Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

15 março 2013

Sobre a dificuldade de estar no ócio

Vejo-me nesse processo todo ai, inclusive neste momento, no qual venho questionando muito, onde estou fechado para balanço, abrindo mão de um profissional modo de vida que estava tendo, que apesar de ser bem rentável, não satisfazia as necessidades mais intrínsecas do ser que sou; além de não corresponder, esse modo profissional impedia que surgisse a resposta dessa assim chamada “vocação”. Eu tenho o significado da palavra “vocação”, como sendo a genuína expressão da “voz do coração”. 

Então, eu tenho percebido o seguinte: há momentos em que estou aqui, parado, meditando, pensando no que fazer, e percebo como que as pessoas, de modo geral, se incomodam com alguém que se permite estar em ociosidade; estar sem fazer nada; estar só sendo; sentado e sendo; observando a si mesmo. As pessoas olham para você como se você tivesse um problema muito sério, pelo simples fato de não estar fazendo nada. Isso é muito louco! As pessoas lhe olham com um olhar nervoso, com um olhar de silenciosa reprovação. Lembro-me de um período em que eu tinha uma loja, onde, bem na sua frente, havia uma pequena pitangueira, sob a qual eu gostava de me sentar e ficar vendo as pessoas passando pela calçada. Algumas das pessoas que por ali passavam, ao me olharem, acabam ao seu modo, me recriminando. Não raro, sempre alguma delas se manifestava com frases do tipo: “Eh! Vidão!”... Mas isso não era dito de forma construtiva, mas sim, num tom de reprovação. Para as pessoas, durante a semana, no decorrer do horário comercial, um adulto se permitir sentar sob a sombra de uma árvore e observar a movimentação, é algo que é de direito apenas para poucos. Era-me possível sentir em seus olhares, a reprovação pelo fato de eu não estar compactuando de seu modo apressado de existir, de caminhar cabisbaixo pela calçada, totalmente enredado em suas preocupações, ao ponto de muitos deles, falarem sozinhos. Tantas eram as falas em suas mentes que, para conseguirem alívio, precisavam ser externalizadas, mesmo que somente para si mesmos.  Para aqueles que faziam uso da exclamação “Eh! Vidão!”, eu lhes questionava: “Escuta! Por que você também não pode ser permitir por algo parecido?”... “É! Você tem razão! Um dia vou pensar nisso!”... Sempre um dia!... E uma das coisas que você mais vê no hospital, quando as pessoas se deparam com seu leito de morte, é elas se agarrando temerosamente aos seus lençóis, pedindo para que Deus lhes dê uma nova oportunidade para recomeçar a vida, fazendo tudo de forma diferente.

Então, é bem engraçado como, desde crianças, fomos condicionados de que, estar sem fazer nada é errado. Lembro-me de que quando eu ficava quieto, num canto qualquer da casa — e vejo isso ocorrendo hoje com outras crianças — “Moleque, o que você está fazendo quieto aí no canto?”... Quer dizer: estar parado, estar sem fazer nada, é sinal de problema!

A sociedade não quer que você pare, não quer que você pense, não quer que você exercite o pensamento, a observação, o questionamento. Ela não quer que você conheça as palavras, para que você não comece a perceber como que você está sendo condicionado por meio da palavra. A palavra é uma poderosa forma de condicionamento. Então, a sociedade criou um apelido para o dicionário: “Pai dos Burros”; que é para você ter vergonha de ser visto fazendo uso de um dicionário, afinal, ter nas mãos um dicionário é o mesmo que assinar um atestado de burrice. Isso é notório: a grande maioria das pessoas tem vergonha de pegar um dicionário. E, se você olhar num dicionário o significado da palavra “negócio”, dividi-la ao meio, perceberá “negar o ócio”. Então, é tão importante estar em ócio, se permitir o estado de ócio, que para você abrir mão desse estado, o outro precisa pagar um valor para você; pagar um valor devido pelo fato de você abrir mão do seu estado de ócio. Porque, é só no ócio que novas percepções ocorrem; que você consegue perceber as coisas como elas realmente são e não do modo que você foi condicionado a acreditar que elas são. É somente no ócio que começamos a ter os insights. Vivemos numa sociedade que não nos permite a ociosidade, a não ser no condicionado dia de domingo. Estar em ócio, significa risco de ostracismo; quase sempre somos rotulados e condenados por estar em ócio. E ócio é meditação! Eu digo que o ócio faz parte de um processo de descondicionamento que leva você à “ser com viço”, a ter propriedade, coisa que não temos, o que temos é só mecanicidade imitativa.

Há algum tempo eu trabalho com arte publicitária e comecei a perceber que, a maioria da publicidade não é nada realmente criativo; é quase sempre uma adaptação de algo já manifesto. Isso porque, devido ao condicionamento de que “tempo é dinheiro” — quase sempre, não temos o tempo necessário para a manifestação de algo realmente criativo. E o mais interessante é constatar que a sociedade não está muito preocupada com a manifestação do criativo; você pode imitar, desde que seja bem baratinho! Não importa se é imitação, o que importa é ser barato.

Percebo que a grande maioria olha com olhos negativos a questão da ociosidade, quando é profundamente salutar se permitir por períodos de ociosidade, períodos em que é só sentar, ser, observar, contemplar, o que se passa fora, dentro, contemplar simplesmente.  Não tem como se perceber nada de diferente se não há esse processo de contemplação, de meditação.

Bons momentos no eterno agora que é você!
Outsider

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!