Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

08 setembro 2010

Sobre a observação sem escolha


Caro amigo de caminhada, espero que você esteja vivendo bons momentos!
Gostaria de compartilhar com você um pouco do que estou vivenciando nestas minhas últimas 24 horas, com relação a meditação de observar os movimentos da mente com todos os seus impulsos reacionais, os quais me causaram muitos desconfortos durante tantos e tantos anos pelo simples fato de desconhecer tal movimento e por estar 100% identificado com aquilo que passava em minha mente, como sendo eu. É uma maravilha saber que NÃO SOU MINHA MENTE, mas sim, esse estado de ser que a tudo observa, dentro e fora, que observa as reações mentais e físicas, ao que está ocorrendo de momento a momento. É impressionante observar a aceleração dos movimentos do pensamento, sua seqüência ilógica, suas sugestões, seus medos, suas necessidades de aprovação, de prestígio, de aceitação, suas projeções quase sempre negativas com um futuro sombrio, bem como a letargia corporal que o mesmo tenta instalar em nosso corpo. Perceber como o pensamento faz uso de nossa memória, como faz uso dos acontecimentos passados sugerindo a repetição dolorosa e como o pensamento dispara uma série de rápidas sugestões que só tem o poder de causar mais caos ao já instalado. Tenho percebido que a mente não suporta ser observada, pois na observação pura, ou seja, na observação onde não há escolha ou julgamento do que está sendo observado, não ocorre qualquer tipo de identificação e sem a identificação, a mente, o pensamento, perde seu poder de criar mais e mais conflito. O pensamento se alimenta da identificação conflituosa e a observação mina sua fonte de alimento. Meu amigo, por favor, não acredite em mim, não fique com as minhas palavras, com a minha experiência. Eu lhe desafio a ver por si mesmo, pois a experiência precisa ser sua. Você precisa "conhecer essa Verdade, pois é ela que pode lhe libertar das fortes garras do pensamento".
Sabe, preciso deixar claro que esse não é um processo fácil, indolor. A mente tem um poder descomunal de nos confundir, de fazer com que nos identifiquemos com ela, de nos incentivar a sair falando tudo o que vemos e sentimos. Isso é um dos nossos maiores VÍCIOS: falar. Mas é preciso ter em mente que a palavra É PENSAMENTO e quando fazemos uso da palavra - que é pensamento -, alimentamos o pensamento, principalmente por que nosso ouvinte quase sempre também é um viciado em falar e dispara seus "achismos" que nada tem a ver com nossa realidade interna. Aí, quase sempre, incentivados pela influência de terceiros, disparamos nossas reações neuróticas que nos afastam mais e mais da morte de nosso velho ego, nos enclausurando cada vez mais numa vida sem a presença do amor. É triste perceber a realidade de que, apesar da idade, ainda não sabemos o que é amor. É natural a mente se rebelar diante desta afirmativa e procurar logo justificar nossos relacionamentos, rotulando-os de amor: amor de pai, de mãe, amor pela pátria e por aí vai. Mas o fato é que nada disso do que a mente escrava da lógica e da razão chama de amor, tem a ver com o amor. O amor ainda é apenas uma palavra para nós, uma idéia. Não sabemos em cada uma de nossas células a respeito de seu poder. E não vejo como isso possa acontecer enquanto somos escravos de nossa mente, de nosso pensamento, de nosso refinado egoísmo. É triste perceber que na realidade somos todos hipócritas (perceba como sua mente reage a esta afirmação). Nosso egoísmo é refinado; vivemos apenas para nossos míseros projetos, para nosso sustento e nossas idéias de conquistas através das quais "pensamos" que seremos felizes. Vivemos vidas apressadas, sempre correndo sem saber para que. Nossa mente lógica, racional é quem sustenta tanta pressa que não leva a nada. Mal se alcançou algo a mente já estipula outro algo e com isso, perdemos a capacidade de desfrutar do poder do ócio. Sem o ócio não há como se observar nada, não há como se questionar nada, não há como se perceber nada e sem essa percepção, perpetuamos esse modo egoísta e superficial de viver e se relacionar (se é que podemos chamar de relacionamento os nossos relacionamentos). É a nossa mente que nos mantém sempre ocupados, atarefados, nos impedindo de nos sentarmos e apenas ser observadores. Nossa mente, nosso pensamento sempre faz uso da lógica e da razão para justificar nossas tarefas nem sempre tão necessárias. Com isso deixamos de perceber que postergamos o essencial, o qualitativo. É essa mente lógica, racional que nos mantém apressados, estressados, ansiosos, vitimados por medos inconscientes. Que nos faz falar demais e sempre de modo superficial. E quase ninguém se percebe disso por que todos estão presos na mesma rede de pensamentos coletivos. E como nossos assuntos não são nutritivos, em nossos "encontros físicos", inconscientemente tentamos torná-los nutritivos a base de muita comida, bebidas e doces e, quase sempre, ao final dos mesmos, por não ocorrer um "verdadeiro encontro", nos sentimos enfastiados. Isso nos faz fugir novamente para a solidão, onde tentamos repor toda energia gasta de forma inconsciente através duma sequencia de palavras vazias. E o que nos salva momentaneamente desse palavrório vazio? A televisão! Você percebe isso? Passamos horas fisicamente juntos, mas, emocionalmente sempre distantes. Falamos de tudo que é nada e nada do que é tudo! Por que insistimos nesse jogo que nos mantém sempre distantes de nós mesmos e dos outros? Por que não paramos para observar! E sem a observação, não há como trazer qualidade para nossa vida, seja pessoal como a vida de relação. É isso que venho percebendo. Fico me questionando se é possível um modo de ser onde essa observação é automática, sem esforço, sem uma prática. Você não se esforça para respirar, não pratica a respiração. Por que o mesmo não pode se dar com a observação de nossa mente? Você não escolhe como respirar, não julga sua respiração. Por que o mesmo não pode ocorrer com o processo de observação dos conteúdos de nossa mente? Observar as ondas de ansiedade sem causa que ocorrem em nosso corpo. Observá-la até que a mesma revele sua natureza exata e deixar que a própria observação a queime por completo sem reação de nossa parte. Observar como a mente pede por uma reação, por uma atitude, uma ação. Mas só observar sem nada fazer. E indo um pouquinho mais longe, observar quem está por detrás daquele que a tudo observa... Já sei, a mente reagiu dizendo que isso é muita viagem... Para mim, viagem é continuar cedendo aos seus impulsos... É exatamente isso que a mente quer, que você continue a ceder aos seus impulsos... Afinal, o que será dela se você não mais se identificar com ela? Será possível a descoberta de um modo de ser gerenciado pelo amor enquanto nos identificamos com nossa mente mesquinha, egoísta, dependente, medrosa, preconceituosa, desconfiada e presa fácil de certezas emprestadas? Não creio ser possível saber o que de fato é o amor enquanto insistirmos em seguir nos identificando com aquilo que passa de forma mecânica e acelerada em nossa mente. Não creio ser possível a descoberta de um modo de vida livre do medo enquanto nos identificarmos com os conteúdos de nossos pensamentos. E não vejo outro modo de se conseguir tamanha beleza a não ser por meio de uma observação sem escolhas.
Pois bem, meu amigo, hora de parar por aqui. Espero ter conseguido através da limitação das palavras, compartilhar com você, um pouco do que venho em mim observando.
Um forte abraço fraterno,
Seu amigo Nelson

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!