• Começamos a ter consciência do deserto quando percebemos não conseguir, depois da crise iniciática, recuperar o anterior estado de equilíbrio normótico.
• As falas das pessoas e dos locais onde buscamos por respostas para o nosso desconhecido estado de confusão, se mostram secas e áridas; não saciam nossa sede.
• Se olharmos com radical honestidade, veremos que o deserto sempre esteve presente em nossa vida, com suas pequenas dunas de tédio, vazio e insatisfação.
• Tentávamos, de modo inconsciente, matar nossa sede com as miragens das distrações, o que era equivalente a tentar matar a sede com água quente com sal.
• Em meio do nosso deserto iniciático, nos deparamos com alguns mestres e escolas, os quais acabam funcionando como um oásis de consciência, um poço de sabedoria.
• Nesse oásis momentâneo, recuperamos nossas forças para seguir nossa jornada de autoconhecimento, na qual dunas maiores de deserto nos serão apresentados conforme nosso estado de prontificação.
• Nessas novas dunas, são trabalhados nossos músculos conscienciais.
• O Deserto se amplia com a percepção da natureza adoentada, pela qual foram formadas nossas reações, nossos hábitos, nossos hobbies, nossa profissão, nossa visão de mundo, nossa auto-imagem, nossas crenças e conceitos e nosso variado modo de fugir da dor.
• O deserto vai se ampliando cada vez mais, com a influência da incompreensão e do ostracismo por parte dos que nos são psicologicamente significativos. O deserto fica ainda maior, quando descobrimos que estes nos são significativos, não porque os amamos, mas sim, por causa do nosso interesse autocentrado.
• Quanto maior a compreensão de nossas ilusões, maiores as dunas do deserto.
• No deserto somos tentados a voltar à prática de comportamentos que nos prometem pelo imediato prazer momentâneo.
• Quanto mais avançamos, maior se torna o deserto: os dizeres dos mestres e escolas não mais nos saciam; as falas dos amigos evolutivos deixam de ser nutritivas; desaparecem as manifestações dos momentos de “refrigério consciencial”; instala-se a dúvida e o sentimento de que não valeu nada o nosso caminhar.
• A inquietude é vivenciada de forma extremamente consciente, de forma limpa, fazendo com que o vazio se mostre como intransponível.
• Não encontramos ressonância e reverberação em nada, em ninguém. Tudo se mostra escuridão.
• É um momento em que, se não estamos atentos, afundamos nas areias movediças do observador-ácido ou do observador-melancólico.
• Esse deserto se alastra para as nossas relações; tudo é deserto quando nos falta a água do amor no cantil do coração que somos.
• Nesse momento, os fortes ventos do imaginal nos enchem de medo e ansiedade, enquanto os abutres da depressão e das ideias de suicídio, de contínuo, pairam sobre nossa mente e espírito.
• O deserto se mostra o Getsêmani da mente adquirida.
• Instala-se uma emergência espiritual, a qual clama por um impulso interno, através da qual toda ação, todo contato, toda forma de relacionamento possa ser sentido com real sentido; é uma emergência pela manifestação do vocacional.
• Nesse deserto, ocorre também uma forte alergia à qualquer tipo de frase com base conformista ou à qualquer forma de explicação com entonação professoral ou por disputas notoriamente alicerçadas no intelecto e na necessidade de autopromoção livresca.
• Apesar da dor da solidão, se faz preferível com ela ficar a dedicar tempo e energia com mentes autocentradas, inconscientes de que são prisioneiras da lógica, da razão ou da tradição, notoriamente aguçadas com o conteúdo apropriado de terceiros.
• Nesse deserto é que desenvolvemos olhos que veem e ouvidos que escutam; é que percebemos o quanto que fomos forçados a viver de forma totalmente invertida; percebemos que não nascemos para o trabalho, mas sim, o trabalho é que tem que nascer através de nós. Nesse deserto percebemos que o trabalho cuja natureza primordial está apenas em levantar dinheiro, ou então a busca da promoção pessoal, inevitavelmente se mostra um deserto, do qual, mais cedo ou mais tarde, dele, desertamos.
• A duras penas percebemos que no deserto, de nada vale carregar na mochila o impulso para a autopiedade, o vitimismo e o desabafo.
Outsider
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