Estou cansado!
Em tempo de enchentes grito: não agüento mais a enchente de mesmice, mediocridade, superficialidade e vazio que assola a quase todos por todos os lados.
É um saco acordar pela manhã e deparar-me com as mesmas atividades que visam tão somente o escasso valor para o custeio de uma existência sem vida em abundância.
Não surge nada novo.
O pior de tudo é que nem dá para falar com as pessoas sobre esse cansaço que sinto. É um saco ter que manter constantemente o olhar de paisagem. Conviver com pessoas que não se atrevem a questionar nada, que aceitam tudo conforme estabelecido socialmente. E mesmo as pessoas que se dizem no processo de busca, se limitam a repetir sempre os mesmos chavões de terceiros; adoram repetir as idéias de alguém tido como "um ser realizado".
Eu já não agüento mais e, por causa disso, não está sendo nada fácil me relacionar com elas. Se faço qualquer questionamento, logo se apóiam nas frases extraídas de terceiros ou, com a justificativa de que não se pode levar a vida tão a sério, tratam logo de escapar do assunto.
Não levar a vida a sério... Acho um absurdo esse tipo de escapismo diante da própria realidade... Se ao menos as pessoas soubessem o que significa ser sérias, quem sabe saberiam o que é vida...
Não consigo ver sentido num modo de vida voltado exclusivamente para a aquisição financeira. As pessoas aceitam entregar mais da metade de seus dias para alguma instituição, sendo que algumas delas, o fazem de segunda à sábado, somente por algumas migalhas recebidas ao final do mês, sendo que as mesmas, não duram nem por uma semana. Não sobra tempo para mais nada, para nada que seja realmente essencial. Só para exemplificar, nesta semana, assim que cheguei de mais uma viagem para São Thomé das Letras, ao visitar minha mãe, encontrei minha sobrinha de treze anos de idade. Ao vê-la, depois do abraço, olhando em seus olhos perguntei:
- Então, como foram as suas férias escolares?
- Um saco! Passei o tempo todo na frente do computador, com meus amigos no MSN. Só isso!
- Não tem nada novo para me contar?
- Não!
- Mas por que isso?
- Fazer o que? Não tem como ir para nenhum lugar com meus pais trabalhando o tempo todo...
- Que chato!
É justamente isso que vejo acontecer. As pessoas aceitam esse insano modo de vida que vem se perpetuando cada vez mais loucamente desde a tal revolução industrial. As pessoas vivem a maior parte de seus dias dentro do "apertado" percurso de suas casas ao trabalho e do trabalho para suas casas, do que com seus entes queridos. Algumas, em feriados prolongados, depois de prolongados congestionamentos e exorbitantes pedágios, conseguem um "apertado" lugar nas sujas areias do contaminado litoral mais próximo. Somente algumas poucas, conseguem uma vez por ano, esticar umas milhas a mais. Num planeta deste tamanho, pessoalmente, nos conformamos em conhecer quase nada. E se for perguntar sobre si mesmas, aí que a ignorância faz enchente pelo chão.
Fico me questionando: como é possível aceitar tamanha insanidade? Sem falar nas demais insanidades apresentadas diariamente nos canais de televisão, como opção de entretenimento. Não consigo dar nem sequer 10 minutos do meu dia para esse tipo de "entretenimento". Lixo por lixo, ao invés dos pacotes de entretenimento, prefiro ficar com o que já tenho entre a mente.
É lamentável constatar como as pessoas aceitam de bom grado essa absurda inversão de valores.
E nós, os poucos que questionam, é que são tidos como loucos, pobres coitados desajustados, necessitados de terapia.