Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

23 junho 2009

Amanhã vai ser outro dia

Caro amigo, espero que você esteja vivendo bons momentos!

Por aqui, continuamos no processo com muita transpiração e raríssimos momentos de inspiração. A cada dia que passa, mais notório e inconformante se apresenta este itinerário da mesmice. Sinto fortemente as células deste corpo se apresentando cada vez mais arredias diante das atividades e relacionamentos que ainda tenho que manter para poder custear esta cara existência desprovida de real sentido.

Depois de duas semanas de férias, sendo uma delas na maravilhosa paisagem de São Thomé das Letras, sinto que aceitar a impessoalidade desumana e acelerada desta cidade capitalista é o mesmo que aceitar de bom grado cumprir "pena de vida".

Escrevo isto por que tenho certeza que você, assim como eu, também não se conforma - como a grande maioria não pensante - a se ajustar a esse insano modo de existir empurrando a existência com a barriga, com a ajuda de muita gordura, bebidas, altas doses de calmantes, de consumo compulsivo, de carnezinhos carismáticos, ou de sei lá mais o que.

Gostaria de pode estar lhe descrevendo outra realidade, mas, sendo sincero, não está nada fácil. Os ilusórios pontos de apoio emocional já não existem mais. Caíram por terra todos os totens, deuses e mitos. Ficou apenas a observação do que aqui dentro se apresenta diante dos fatos que lá fora se desenrolam. Não há mais como fazer parte da tietagem de algum ser tido como realizado ou dotado de "profunda espiritualidade" (que coisa ridícula). Frases, textos, livros de auto-ajuda, uma postura de "espiritual" em sites, fóruns e comunidades de Orkut, não fazem sentido algum. Mesmo o site Cuidar do Ser, que já foi a menina dos meus olhos, para mim, a cada dia que passa, menos significa e digo-lhe que tenho pensado seriamente em encerrar suas atividades.

Pode até parecer doença, mas, enquanto todos correm de maneira irrefletida, fico aqui sentado diante da mesmice que parece segurar a força os ponteiros do meu relógio e, quando a madrugada se apresenta, com ela se vai a vontade de dormir. Sinto que esta recusa ao sono, parece uma tentativa do corpo em atrasar a dolorosa experiência de mais um dia de mesmice. Essa experiência em nada se assemelha com as desgastantes madrugadas de insônia naqueles dolorosos períodos de depressão do passado. Aliás, sinto que nunca estive tão lúcido nestes meus quarenta e cinco anos. Tirando o itinerário da mesmice, não há do que reclamar ou mesmo com o que lutar.

Fico me questionando sobre o que estaria me impedindo de descobrir uma maneira de viver a vida em sua plenitude. Recuso-me a aceitar que a vida seja só isto... Não faz sentido algum nascer numa família disfuncional, passar anos e mais anos tentando sobreviver dentro dela, experienciar uma profunda depressão iniciática, pós graduar-se duas vezes com estes benditos períodos de crise, passar vários anos tentando colocar a casa emocional em ordem, libertando-me de excessos condicionantes e terminar aqui nesta mesmice sufocante.

Há cerca de um mês, depois de uma breve e séria conversa com minha companheira Deca, que como eu, a cada dia mostra-se mais e mais inconformada com este insano modo de vida coletivo, decidi puxar o breque de mão. Além de não estar me organizando profissionalmente, dispensei algumas empresas que não me valorizavam e somente queriam me explorar. Reduzi ainda mais meus custos a fim de poder ter mais tempo para ficar ocioso e quem sabe ter um insight que possa me brindar com maior lucidez. Afastei-me de grupos e pessoas, ainda que algumas delas me fossem muito queridas, com as quais percebi não poder manter uma verdadeira relação nutritiva. Como pode fazer idéia, caiu bastante o número de pessoas com as quais me relaciono e, mesmo entre estas poucas, apenas duas, como eu, conscientemente declaram sua insatisfação existencial. As demais, quase sempre versam sobre assuntos periféricos ou do cotidiano comercial – não que isso seja um problema – mas, no entanto, são assuntos dos quais não tenho o menor interesse; somente os mantenho em respeito a tais pessoas que me são queridas.

O fato é que esse tipo de conversa de cunho comercial faz parte do consenso geral, eu é que não me ajusto a esse tipo de assunto (como em outras tantas coisas mais). Quase sempre, ao perguntar a alguém sobre como vai a sua vida, imediatamente a mesma começa a disparar seus últimos feitos na empresa da qual momentaneamente faz parte. Se o assunto não for a empresa, com certeza, será sobre seu relacionamento afetivo... E assim, fico sabendo um pouco sobre seu emprego ou seu relacionamento, mas nada sobre seu íntimo e, não raro, se faço alguma pergunta um pouco mais pessoal, esta pessoa trata logo de escapar de um contato mais íntimo dizendo que gostaria de estender nossa conversa, mas que a mesma terá que ficar para uma próxima oportunidade, uma vez que no momento se encontra "morrendo de pressa". Veja bem: morrendo de pressa... O pior é que estas pessoas falam de sua triste realidade sem ao menos se escutarem... "morrendo de pressa"!

Pois bem, por este ângulo, a vida parece mesmo ser uma grande piada de mau gosto... Enquanto a grande maioria aceleradamente vai morrendo de tanta pressa, outras poucas como eu, parecem morrer lentamente, conscientes dessa mesmice sem sentido.

É isso aí amigo! Vou ficando por aqui, tentando manter a mente aberta, a espinha ereta e o coração tranqüilo e com a esperança já tão bem cantada em outros tempos pelo velho Chico:

"Amanhã vai ser outro dia, amanhã vai ser outro dia"...

Um forte abraço,

Seu sempre amigo,

Nelson Jonas


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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!