IG: E ai?... Firmeza?
Out: Na caminhada; sempre observando a mente e os sentimentos, isso é o que importa.
IG: É, aqui também!... Essa inquietação, cara... Minha mãe, amigos, o mundo...
Out: Tudo bem! Apenas, olhe para a inquietação; apenas olhe; não se identifique com ela; ela não tem poder sobre O QUE VOCÊ É, se isso que você "pensa ser", com ela não se identificar.
IG: Beleza...
Out: Olhe a inquietação, olhe a ansiedade, olhe o medo, olhe a raiva, olhe o que for que estiver se manifestando no momento presente e, nesse olhar, livre de qualquer forma de desejo, livre de qualquer forma de escolha, de ambição, perceba que toda inquietação acontece apenas quando estamos desatentos. Perceba que toda forma de inquietação acontece de forma automática, por hora digamos assim: acontecem no subsolo da mente, enquanto que, no "primeiro andar", sempre de modo mecânico, acelerado, distraído, nos mantemos em nossas atividades superficiais e corriqueiras. Percebe isso?... Percebe esse movimento interno ocorrendo no "subsolo da mente", sempre tentando criar identificação emocional, para que, através dela, a mente garanta seu alimento e continuidade?
IG: Sim, por vezes percebo sim, isso, quando estou atento.
Out: Sei que de início, não é fácil se deparar com esse tipo de observação "não reativa".
IG: Percebo algo lá no fundo...
Out: A mente é muito ligeira; costumo dizer que funciona na velocidade do som, na velocidade da luz... Sempre criando projeções, monólogos, rancorosos ou temerosos discursos.
IG: É foda!
Out: Sempre criando situações imaginárias...
IG: É isso mesmo! É isso mesmo!... Sempre imaginando, criando...
Out: Mas deixe ela criar... Só a acompanhe com atenção....
IG: Ela viaja demais...
Out: Não a julgue, não a recrimine, apenas, constate, perceba suas falácias; perceba tudo, sem querer se afastar de nada daquilo que vê, do que nela ocorre... Apenas observe, da mesma maneira que observa um filme na TV... Vá assistindo... Não é preciso fazer mais nada; só é preciso ver...
IG: Compreendo...
Out: Só perceba...
IG: Entendi!
Out: Vá vendo como é tudo um movimento criado na ilusão do "tempo psicológico"...
IG: Sim, estou percebendo isso...
Out: Vá vendo como a mente cria o movimento na "ponte do tempo: passado-futuro", adulterando assim, a qualidade da única realidade que existe: o aqui e agora.
IG: Percebo isso; que foda!...
Out: A mente precisa dessa identificação gerada na ponte do tempo para garantir sua continuidade, para continuar seu enredante e conflituoso domínio.
IG: Isso ocorre quando a gente concorda com o pensamento; é ai que a mente cria mais força tornando muito difícil não se identificar com ela.
Out: Não há um concordar... Há uma hipnose letárgica, uma dormência letárgica; essa letargia cria a dispersão da energia. Quem em "sã consciência" concordaria com o que é ilusório?
IG: Sim, uma "sucção", digamos assim!
Out: Nessa "sucção",a mente ganha espaço e "entra", se apoderando do que somos; em resultado, cria toda forma de conflito e confusão, cria toda forma de reação e, nessa reação, mantém seu domínio ilusório (apesar e que, quando essa identificação ocorre, no momento, é factual). Percebe isso?
IG: Sim! Percebo que é real... Acontece de fato!...
Out: Perceber esse movimento, de momento a momento...
IG: A cada segundo, não é?
Out: Perceber como estamos viciados num modo desatento, e que, nessa desatenção, ocorrem as identificações com os conteúdos projetados pela mente e, com isso, toda forma de conflito, toda forma de inquietação, as quais quase sempre nos forçam a reações que criam toda forma de auto-sabotagem... Auto-sabotagem não no sentido externo — se bem que isso também ocorre, — mas a sabotagem no sentido de se dar continuidade à identificação ilusória com esse medroso e sempre defensivo "eu", "ego", "persona"... E, através dessa auto-sabotagem, não termos acesso a realidade que somos...
IG: Entendi... Temos que estar atentos, ao modo observador, certo? Tenho que "condicionar" essa atenção observadora, do condicionado a desatenção...
Out: Não, não! Nada de condicionar... Estamos falando de retomada de consciência... Enquanto existir esse estado de desatenção, haverá a continuidade desse enredante e conflituoso movimento no tempo e, enquanto existir esse movimento, o "eu", o "ego", a "persona", continuará existindo, impedindo assim, a plena manifestação da vida, a plena manifestação da livre e criativa realidade que somos.
IG: Entendi...
Out: Percebo claramente que a observação atenta, vai impedindo a proliferação do tempo psicológico... Vai, digamos assim, centrando a energia anteriormente dispersa pela ilusória identificação com a infinidade de projeções criadas pela mente, as projeções com suas descabidas exigências, tanto de nós, como dos que estão ao nosso redor.
IG: Entendi...
Out: A observação atenta vai criando a percepção do falso e, com isso, nos centrando no que é verdadeiro. Percebo que aqui, é preciso muita energia; a energia da atenção, energia essa que precisa chegar em sua plenitude de atenção, caso contrário, a tensão permanece; a tensão que é o próprio "eu". O "eu", o "ego", a "persona", sempre será tensa, sempre terá como base o medo; essa é a sua base, esse é o seu quartel-general; é sempre dual, por isso, sempre balança. O problema, é que balança mas não cai! É preciso que, pela observação, ocorra essa queda... Essa queda do ilusório... É preciso cai na real, cair no real...
IG: Legal! É isso, cara!... Já estou até me sentindo diferente...
Out: Olhe para isso, não para se "sentir diferente", o que seria só mais uma espécie de fuga.
IG: Entendi...
Out: Olhe para chegar na compreensão plena disso que ai ocorre e que lhe mantém preso nessa modo de existir prisioneiro constante de múltiplas formas de inquietação.
IG: Mas aconteceu!
Out: Ok! Entendo... Há o bem estar do centramento, isso é fato! Mas, fiz questão de colocar isso porque a mente é ligeira e pode fazer da arte de observar, apenas um instrumento de fuga, percebe?
IG: Entendi... "Vale lembrar, que não é esperar por um resultado".
Out: Sim, se essa observação for somente um "instrumento de fuga" a mais, "aquele que foge", permanece existindo... Percebe?
IG: Sim, é apenas observar, o resultado aparece. Apenas olhar sem pensar que isso é a solução.
Out: De fato, a observação nos recentra naquilo que somos: consciência não reativa.
IG: Olhar, sem porque, nem prá que...
Out: Isso, isso: sem motivo, sem desejo, sem ambição, sem qualquer expectativa de vir-a-ser.
IG: Entendo!
Out: Apenas ver o que é... Compreender o que é... Compreender o falso que nos domina, a ilusão que nos domina e que pede sempre por mais e mais ilusão, por mais dependências...
IG: Entendo!
Out: Nessa observação, compreender o "modus operantis do fregues": sua necessidade de ser aceito, sua necessidade de ser amado, de ser querido, de ser respeitado, de ser validado, de ser algo, de sempre estar com a razão, de sempre ter que dar a última palavra, sua frenética necessidade de aprovação...
IG: Sim!
Out: Pela observação sem escolhas, ver do que é constituída essa entidade que até então, "pensávamos ser" e, por isso, sempre reagindo de forma inconsciente e inconsequente às suas influencias ditatoriais... Ver como a mente funciona sem ser convidada, sempre no automático, sempre no "subsolo da mente"...
IG: Tudo isso, por causa da nossa ignorância condicionada, nosso habitual esquecimento do que já somos, não é?
Out: Vamos com calma: não sabemos o que somos! Só temos isso de forma intelectual; não é factual!
IG: Sim! Mas somos algo; não sei o que mas já sou... entendo quando você diz factual... Entendo que é fato... Mas dar valor ao fato...ver o fato...lembrar do fato... isso tem que estar ativo...
Out: Se isso fosse factual, onde estaria a inquietude?
IG: Entendo!
Out: No momento, penso que o que é preciso é tão somente aceitar o desafio do ato de "observar sem escolhas"... de "observar sem reservas"... O lance é, pela observação, sair da identificação ilusória com as inquietudes da mente, para o alcance repentino da compreensão pacifica da realidade que somos.
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"Agora seu amigo está off-line. Talvez ele não tenha recebido sua mensagem."