Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

16 janeiro 2013

Sobre a cultura de superfície aparente

Talvez, como nunca antes na história da assim chamada "raça humana" — dela, grande parte, de modo totalmente inconsciente, num triste e deplorável estado de ser que beira as raízes do sonambulismo profundo, o qual os mantém num modo acelerado e cabisbaixo —, vê-se o esforço desumano para se adaptar a apenas "subexistir" numa cultura de superfície aparente. Aparentemente, superficialmente, parecemos saudáveis; parecemos felizes; parecemos alegres; parecemos livres; parecemos fraternos; parecemos espiritualmente conscientes; parecemos saber reciclar; parecemos amar; parecemos fortes; parecemos seguros; parecemos belos, parecemos inteligentes, parecemos estar vivos; parecemos saber o que é beleza; parecemos realizados e — o que me parece ser o mais sério nessa tragi-bufa comédia humana —, parecemos acreditar saber o que é a verdade.

Existe um preceito de que, uma mentira repetida muitas vezes, torna-se uma verdade e, no tocante a essa instalada cultura de superfície aparente, isso tornou-se um fato: grandes mentiras são tidas como verdades; grandes ilusões são tidas como realidade; imaturas crenças são tidas como realidade empírica ; desnecessidades são tidas como necessidades; desvalores são tidos como valores; imoralidade é tida como moral; mesmerização de massa é tida por educação; alienação e mediocrização é tido por diversão; desinteressadamente agir em prol do coletivo é ingenuidade, enquanto que buscar por privilégios umbigóides é esperteza.

A hipnose criada por essa cultura de superfície aparente, faz com que entreguemos nossos corpos nas mãos de academias, instituições farmaco-médica-laboratoriais, clínicas de estética, os quais ditam a moda do que é saudável e do que é beleza, moda esta disponível apenas para aqueles que acreditam estar financeiramente estabilizados (ainda que para conseguirem isso, se desestabilizem mental, emocional e fisicamente). Ao nos entregarmos a essa máfia da estética, nos permitimos fazer parte de um lucrativo processo de "mesmerização", de "modelagem", de "colonização corporal", processo esse que nos torna aparentemente iguais no que é estabelecido como ideal e que, ao assim consentirmos, pactuamos de bom grado com o processo de adulteração de nossa natureza real, de nossa originalidade, a qual tem sua beleza própria, única, pessoal e intransferível. A irrefletida aceitação das exigências desse enorme e desfantástico Festival Woodstock das aparências, traz consigo, o roubo da nossa capacidade de percepção da beleza natural, que por sua vez, nos coloca em conflito numa solitária cela formada pelas grossas grades da identificação com a nossa ocasional e momentânea realidade física. Desse modo, encerrados nessa cela, em constante estado de ansiedade e conflito, permanecemos totalmente inconscientes para a chave que nos liberta desse triste confinamento: a percepção da poética beleza noética de nossa realidade atemporal, imaterial, incorpórea.

Outsider

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!