Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

06 maio 2011

A dificuldade de estar no ócio

Death Letter
Caracas! Como é difícil ficar no ócio! Talvez, seja essa a razão pela qual a grande maioria das pessoas busca por tanta atividade acelerada, em grandes centros, longe da beleza ainda não maculada da natureza. Sem dúvida, com essa aceleração, não sobra espaço para se depararem com a inquietute e com a insatisfação diante da mesmice operante.

E eu, solitariamente, em meio ao ócio, fico caçando algo que me faça sentido... Um texto, uma letra, uma foto, um livro, um filme... Inútil! Não acho nada que já não esteja contido na mesmice. É um saco! Só me deparo com uma enxurrada de discussões sobre política, futebol e pseudo-achismos que não levam a nada. Não encontro conteúdo, tudo me é um porre. 

Não é nada fácil,  nesta sociedade de contentes tecnologizados, encontrar por um eco de real inquietude... Não encontro números inteiros, apenas uma infinidade de pares de desgastadas crenças. Com certeza, deve faltar alguma válvula em mim, algum neurônio ou cromossomo deve ter saído com defeito. Parece que a grande maioria some diante de um pouco que seja de abertura e intimidade. Parecem ter medo... Sei lá!... Medo de que suas zonas de conforto sejam expostas, escancaradas, que as mentiras que contam para si mesmas, saltem diante de seus olhos com a mesma claridade do sol. Talvez, por isso, evitam se aprofundar no conteúdo dessas questões existenciais. Elas me tem ou como uma ameaça, ou como alguém a ser sutilmente desprezado por não apresentar nada com o qual possam beneficiar seu modo egocentrado de estar no mundo. Não há espaço para conversas de alto-nível, somente para discussões sobre questões nada relevantes. Não há parâmetros similares que causem uma fraternal propulsão de consciência. Sempre as mesmas certezas dotadas de profunda ingenuidade. Preferem contatos virtuais que não causam desafio e que não coloquem em risco suas paixões causadoras de ações e escolhas sempre equivocadas. É preferido qualquer conhecido midiático que avalize uma mentira que se torna uma verdade imediata do que meu rejeitado olhar questionador. Como ninguém quer saber de uma nova realidade libertadora, permaneço em solidão. 

Em minhas buscas, o que mais encontro é uma infinidade de textos e conversas repletas de certezas, sem espaço para questionamentos causadores de salutares implosões. É um verdadeiro espetáculo de castelos de cartas marcadas e trabalho escravo, reafirmados pelos paladinos da religião e a liga da justiça consumista divina proliferando dizeres seculares repletos de certezas não questionadas. Não se dão conta de que a certeza é que é a expressão maior do tolo e por falta dessa consciência vivem dando murro em ponta de faca e, o pior de tudo, tentando infantilmente esconder as cicatrizes deixados por tais murros. 

Mas, com certeza, o problema está no freguês aqui, que não consegue ficar bem em meio ao ócio, que não consegue se sentar com a inquietude sem palavras e motivos. 

E em meio ao inquietante ócio, em solidão constato que, com bases erradas, escravidão sem fim para as presas fáceis do relógio consumista. Sem o ócio e a solidão, nunca se desfaz o castelo de ilusões da moda.

Em vista disso, fazer o que? Permanecer solitário em meu ócio... Afinal, antes só do que acompanhado de pessoas com seus plágiados assuntos que em nada somam para a formação da consciência humana. Sou exigente: os meus pares, tem que ser impares.

Nelson Jonas

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!