Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

28 agosto 2015

Percepções no café da tarde

Durante muitos anos, enquanto identificados com os valores da mente adquirida, fizemos nossas escolhas, com bases nesses valores. Em algumas dessas escolhas, até chegamos a viver a euforia proporcionada pela ideia de sucesso, mas, se formos minuciosamente honestos, veremos que, em grande parte, ao contrário da euforia, nossas escolhas nos enchiam de tédio, insatisfação, inadequação, vazio e total falta de sentido (o que tentávamos esconder tanto de nós, como dos demais que também se viam envolvidos com tais escolhas inconscientes e inconsequentes). Isso produzia um enorme desperdício de energia, a qual tentávamos amenizar através de alguma forma de busca de prazer imediato (o que quase sempre redundava em mais vazio). Apesar do aparente sucesso, sempre permanecia o sentimento interno — e quase sempre abafado — de que éramos uma farsa, que vivíamos uma farsa. Apesar de imensamente dolorosa, a crise iniciática trouxe consigo, além da dor, a possibilidade de relaxar diante desse sentimento de farsa. Ela também possibilitou a coragem necessária para começar a descascar esse imenso abacaxi que foi o fruto ácido da identificação com os conteúdos da mente adquirida. Várias relações começaram a cair por terra. Várias situações começaram a cair por terra.

E um imenso vazio, um imenso deserto foi se apresentando juntamente com o real.

O maior conflito, talvez, nesse período, foi conseguir fazer frente as profundas necessidades mais intrínsecas e as contínuas exigências descabidas dos sistema e de seus defensores mais próximos a nós (parentes, amigos e pessoas significativas)

A percepção foi aumentando e, com ela, foi se tornando cada vez mais clara a total falta de sentido de muitas das situações em que ainda nos víamos de alguma forma atrelados.

Essa abertura do olhar apresentou consigo uma clareza diante da falta de sentido em desperdiçar energia em várias atividades que o meio nos apresentava.

E, em contrapartida, o meio que de alguma forma mantinha uma relação codependente conosco, investiu forte contra nossa decisão de afastamento dessas situações.

Esse é de fato um momento bastante difícil para todo aquele que sofre o batismo da crise iniciática.
Não possuímos a clareza e nem a firmeza diante desse novo modo de ser, e isso torna bastante difícil a comunicação com os demais quanto aquilo que interiormente vivenciamos.

A duras penas, percebemos que, na maior parte dos casos, o silêncio é a única língua que podemos aplicar, o que faz com que isso arranhe ainda mais a imagem que criam a respeito de nós. (Aqui a imagem ainda tem muita força sobre nós)

A busca de segurança psicológica e material — torna-se uma forte exigência da mente adquirida.

O que acaba por sua vez, se mostrando como uma fonte de inesgotável ansiedade e conflito.

Leva um bom tempo para ligarmos o botão do "foda-se", tanto para as vozes da mente adquirida, como dos demais que insistem em mostrar como deveríamos viver a vida que nos foi dada.

Mas quando descobrimos esse botão, esse sagrado botão, muitas das exigências anteriores também acabam caindo por terra.

Talvez, aqui, é quando, pela primeira vez, tomamos a Vida em nossas mãos...

Começamos a nos permitir o espaço necessário, o tempo necessário, o repouso necessário...
começamos a ficar mais com o agora e, ao mesmo tempo, percebendo todo movimento da mente tentando criar as projeções quanto um futuro de penúria, sem que ocorra de modo algum, qualquer forma de identificação com essas projeções.

Começamos a perceber que o nosso lugar no mundo, não tem nada a ver com a precisão de uma escolha profissional.

As coisa vão ficando mais leves, ao ponto de se conseguir rir das várias tentativas de ataque por parte da mente adquirida. Começamos a perceber também que, independente de nossos esforços, aquilo que nos é necessário vai se apresentando de forma providencial.

Essas são algumas das percepções que ocorrem durante o processo. De momento em momento, mais vai sendo revelado e nisso, peles da mente serpentina vão ficando pela estrada.

Outsider

Gostou? Então compartilhe!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!