar essa sede do Infinito que você tem!"
DP: Exatamente! É isso mesmo! Valor finito, não é, cara?
Out: Então você olha... O cara para com um carrão ao seu lado, o pensamento, de imediato, compara o seu carro com um carro daquele; imediatamente ele vem e coloca que você...
DP: É menos do que o cara!
Out: É menos que o cara! E que você tinha que fazer alguma coisa a mais e etc, etc... E ai você vê o movimento também... mas não entra! Não entra e você fica observando... sem julgar ele... Há uma tomada de consciência do falso.
DP: É! É assim mesmo!
Out: mas, espera ai! Quando você comprou o seu carro, o seu carro era o top! Então, esse carro que você está vendo agora como o top, já já não é mais o top. E, se você entrar nessa, você "top-top"... (risos)
DP: É assim com tudo, é assim com tudo, já reparou? Já percebi já! Faz com a mulher, faz com a tua roupa, com teu tamanho...
Out: Tudo!
DP: Começa a comparar tudo, é uma coisa impressionante! Ele compara tudo e não está nada bom para
você!
Out: Ai, se você não está esperto, o pensamento, pega inclusive esse seu, essa tomada de consciência da observação, e faz uso disso que está observando em você pra criar um conflito de que você... "Pô! Você não muda mesmo! Você isso, você aquilo!" e ai você fica mal. E você fica mal de ver a realidade que precisa ser vista; essa consciência está ai para que veja a falência e o limite desse observador, porque esse observador é isso: ele é inveja, ele é cobiça...
DP: O observador?
Out: É! É o que nós somos!
DP: Ah! O que nós somos, o que essa rede do pensamento tenta colocar que nós somos...
Out: Ou melhor, que nós somos não! Que nós ainda estamos identificados como sendo isso.
DP: porque isso é uma identificação da rede, não é?
Out: Agora, se ocorrer um lastro, dessa testemunha, que ainda está testemunhando, que é isso que os caras falam, "agora vejo em partes, mas depois veremos face a face"... O que também está explicitado no filme "Matrix", quando o Neo senta e olha para o espelho, lembra?
DP: Lembro!
Out: Que ele vê tudo fragmentado e daqui há pouco... Deixa de existir , ele toca e ele passa a ser o espelho! Ele começa a ter uma experiência de não dualidade. Então assim: se tiver um lastro dessa testemunha que supera essa distancia entre observador e coisa observada, quem sabe isso seja o que eles chamam de iluminação, ou fim do conflito.
DP: Ai acaba o conflito por total, não é?
Out: Porque ele vem a toda hora.