Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

06 janeiro 2010

Esgotando as ambições

Um dos momentos mais significativos na vida de um homem é quando ele sente que se esgotaram as ambições e está simplesmente esperando, sem saber o quê. Esse é o momento em que a iluminação está mais próxima.

A iluminação não é uma meta. Não está lá, longe, para você alcançá-la. Você não pode fazer da iluminação uma ambição: essa é a maneira mais correta de perdê-la. A iluminação acontece nesse vazio, quando todas as suas ambições terminaram. Você não sabe o que fazer, aonde ir.

Nesse silêncio — porque não há um tumulto de desejos, nenhum desejo ardente de ambição — a iluminação acontece por conta própria. É um subproduto, não uma meta.

E é por isso que você está se sentindo triste, insatisfeito: muito embora todas as ambições tenham terminado... Por que uma pessoa deveria se sentir insatisfeita? Deve existir algo na vida que não seja parte da mente ambiciosa, sem a qual uma pessoa não pode se sentir satisfeita.

Você pode realizar todos os seus desejos, todas as suas ambições, e ainda assim se sentirá insatisfeito. Na verdade, você se sentirá mais insatisfeito do que aqueles que ainda estão correndo atrás de desejos, porque pelo menos para eles existe uma esperança de que amanhã eles alcançarão a meta.

Hoje pode parecer vazio, mas a ilusão, a alucinação do amanhã mantêm o hoje, de certa forma, escondido para eles. Mas agora, para você, não há nada que possa esconder sua realidade: você está insatisfeito.

Portanto, uma coisa fundamental está muito clara: mesmo que todas as ambições sejam satisfeitas, o homem não está satisfeito. Existe algo que não é uma ambição, e, a não ser que você o alcance — e não é um empreendimento —, a não ser que ele aconteça a você, a insatisfação o deixará triste.

Essa situação acontece a todas as pessoas afortunadas; quanto ao mais, todos estão correndo atrás de seus desejos, e existem tantas coisas a fazer na vida. Não há tempo para se sentir insatisfeito, não há tempo para sentir tristeza. A esperança no amanhã dissipa toda a tristeza.

Mas agora você não tem nenhuma esperança no amanhã. Somente o hoje está com você, e é bom que você esteja esperando, sem saber o quê. Se você está esperando intencionalmente por algo, isso é desejo, então a mente estará lhe pregando uma peça.

Se você está simplesmente esperando, terá chegado ao fim da estrada. Não há mais nenhum lugar para ir; o que você pode fazer exceto esperar? Mas esperar pelo quê?

Se você pudesse responder "estou esperando por isso ou por aquilo", perderá a iluminação. Então sua espera não é pura. Não é uma simples espera. Se você puder ter certeza de que é uma espera pura, não dirigida a nada, a nenhum objeto, estará na situação correta, na qual a iluminação acontece.

Portanto, você está em um belo estado, inconsciente dele, por causa da pura espera e tristeza... A pessoa não pode ver o que existe de belo nisso. Somente os despertos podem perceber o que há de belo nisso.

Essa é a situação na qual você desperta, como um subproduto. De outro modo a vida permanece um sono espiritual. Todos os desejos e ambições não são nada além de sonhos desse sono.

Uma tristeza, uma profunda insatisfação, em geral não parece algo muito glorioso, não é algo de que se orgulhar; mas eu lhe digo que isso é algo de que você pode se orgulhar. Apenas permaneça na sua tristeza. Não tente transformar isso em outra coisa.

Permaneça na sua espera — não tente dar a ela um objeto. A pura espera atrai a derradeira experiência que chamamos de iluminação. A pessoa não deve buscar a iluminação como uma meta. A iluminação vem a você quando você está maduro, e esse é um tipo de amadurecimento necessário.

No Ocidente isso está acontecendo com muitas pessoas, mas elas não sabem. Estão tristes, em profunda angústia; estão se afogando no álcool, nas drogas, em perversões sexuais; estão tentando esquecer a tristeza com todo tipo de coisas. Estão tentando, de alguma maneira, transformar sua espera em objeto.

Alguns tornam-se religiosos e começam a esperar por Deus. Alguns começam a filosofar que a vida não tem sentido, que a vida não é nada além de angústia, que dá náusea.

E a beleza é que Jean-Paul Sartre, que dizia continuamente que "a vida é sem sentido, apenas ansiedade, angústia, náusea" — também escreveu um livro chamado A Náusea —, viveu muito tempo. Então para que viver se a vida é apenas náusea, para que escrever um livro sobre isso? Se a vida é sem sentido, para que questionar isso? Para conseguir um Prêmio Nobel?

O que estou dizendo é totalmente diferente do que está acontecendo no Ocidente. O que estou dizendo é o que tem acontecido no Oriente nos últimos dez mil anos: quando o homem chega ao ponto em que todas as ambições são inúteis, é porque ele as viveu e descobriu que não valem a pena; ele alcançou a meta que queria e descobriu, então, que não havia nada a ser descoberto, que foi apenas uma alucinação, um oásis que parecia real à distância, mas que, à medida que se aproximou, desapareceu, restando somente o deserto.

O Oriente tem usado isso de diferentes maneiras. Nem um único filósofo pregou o suicídio. Nem um único homem nesse estado ficou maluco ou se voltou para as drogas. Mas durante séculos tem sido aceito que esse é o momento de maior potencial da vida.

Se você puder apenas esperar, sem esperar por nada; apenas esperar, pura espera... deixe a tristeza estar lá, deixe a insatisfação estar lá, elas não podem impedir sua iluminação. Somente uma coisa pode deter sua iluminação: se você fizer da sua iluminação um objeto.

Se a espera for pura, a iluminação acontecerá, e com o seu acontecimento existe a satisfação, grande regozijo, e a vida vem a florescer. É por isso que eu digo que esse é um momento tremendamente belo. Não o perca.

Osho, em "Dinheiro, Trabalho, Espiritualidad

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A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

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