Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

06 fevereiro 2014

O papel da disciplina na verdadeira espiritualidade


Pode-se perguntar: a disciplina não tem lugar na verdadeira espiritualidade? A vida espiritual é uma vida indisciplinada? Se for, não resultaria em desperdício de nossas energias? E a energia não é necessária para viver a vida espiritual? Parece muito claro que o desperdício de energia deve ser eliminado em TODOS OS NÍVEIS, o que indica que a energia DEVE SER CONSERVADA. Além disso, precisamos conhecer o segredo da renovação de nossa energia se quisermos avançar na direção das expressões criativas da vida espiritual.
É bastante óbvio que a conservação de energia é possível apenas em uma vida disciplinada. Mas, se a planta da vida espiritual floresce em uma atmosfera de liberdade e espontaneidade, como podem ser reconciliadas a liberdade e a disciplina? De hábito, liberdade e disciplina são consideradas contraditórias e, por consequência, mutuamente exclusivas. Porém, o fato é que apenas aquele que é totalmente livre pode ser, na verdade, disciplinado. Sem liberdade, a disciplina é uma imposição, seja de fora ou de dentro. Muitas vezes uma pessoa afirma que não aceita qualquer disciplina que seja imposta por uma autoridade externa, mas esta pessoa esquece que a chamada autoridade interna é também um produto de fatores condicionantes. A autoridade interna é realmente um produto de forças sociais e culturais que invadem o indivíduo, advindas da sociedade ou do grupo ideológico ao qual pertence. A liberdade exige uma completa eliminação da autoridade tanto externa quanto interna. É apenas então que o indivíduo, TORNANDO-SE INDEPENDENTE, assume a completa responsabilidade por tudo o que faz. Com certeza, é no clima de tal responsabilidade que a verdadeira disciplina cresce. Quando o homem compreende que nenhuma autoridade pode salvá-lo NEM MESMO A AUTORIDADE INTERNA, assim, SOZINHO, ele está supremamente disciplinado. Nesta compreensão da auto-responsabilidade, ele sabe que precisará de toda sua energia, e, em consequência, não pode permitir que seja desperdiçada. Sem tal senso de responsabilidade, a disciplina não tem valor, e, quando a responsabilidade é despertada, surge a disciplina natural e espontaneamente.
Quando somos completamente responsáveis por nós mesmos, começamos a viver no verdadeiro sentido da palavra. Sabe-se que uma ação que emerge da ação correta tem a qualidade da verdadeira disciplina. É uma disciplina que emana da própria ação de viver. Não é baseada em um ideal, que tentamos traduzir para nossa conduta diária; surge no próprio processo do aprendizado. Aprendemos, e este mesmo ato de aprender cria sua própria disciplina. É como um rio que, na própria ação de fluir, cria sua própria disciplina em função das suas margens. Estas não são criadas com antecedência. Podemos criar tais margens e descobrir que o rio tomou um curso totalmente diferente. Isso é verdadeiro igualmente com relação ao rio da vida. Se seu fluxo é mantido ininterrupto, este mesmo fluxo cria sua própria disciplina. Quando o fluxo sofre obstrução, começam os desordenamentos. É a mente do homem, com suas conclusões e interesses encobertos, que cria obstruções ao fluxo da vida. É o sentimento de posse que interrompe o fluxo da vida, gerando caos e confusão. Há uma disciplina inerente ao fluxo da vida. É suficiente olhar a natureza para ver que todas as suas atividades são perfeitamente disciplinadas. No entanto, não é uma disciplina aparte da vida. O ato de viver é um estado dinâmico. O dinamismo da vida exige uma disciplina que surge no próprio ato de viver.
Rohit Mehta - Yoga: A arte da integração

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!