Estava aqui meditando sobre o quanto somos viciados em nos agarrar a belas ideias, conceitos, crenças e achismos com cobertura de barata filosofia. Parecemos ainda impedidos — talvez pela falta de coragem ou pela falta da presença da real e salutar insatisfação —, de olharmos de modo minucioso e destemido, a realidade psicológica a que estamos acometidos. Se, por décadas, estivemos presos em conceitos e crenças herdados da antiga tradição, acreditamos delas nos libertarmos quando, ainda confusos, nos agarramos a novas crenças e conceitos, estes, ainda não embolorados mas que, com a nossa adesão e propagação inconsciente, já começam a se tornar parte de uma nova tradição. Como crianças, acreditamos que, por afirmar não mais acreditar em Papai Noel, estamos livres da tradição que nos impulsiona ao consumismo. Sem que haja uma real percepção dos fatos, continuamos existindo a base de crenças e conceitos; facilmente influenciados por imagens e palavras proferidas por terceiros; não conseguimos perceber que, por meio do joguinho de trocar seis por meia dúzia, apenas existimos, enquanto, insatisfeitos, tentamos nos distrair, brincando de viver.
Outsider
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