Out: Uhmm!!! Sei não! Remendar o mesmo velho?... O lance, me parece, é jogar fora essa roupa velha chamada "eu"...
PL: O novo está sempre em construção. Como jogo o eu velho?
Out: Olá! Talvez, começando por não perguntar para ninguém, para nenhuma organização, para nenhum sistema de crença, para nenhum instrutor, como se libertar dessa roupa velha e por demais puída que pensamos ser... E, por si só, se abrir para essa pergunta, dando espaço para o reverberar dela naquilo que realmente somos... Talvez seja por ai! O que somos não se encontra na ponte do tempo psicológico "passado-futuro"... O que somos é este momento; O que somos está além das formas; O que somos está além dos limites da palavra;
PL: Certo somos o que somos.... Creio que posso sim fazer remendos em muitas coisas na minha vida; uma reforma, você não acha que pode melhorar algumas coisas?
Out: penso que a base continua a mesma: o eu condicionado, apenas trocando de condicionamentos, talvez, estes, socialmente mais aceitáveis; é como podar as folhas de uma árvore sem investir energia para observar a qualidade de sua raiz; nesse caso, o que se poda, sempre é passível de novamente crescer; pode até vir com leves alterações, mas está lá. Esse me parece ser um dos correntes condicionamentos sociais: a crença no melhoramento, nos reparos localizados, nessa entidade condicionada que é a personalidade a qual fomos criados para pensar que a somos; o que somos, sinto estar encoberto por essa persona criada pelo parental e social e, por nós alimentada, devido um período de total inconsciência. Reparação externa, para mim, é como pintar as grades da prisão, como embelezar um pouco a cela: não traz liberdade. Penso ser muito fácil saber se isso que você está propondo é ou não funcional... Se me permite, lanço lhe algumas pequenas perguntas, não para que você responda rapidamente para mim, mas para que fique com elas, deixando-as reverberarem em seu interior...
São elas: “Você é feliz?”... “Você sabe o que é liberdade?”... “Você sabe o que é uma genuína intimidade consigo mesma, com a natureza e com outro ser humano?”... Você sabe por experiência direta, por vivência direta, o que é isso que tentam expressar através da limitada palavra "deus"?
PL: Sim! Não posso nem te responder; você é uma pessoa que tem o conhecimento que não tenho; apenas posto o que gosto e não tenho intenção de nada.
Out: Veja, por favor, nada de pessoal aqui. Li seu post, meditei com você e, com a minha resposta em seu post, a convidei para meditarmos juntos; só isso! Não acredito em remendos! Remendo novo em roupa velha?... Já disse alguém que passou aqui há muitos anos e, que pelo que parece, não foi entendido por quase ninguém.
PL: Obrigada!
Out: Todo meu respeito ai!
PL: Vou ler suas perguntas sim; gosto de saber e entender...
Out: Ok! Abraço fraterno!
PL: Você pode me ajudar? Estamos aqui para aprender uns com os outros; acredito que alguns estejam num estado mais evoluído e outros não.
Out: Olha! Cmo costumo brincar, podemos "trocar figurinhas sem colar"; não dá para colar nada; nada de permanência; as percepções mudam... Vamos trocando "abobrinhas", elas tem vitaminas e só depende do tempero de cada um para se mostrarem nutritivamente saborosas.
PL: Sim! Entendo. Out, sei lá, acho que posto bobeiras mesmo, ou talvez, não consiga expressar aquilo que penso.
Out: Olha, não há espaço para comparações e julgamentos; o lance é observar... Absorver o que é verdadeiro e o que é falso e, nesse absorver, se absolver das ilusões. Cada um no seu ritmo; cada um no seu compasso; cada um no sopro que lhe habita. Está tudo certo! Tudo é meditação!
PL: Sim! Já volto! Telefone!
Out: Ok!
PL: Oi! Você não tem religião? Li na sua página.
Out: Bem, aqui é preciso fazer uma distinção; acho que o que você me pergunta é se faço parte de algum sistema de crença organizada... Nesse caso, não pertenço a nenhum sistema.
PL: Nem eu.
Out: Agora, todos temos uma religião, pessoal, única e intransferível, que é esse movimento interno que nos aponta que algo falta, que a vida não pode ser só isso, que nos faz questionar, que nos faz arriscar abrir mãos de todas as desnutritivas convenções religião é esse impulso que se manifesta através do tédio, através da insatisfação, através do sentimento de rotina; isso para mim é religião.
PL: Acredito que a vida não é só isso.
Out: Religião é essa "saudade" daquilo que sentimos existir e que não se encontra nos limites das palavras, nos limites da mente, nos limites do manifesto; é essa ânsia pela manifestação do não-manifesto e que, muitas vezes,
Acabamos confundindo com essas transitoriedades externas que prometem por alegria e felicidade e bem estar, mas que frustram em seu devido tempo.
PL: Saudades do que ainda não temos...
Out: Não, não. Não se trata de ter ou não ter; somos isso; isso que somos é a essência da religião.
PL: Sou lenta!
Out: Religião é essa fala interna que nos diz: “Veja, você se afastou daquilo que realmente é, em nome de ter a aceitação dos outros, ter a aceitação da sociedade; portanto, lance isso por terra! Rasgue já os remendos e perceba, por si mesma, o que você é e que já está aí.
PL: Difícil!
Out: Isso que você diz, seria o mesmo que uma gota do oceano estar procurando pelo oceano. É o pensamento dela que criou a separação dela como sendo uma gota.
PL: Sou uma pessoa muito medrosa.
Out: Todos somos; é natural, fomos formados pelo medo, para o medo.
PL: Estou tentando.
Out: Aceitar isso, aceitar o fato que temos medo, sem mascarar, penso ser o início da coragem. Vivemos numa cultura do medo; vivemos na educação do medo e da vergonha; é natural, depois de anos de exposição à isso, sermos o medo. Dentro desse condicionamento, não temos medo: somos o medo! Isso, enquanto nos identificamos com ele. Veja, não aprendemos a olhar nossos medos de frente; não aprendemos a convidá-los para um chá das cinco; não somos íntimos dele. Se nos sentássemos com ele, descobriríamos do que é feito, de qual é a sua natureza e, perceberíamos que o medo é pensamento; é o pensamento não observado, este, sempre atuando no fundinho de nossa mente, enquanto estamos agindo de forma mecânica nas atividades do dia a dia. Esse pensamento não observado é uma projeção na mente, seja ela do passado, seja ela no futuro; portanto, são fantasmas. Quando se é criança, é natural ter medo de fantasmas mas, não quando adentramos na fase adulta. Penso que o que separa os adultos dos adolescentes psicológicos é essa disposição de dar as boas vindas aos medos; é essa disposição de "dar a outra face ao inimigo"; é essa disposição de "fazer as pazes com teu inimigo oculto".
PL: Sim! Pior que é a verdade! Mas, o medo também age como forma de proteção.
Out: Veja, quando é proteção, não há espaço para o medo, só há ação imediata; o medo é sempre uma projeção no tempo, portanto, uma irrealidade. Ele traz sempre reações, ou seja, ações em ré; ações repetidas do passado. Quando há um perigo real, há ação imediata; depois da ação, quando o pensamento surge, é que temos o medo; é o pensamento que começa com os "poderia acontecer", "e se"... Tudo isso que sabemos bem como que é.
PL: Ok! Então é assim: vou fazer uma cirurgia, certo? Tenho medo.
Out: Isso é medo! Um movimento da mente no vir-a-ser.
PL: É normal.
Out: Não, não é normal! Por que viver nessa masturbação mental quanto ao que possa ou não ocorrer? Por que, absorvido nessa preocupação, perder o agora?
PL: Eu tenho...
Out: A necessidade da operação é fato! O que se pensa sobre ela e seus possíveis resultados não é fato! Se ocorre esse medo, olhe, observe, veja suas nuances, suas falas, suas imagens, seus filminhos... Perceba seu movimento nisso... Você perceberá que você não é o medo, mas sim, a consciência que está se tornando consciente daquilo que antes era inconsciente: o medo. Esse estado de observação cria uma espécie de "espaço" entre aquilo que você é realmente e o medo; isso é como um isolante térmico que não deixa o medo “se alastrar”, percebe?
PL: Entendendo, tentando...
PL: Entendendo, tentando...
Out: Veja, engatinhemos aqui: como você pode ser aquilo que está observando?... Você é o observador ou é a coisa que está sendo observada? Percebe a magia disso?
PL: Out, podemos continuar mais tarde?
Out: Sim, claro! Deixe reverberar isso ai em você. Valeu a prosa!
PL: Quero continuar te ouvindo, ou melhor, lendo.
Out: Ok!
PL: Você é rápido!
Out: Se me permite: leia-se enquanto me lê; quem sabe, nesse movimento, você consiga encontrar o autógrafo do seu autor, que em última e intransferível percepção, é você mesma.
PL: Posso te preguntar o que você faz da vida e onde obteve tanto conhecimento? É professor? E, com certeza, você segue uma linha.
Out: Fui agraciado por poderosas depressões iniciáticas na escola da Grand Vida; elas me ensinaram a questionar, a observar e a compartilhar. Profissionalmente, no momento sou apenas um fotógrafo.
PL: Estudioso.
Out: Agradeço a vida pelo presente da depressão; foi o melhor acontecimento, mesmo sendo profundamente doloroso.
PL: Sim! Eu também agradeço pelas fraturas no tornozelo, as várias depressões e os quadros de ansiedade. Vou indo! Senão, não desenrolo e nem remendo rsrrs
Out: Valeu! Excelência no agora que é você!
PL: Grata! Fui!
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