Cada dia as coisas tornam-se mais claras: ninguém ama ninguém, ninguém está de fato em genuína relação. Vivemos de simulações, alimentamos falsa respeitabilidade e nos escoramos em românticas memórias que não condizem com a realidade. Vivemos do passado, ou melhor, somos o passado, o qual nada tem de significativo para o presente momento, sendo que este último, quase sempre se mostra dolorosamente entediante. Em nossos encontros — que na realidade não passam de ajuntamentos de pessoas inseguras, totalmente incapazes de real encontro —, cada um se isola num comportamento pessoal: na comida, na bebida, no cigarro, na política, nos jogos pelo celular e no bisbilhotar nas redes sociais, na imbecilidade dos programas de TV, na neurótica euforia que faz falar demais sem nada ter para dizer, na autopiedade da terceira idade com suas disputas de quem é o mais doente, de quem sofre mais ou de quem tem o melhor plano de saúde. Estamos tão fechados pelo nosso medo da solidão, que acabamos não enxergando ninguém, em especial, nem a nós mesmos. E assim a existência sem vida vai passando, enquanto nossos corpos vão engordando como resultando de tamanha, silenciosa e disfarçada insatisfação compartilhada.
Sentar-se em ócio se mostra um péssimo negócio, para quem não quer ter revelada a falsidade e a insignificância de seu condicionado modo de vida.
Sentar-se em ócio se mostra um péssimo negócio, para quem não quer ter revelada a falsidade e a insignificância de seu condicionado modo de vida.
Outsider