Ela amanheceu de mau-humor por achar que havia sido contrariada na noite anterior. Encontrou-a saindo do banho com o semblante fechado. Deu-lhe um beijo de bom dia, abriu o chuveiro numa temperatura fresca, pois o ar, apesar das poucas horas do dia, já se achava bastante abafado. Banhou-se rapidamente, pois já se achavam bem atrasados para um compromisso familiar. Participariam da festa de aniversário de uma das suas sobrinhas, num clube campestre, aos pés da Serra da Cantareira. Estava bastante ansioso, pois há alguns meses se via distante de um contato mais direto com a natureza. Calçou suas sandálias, colocou uma bermuda folgada e o primeiro camisão que viu pela frente. Separou alguns DVD’s de cantores nacionais que sua sobrinha havia pedido para brincarem de karaokê; estava pronto e o sol prometia.
– Não tenho roupa para passar o dia num churrasco no campo! Não sei com que roupa eu vou! Que roupa você acha que eu devo colocar? Como será que as pessoas vão?
– Ah! Sei lá mulher! Coloca uma roupa com que você se sinta bem!
– Como será que as pessoas vão? Liga para a sua irmã e pergunta como ela vai!
– Nega, se liga! Na altura do campeonato você ainda está preocupada com o que os outros pensam?
– Não quero fazer o papel de palhaça!
– Para com isso! Não tem cabimento! Isso é cabível para uma adolescente, mas não para uma mulher feita! Só falta você querer passar num Shopping!
– Não precisa falar assim! Não sei por que você se estressa tanto! Só fiz uma pergunta!
– Mas que perguntinha para começar o dia, hein!
O condicionamento criado pela moda é uma verdadeira doença. Deveria ser reconhecida pela Organização Mundial da saúde como modaose – a patologia da moda.
Ela rouba a liberdade, a espontaneidade, a originalidade, chegando mesmo a tomar um grande tempo e energia das pessoas que dela sofrem.
Limita o movimento.
Cria o conflito da comparação.
Alimenta complexos, seja de inferioridade ou de superioridade.
Leva ao isolamento.
Impede o ser humano de se mostrar como realmente é.
Obriga-o a deformar seu próprio corpo e por vezes, até a morte.
A modaose é a grande responsável pelo atual inter-relacionamento de imagens.
Como no dito popular:
“Quem vive de aparências, só aparentemente vive!”