Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

11 maio 2009

A incompletude imperiosa*

(parafraseando Clarice Lispector)

Estou sentindo uma incompletude tão grande
que me anula como pessoa atual e comum:
é uma incompletude dolorida, não há como explicar!
Nem o maior saldo bancário perfeito
do qual, no entanto, nem sempre se precise, lhe sacia.

Estou por assim dizer
vendo limpidamente o meu vazio.
E não transcendo aquilo que vejo:
pois estou mediocremente menor que eu mesmo,
e não avanço.

Além do que:
que faço dessa incompletude?
Digo também que esta minha incompletude
tornou-se um inferno humano
– como nunca me aconteceu antes.

Pois sei que
– em ciclos da rotina diária
com permanente incomodidade
irresignado à irrealidade –
essa incompletude da irrealidade
me é um visco.

Apagada, foi, minha esperança na imagem de Deus,
porque em nada me serviu para viver os dias.
Recuso-me como sempre a conformação
pois esta me é impossível.
Eu persisto,
e consisto,
ao além.

Nelson Jonas

* Para minha sempre querida e companheira Andrea, em homenagem ao dia de seu aniversário.



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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!