(parafraseando Clarice Lispector)
Estou sentindo uma incompletude tão grande
que me anula como pessoa atual e comum:
é uma incompletude dolorida, não há como explicar!
Nem o maior saldo bancário perfeito
do qual, no entanto, nem sempre se precise, lhe sacia.
Estou por assim dizer
vendo limpidamente o meu vazio.
E não transcendo aquilo que vejo:
pois estou mediocremente menor que eu mesmo,
e não avanço.
Além do que:
que faço dessa incompletude?
Digo também que esta minha incompletude
tornou-se um inferno humano
– como nunca me aconteceu antes.
Pois sei que
– em ciclos da rotina diária
com permanente incomodidade
irresignado à irrealidade –
essa incompletude da irrealidade
me é um visco.
Apagada, foi, minha esperança na imagem de Deus,
porque em nada me serviu para viver os dias.
Recuso-me como sempre a conformação
pois esta me é impossível.
Eu persisto,
e consisto,
ao além.
Nelson Jonas
* Para minha sempre querida e companheira Andrea, em homenagem ao dia de seu aniversário.