Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

02 abril 2014

A mente adquirida impede o Vazio pleno



É interessante, já há um bom tempo que venho resgatando essa questão do olhar noético, do olhar poético; não essa questão de poesia romântica, não é, mas aquilo que está por trás das palavras do poeta e, às vezes, fico questionando se o poeta ao escrever aquilo, se ele realmente está escrevendo na dimensão noética, ou nessa dimensão poética, essa coisa do romantismo.

Acordei pela manhã meditando,  não sei, talvez alguns aqui devem conhecê-la, a Isolda (ela escrevia muito pro Roberto Carlos; são fantásticas as letras dela), com uma música do Roberto, com certeza vocês já ouviram a música, "Outra vez" —; vocês se lembram dessa música? A correlação que fiz com ela, quando você a escuta pelo mito romântico, parece que o cara está falando da mulher, uma relação homem e mulher.  Olho pra essa letra numa questão de "animus e anima"; essa coisa do toque da Graça,  o contato com a "Graça", o contato com o "Inusitado", o contato com o "Inefável", o contato com "A Coisa", o contato com o "Espírito Santo", seja lá o nome que você quiser dar pra isso;  o contato daquilo que está além da "mente adquirida".

Pra quem não viveu isso, acaba soando como algo místico; pra quem já viveu uma amostra grátis disso aí, desse despertar que vai além da questão intelectual, mas sim de uma vivência direta de um estado inusitado, de um estado que está além daquilo que a mente adquirida conhece, então soa muito interessante? Eu estava meditando na letra, e ela fala assim:

"Você foi o maior dos meus casos, 
de todos os abraços o que eu nunca esqueci. 
Você foi dos amores que eu tive 
o mais complicado 
e o mais simples para mim.”

E é bem isso:  o mais complicado porque, na minha vivência, isso ocorreu num momento em que quase estava realmente me entregando ao suicídio; não havia sequer, a ideia da possibilidade disso que trouxe um "estado de bem aventurança", um estado de paz que não tem como ser colocado em palavras... Mas que nunca esqueci! Sendo que os outros abraços aí, aqueles da questão do prazer, não dá pra lembrar de todos, não é? Mas esse aí, esse da bem-aventurança, esse não tem como se esquecer!

Então é assim: das lembranças que eu trago na vida essa é a saudade que eu gosto de ter? E só assim é que eu sinto "você" bem perto de mim, "outra vez!" Não sei se vocês lembram dessa letra, mas ela me faz ecoar bastante essa questão de se é possível ou não a mente silenciar; que é uma das coisas que a maioria desses homens e mulheres que vem tentando apontar um outro modo de viver, dizem que só é possível isso, quando a mente cessa, quando pensamentos cessam; se o pensamento não cessar, não há como ocorrer isso, e, de fato,  nessa vivência direta, não há pensamento. É algo que a mente adquirida não consegue nem conceber o que seja uma mente sem pensamento. É algo muito, muito, mas louco!

Tem uma outra letra da Isolda em que ela fala:

"Você foi a melhor coisa que eu tive, 
mas o pior também minha vida; 
você foi amanhecer cheio de luz e de calor 
e ao anoitecer a tempestade a dor."

Então, quando ocorre essa manifestação da Graça, quando ocorre essa manifestação da mente que vai além da mente adquirida, essa mente incondicionada,  é "o amanhecer cheio de luzes e de calor!" E, quando há o cessar disso, "desse estado", é "anoitecer" novamente, não é? E, então, novamente, lá está o anoitecer, a tempestade e a dor... De novo o pretérito imperfeito com sua busca de prazer e de prazer imediato.

Então, uma vez que você tenha essa vivência que lhe ponta pra "Algo" de uma dimensão de felicidade, de paz, de serenidade, de tranquilidade e que não tem como ser descrita, essa vivência supera — não há como se contabilizar isso —, mas ela supera por demais qualquer forma de prazer; qualquer forma de busca de segurança. E essa mente adquirida, ela funciona, o tempo todo, somente nisso: na busca de segurança, na busca de prazer. Não acredite no que estou falando; dê uma olhada aí; vai olhando, vai vendo se o nosso cotidiano, não funciona sempre através dessas duas moedas correntes, nesses dois lados da moeda; moeda muito cara por sinal, não é mesmo? Moeda que vem trazendo uma depressão emocional econômica muito grande, não é?... De um lado, a busca de segurança, do outro, a busca do prazer — e sabemos o quanto que já pagamos por causa disso, não é mesmo? Todos vocês aí, sabem muito bem, o quanto que já pagamos por isso!

Então, esse processo dessa vivência, quando ocorre essa vivência, essa manifestação, que é algo que não ocorre pela ação do desejo, não ocorre pela busca de prazer, não ocorre pela vontade, não ocorre pelo esforço, por isso que é dado o nome de "Graça"; quando há essa vivência da Graça, por menor que seja essa vivência, ela tira a graça por completo de todo o pacote velho, de todo o passado, de todo pretérito imperfeito, tira tudo isso! Só que, quando cai, quando você cai desse estado de graça, a mente adquirida rapidinho entra, e, como não sabe lidar com a inquietude — porque nunca tivemos uma educação psíquica, nunca tivemos uma educação, de fato, emocional, não tivemos uma cultura voltada para o silêncio, para a contemplação, para a meditação, par a observação da própria inquietude; não tivemos uma cultura e uma educação voltada para prática "natural" de estados de ócio onde se pode encarar e fazer frente ao tédio; como não tivemos e não temos isso, a mente adquirida, alimenta ainda mais o seu ciclo vicioso de busca de prazer e segurança. E sabemos muito bem, como que funciona essa coisa do prazer, não é? Somos catedráticos nesse teorema: [Inquietude + Prazer imediato = dor ao quadrado], não é mesmo? E vai aumentando essa coisa: vai pra dor ao cubo e vamos que vamos!

Então, por que é que estou falando isso? Porque assim: ultimamente venho olhando bastante de frente pra questão do tédio, da insatisfação, e do vazio; que é algo que deveríamos ter matérias na escola, e deveríamos ter horas de conversa depois do jantar, ou depois do almoço de domingo; ao invés de ficarmos falando dos outros, deveríamos, desde pequeno, estar falando sobre isso, sobre tédio; coisa do tipo: "E aí, Tio? E aí, Tia? Como é que ambos estão lidando com o tédio, com a insatisfação?" Não é? Deveria ser normal isso, mas não temos isso, temos? Então, ultimamente, venho olhando bastante pra isso e pela primeira vez, de forma muito consciente, feito cobaia mesmo! Uma cobaia! E percebendo o forte impulso — fortemente alimentado pelas ferramentas sociais — para as enormes variantes de fuga pelo prazer. 

É preciso ir mais fundo na no significado da palavra "prazer"... Não sei se para vocês, também ocorre como na cabeça deste que agora lhes escreve: quando se fala em "prazer", logo é a lembrança do sexo que vem na frente... Mas prazer é uma coisa muito abrangente, não é mesmo? E a sociedade incentiva a busca pelo prazer; muito mais a busca do prazer do que da própria felicidade. Vocês podem conferir isso: ligue sua televisão; não se está mostrando propagandas de felicidade., mas sim, propagandas que apontam para a busca de prazer e de segurança. Já perceberam isso? Liga-se a televisão, e um massacrante bombardeio de propragandas, de "programas" (esta me parece a palavra mais correta) cultuando a busca de prazer e de segurança, sendo ambos confundidos por felicidade... É uma verdadeira idolatria narcísica-hedonista. 

Em todo esse movimento de anos aí de busca, essa consciência foi sendo resgatada e vem tomando seu espaço, o qual antes era ocupado pela mente adquirida, com seus sistemas de crença, suas tradições e seus autocentrados movimentos? Todo esse caminhar, que começou lá nos grupos anônimos, vem trazendo, vem resgatando esse espaço da Consciência. E uma vez consciente, fica muito difícil, de se optar novamente pela inconsciência, sem depois ficar com o barulho maior na consciência. E de fato, com o assentamento da consciência, vai ficando muito difícil de se ver Graça, naquilo em que antes se via graça e que depois que nos entregávamos, só gerava mais desgraça! Muito louco isso, não é? A mente adquirida faz você ver graça onde não tem graça; você se entrega à isso, mesmo sabendo que o resultado será mais acúmulo de desgraça! Então, há que se ir batendo a cabeça uma, duas, três... Parece que somos mesmo como fusquinha 64: só pegamos no tranco! O pensador compulsivo, esse que fica identificado com essa mente adquirida, parece fusquinha 64: só pega no tranco! Já sabemos do falso, mas insistimos em lá voltar, não é? Sempre buscando por resultado diferente na mesmice! Então, vai formando essa consciência que vai quebrando o encantamento por essas promessas de prazer e de segurança. Porque começa-se a perceber o quanto nos consumimos para poder consumir um pouco mais de breves momentos de prazer. 

Então, esse estado de consciência, para a mente adquirida, é de fato, muito perigoso mesmo! Porque esse paradigma, esse material que temos aí, que vem sendo dividindo, que estamos estudando juntos, ele vai arrancando a identificação com todos esses conceitos, com todos esses estipulados sociais aí, que prometem por segurança e por prazer; isso vai perdendo a graça, vai desencantando, vai quebrando o encantamento, não é mesmo? Esse paradigma vai quebrando o encantamento e fazendo com que nos sintamos como um peixe fora d'água; isso porque a grande maioria em volta de nós, de forma totalmente inconsciente, se encontram cativos de tal encantamento! E você, não por escolha, mas talvez porque foi escolhido por essa Graça, que teve a graça do despertar e de abrir os olhos, não tem mais como voltar atrás: só cabe seguir a trilha menos percorrida, feito Bandeirante da Consciência que somos. Chega um momento que fica bastante doloroso, porque, olha-se para fora e nada mais faz sentido... Nada mais faz sentir. O que está vibrando aí fora, nada mais dá liga, nada mais dá contato; tudo se mostra muito desconexo, sem conexão alguma. E para a mente adquirida, ouvir isso, pode assustar ou achar que é loucura ou que isso é sintoma de doença; quando, na realidade, não é: isso é um sair fora da sociedade; é um descartar total da sociedade; de tudo aquilo que antes você via como fator de segurança, a começar pela ideia de família... E isso causa um rebuliço incrível dentro da mente adquirida, quando tocou na expressão família... Porque pode ver que a própria questão da família é a base de prazer e segurança... Prazer e segurança! Prazer alimentar!

Essa questão do prazer é muito interessante: Dá uma olhada que a gente foge desse vazio e do tédio sempre por alguma forma de prazer: é o cafezinho, é o livro, é uma compra, é o prazer de disputar alguma ideia intelectual com alguém no facebook, ou sei lá onde; disputar num balcão de padaria uma ideia... É tudo prazer! A leitura de um livro... É tudo prazer! Só que é um prazer que não traz essa "real felicidade"; não traz esse "real despertar"; não traz! Na questão do livro, acho até interessante, não é, porque ele e acaba funcionando de um jeito.. dependendo do que você vai lendo, isso vai, vai trazendo até mais consciência; então vai ampliando, não tem como não ampliar o tédio e a insatisfação diante do que está aí estipulado. Essa busca — por esse reencontro consigo mesmo, aí — por essa retomada da Consciência, ou por esse saltar fora do que está aí que já não tá dando mais liga, isso vai levando, de fato, pra um estado total de tédio, de vazio, de solidão; e é uma solidão que acaba sendo física e mental, uma solidão interna mesmo! Porque como foi hoje colocado...achei muito interessante a fala do "Semeu" hoje, não é? Realmente você encontra as pessoas cada um num momento desse paradigma; se isso ocorre aqui dentro da sala, imagina aí fora. Então, realmente fica muito difícil de você poder se comunicar, ou seja, ter um "ar comum", visto que a grande maioria nem sonha em olhar pra isso! Visto que a grande maioria está completamente identificada como sendo o pensamento, como sendo as emoções, como sendo os sentimentos, tendo como "normal" e como meta de vida a busca de segurança e a busca de prazer. Como é que você que já percebeu tudo isso, que já lhe foi revelado a falsidade disso, pode encontrar conexão, sendo que a maioria cultua isso, de uma forma visceral, vinte e quatro horas por dia?... Nos sonhos acordados e nos sonhos enquanto estão dormindo! Percebe?

E aí eu vejo que é muito interessante que realmente esse tédio, essa solidão, esse vazio, eles são fundamentais até pra ver a seriedade da sua paixão, não é? Dessa sua busca, desse seu desejo por algo que não é finito, por algo que não é finito. E é muito interessante que se você for olhar a história de todos esses caras,  todos esses caras, todos, todos... pode ir lá e não acredita no que eu estou falando, não; vai lá e faz uma pesquisa!... Todos esses caras que trouxeram alguma coisa, que alimentou essa Consciência Amorosa Integrativa no ser humano, na humanidade, todos eles vieram se movimentar na direção disso, através de uma profunda insatisfação, de um profundo o tédio, de uma profunda experiência de absurdo que fez com que começasse a questionar todos esses valores estipulados, que começasse a questionar tudo isso que é tido por normal. E todos esses caras acabaram ficando literalmente sozinhos, no que diz a compreensão daquilo que chegou, pela ação dessa Graça ou do "Insight Criativo", seja lá o nome que você preferir dar. E o que a gente vem percebendo é que realmente não tem como isso se manifestar enquanto você ainda está apegado a qualquer forma de identificação nessa ideia de segurança e de prazer.

Está sendo muito interessante observar essa dinâmica do tédio, da insatisfação e do vazio; como que a mente adquirida, essa mente que ainda está aqui no "Out" também, como que ela, quando começa a se manifestar na maior intensidade, o tédio, a insatisfação e o vazio, ela impede que esse vazio se torne pleno; que seja um vazio pleno; e pra impedir que esse vazio se torne pleno, ela opta sempre com uma sugestão desse pretérito imperfeito; ela traz sempre uma lembrança de algo que lá atrás lhe trouxe prazer e pede pra que você vá até lá, de novo, naquilo, e tenha um pouco de prazer, afinal de contas, todo mundo fala que é importante ter prazer: "Você está perdendo a vida se você não tiver prazer"... E aquele que não perder sua vida... Teve um cara que já passou aí...  "Quem quiser perder a vida em nome da Verdade vá ganhar a sua vida!"... agora, quem quiser, ficar com o prazer vai perder essa verdade, vai perder! Então é muito interessante perceber como que a mente sempre puxa pra essas lembranças de prazer e de busca de segurança e como ela também projeta imediatamente um movimento de você ou encontrar algo parecido àquele prazer do passado ou buscar por uma nova forma de prazer, por uma nova forma de segurança... Pra você ficar "segurando"... Olha pra palavra "segurança": a gente quer ficar preso, não quer ficar livre; a gente fala que quer liberdade, mas eu quero segurança, eu quero ficar me segurando em alguma coisa; não é? Eu quero me segurar até numa sala no Paltalk, que seja! Eu não quero ficar livre, não é?

Está sendo muito interessante, apesar de ser algo bastante dolorido: ficar com essa questão do tédio, que é uma coisa que também é muito interessante... Você entra na internet e procura assim, vê se você acha: "um relato pessoal da vivência do tédio"... "relato pessoal da vivência da solidão"... Cara, você não acha isso! Você acha mil receitas de como se iluminar com um mínimo esforço mas você não vê ninguém relatando essa coisa de ser afrontar, não é? Esse reparar, essa reparação, essa meditação ali consciente com o tédio, com o movimento do tédio, da insatisfação, e do vazio. Então, vamos que vamos! Vamos ver o que vai dar disso daí! Um grande abraço pra vocês, gente!

Valeu!

Outsider


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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!