Seu pai acabará de falecer, vitimado por um câncer provocado pelo excessivo uso de cigarro. Devido ao fato de seus pais terem se divorciado há muitos anos, não teve a oportunidade de manter uma relação de proximidade e intimidade com ele. Nos três meses que antecederam a morte de seu pai, deixou a casa de sua mãe para morar com seu pai e atender as suas necessidades. Tentava justificar para si mesmo a morte de seu pai; uma tentativa de não entrar em contato com o sentimento de culpa que insistia em permanecer em sua mente. Queixava-se que deveria ter mantido uma aproximação maior e que agora sentia muito por ambos não terem tido a oportunidade de se conhecerem a fundo. Por dentro, corriam lágrimas amargas pelo imenso tempo perdido. Seu corpo apresentava claros sinais de que estava anestesiando a dor da perda de seu pai através do comer compulsivo. Seu corpo, talvez ressentido pela recente obesidade adquirida, procurava expulsá-la através de um oleoso suor que saltava por todos os poros encharcando-lhe a camisa colorida.
Por não suportar qualquer espécie de pressão, havia optado há muitos anos por conseguir seu sustento através da venda de produtos em moda, vindos do Paraguai: máquinas fotográficas digitais, aparelhos de MP3, celular, ventiladores entre outros. No entanto, nossa aproximação não se deu pelo interesse comercial. Nunca em nossas conversas me ofereceu se quer um dos seus produtos. O que o trouxe até nós foi a pequena vitrine na entrada direita da nossa loja, com livros de grandes pensadores da humanidade, todos escolhidos por mim a dedo. Sua postura diante daquela vitrine lembrava a de uma criança encantada pelas cores das embalagens dos doces e chocolates no balcão de uma padaria qualquer. De mochilas nas costas, corpo imóvel, corria seu olhar na direção de cada exemplar exposto, procurando nos títulos e subtítulos, algo que lhe trouxesse alguma resposta para seus conflitos.
Hoje pela manhã, chegou bastante eufórico com a intenção de me falar a respeito do último filme que havia assistido. Assim como eu, além dos livros, gostava de estudar os filmes de sucesso em busca de uma mensagem talvez oculta dos olhos e ouvidos menos atentos.
– JR, você precisa assistir o filme “Homens de Preto”! Já assistiu?
– Já, mas não gostei muito! O que você viu de tão interessante nesse filme a ponto de lhe deixar tão exultante?
– Ah! Não acredito! Você não conseguiu ver?...
– Ver o que meu querido?
– Não, não creio! Logo você!... Cara, está tudo ali!...
– Por favor, então me diga, compartilhe a sua visão!
– Está lá cara! Bem que eu desconfiava! São eles! Agora tenho a certeza!...
– Eles quem? Certeza do que?
– Os extraterrestres! Você não sacou o lance?
– Desembucha Marcão! Fala logo antes que toda essa euforia se transforme em depressão!
– Cara, agora sei por que as vezes me acho tão confuso! Agora faz sentido!... São eles, estão aqui bem no meio de nós, ao nosso lado, atuando de forma anônima em nosso cérebro!... Como sempre te disse, eu sempre achei que eu não sou daqui! Não pode ser, eu realmente não devo ser deste mundo! Sinto que estou esperando pela nave-mãe para me levar embora!... Só pode ser isso!
Os americanos... Esses caras são realmente demais! Possuem muito conhecimento. Eles sabem de coisas que o resto do mundo desconhece e vivem tentando dar as dicas através dos filmes! Há até quem diga que o próprio Spielberg não é daqui!
– Que mais você viu nesse filme, além da idéia de que em nosso planeta convivemos sem saber com seres de outras galáxias?... Por favor, olhe profundamente em meus olhos e me diga: Seria eu um extraterrestre? Seria você?
– Quem sabe! Pode até ser, talvez, só não tenhamos consciência disso!
– Fala sério Marcão!
– Vai saber JR! Então, por que é que a gente consegue ver coisas que a maioria não vê? Por que é que sempre fomos tão rebeldes? Por que a gente não consegue compactuar com o sistema?... Isso só pode ser influência de extraterrestres!
– Você diz que são os extraterrestres, outros dizem que são espíritos obsessores, encostos, karma e outros absurdos mais!... Será que a mensagem desse filme não seja um grande incentivo para que sejamos excelentes “extra-terrestres”, ou seja, que ousemos ser muito mais que um sonâmbulo terrestre, um extra, com extra de extraordinário, fora do comum, “excelenteterrestre”? Será que esses homens de preto, com aquele pequenino aparelho de bolso, não estavam procurando mostrar da necessidade de apagar a carga da memória psicológica para se poder chegar ao estado de “extra-terrestre”, ou se preferir, de um extraordinário ser humano terrestre? Vai ver que eles colocavam aqueles modernos óculos pretos para se protegerem da arcaica e disfuncional visão terrestre! Compreende o que digo?
– Sim! É mesmo uma extra visão! Só podia mesmo ser coisa de americano!... Os caras são demais!
– Será que são mesmo? Tem certeza do que está me afirmando? Isso não se parece nem um pouco do que vemos nos jornais, revistas e noticiários! Será que esse “americano” que de certa forma teve uma visão expandida e tenta expressá-la através da arte, ainda se vê como um “americano”? Será que ainda pode se encontrar preso nessa pequena visão terrestre chamada nacionalismo? Ou será que já possui uma visão univérsica, holística, uma visão “extra-terrestre”?
– Não sei!
– Pensando melhor, acho que isso não vem ao caso, não é bem a questão. O movimento do outro é lá com o outro. O que interessa é o nosso movimento aqui e agora!
– Correto! Concordo plenamente!
– Não seria o caso de nos perguntarmos o que é que nos impede de termos também essa visão “extraordinária”, “extraterrestre”, ou seja, essa visão livre da memória coletiva? O que é que nos impede de vivermos o “Extra”, o “Supremo” estado de ser? Você não consegue ver a urgência dessa resposta?
– Claro que sim!
– E se você achasse essa resposta? Ainda assim gostaria de sair deste planeta, de ser levado pela nave-mãe? Não seria justamente a falta dessa resposta interna que te faz achar que os “extraterrestres” influenciam de forma negativa em sua mente? Se você achasse essa resposta, não gostaria de se transformar num “homem de preto” capaz de “ver” outros homens com a mesma capacidade de visão, ainda que em estado dormente?
– Faz sentido! Não tinha visto o filme por essa ótica!
– Pois bem meu amigo! Mãos à obra! Antes de tudo, “Veja”, acenda sua própria luz e seja visto! Depois disso, se ainda preciso for, use óculos escuros! E a propósito: vê se escolhe uma roupa menos pesada! Aqueles ternos pretos só servem para políticos, advogados e seguranças de casas de Bingo! Com certeza, uma vida “Extra-terrestre” deve ser bem colorida!
Por não suportar qualquer espécie de pressão, havia optado há muitos anos por conseguir seu sustento através da venda de produtos em moda, vindos do Paraguai: máquinas fotográficas digitais, aparelhos de MP3, celular, ventiladores entre outros. No entanto, nossa aproximação não se deu pelo interesse comercial. Nunca em nossas conversas me ofereceu se quer um dos seus produtos. O que o trouxe até nós foi a pequena vitrine na entrada direita da nossa loja, com livros de grandes pensadores da humanidade, todos escolhidos por mim a dedo. Sua postura diante daquela vitrine lembrava a de uma criança encantada pelas cores das embalagens dos doces e chocolates no balcão de uma padaria qualquer. De mochilas nas costas, corpo imóvel, corria seu olhar na direção de cada exemplar exposto, procurando nos títulos e subtítulos, algo que lhe trouxesse alguma resposta para seus conflitos.
Hoje pela manhã, chegou bastante eufórico com a intenção de me falar a respeito do último filme que havia assistido. Assim como eu, além dos livros, gostava de estudar os filmes de sucesso em busca de uma mensagem talvez oculta dos olhos e ouvidos menos atentos.
– JR, você precisa assistir o filme “Homens de Preto”! Já assistiu?
– Já, mas não gostei muito! O que você viu de tão interessante nesse filme a ponto de lhe deixar tão exultante?
– Ah! Não acredito! Você não conseguiu ver?...
– Ver o que meu querido?
– Não, não creio! Logo você!... Cara, está tudo ali!...
– Por favor, então me diga, compartilhe a sua visão!
– Está lá cara! Bem que eu desconfiava! São eles! Agora tenho a certeza!...
– Eles quem? Certeza do que?
– Os extraterrestres! Você não sacou o lance?
– Desembucha Marcão! Fala logo antes que toda essa euforia se transforme em depressão!
– Cara, agora sei por que as vezes me acho tão confuso! Agora faz sentido!... São eles, estão aqui bem no meio de nós, ao nosso lado, atuando de forma anônima em nosso cérebro!... Como sempre te disse, eu sempre achei que eu não sou daqui! Não pode ser, eu realmente não devo ser deste mundo! Sinto que estou esperando pela nave-mãe para me levar embora!... Só pode ser isso!
Os americanos... Esses caras são realmente demais! Possuem muito conhecimento. Eles sabem de coisas que o resto do mundo desconhece e vivem tentando dar as dicas através dos filmes! Há até quem diga que o próprio Spielberg não é daqui!
– Que mais você viu nesse filme, além da idéia de que em nosso planeta convivemos sem saber com seres de outras galáxias?... Por favor, olhe profundamente em meus olhos e me diga: Seria eu um extraterrestre? Seria você?
– Quem sabe! Pode até ser, talvez, só não tenhamos consciência disso!
– Fala sério Marcão!
– Vai saber JR! Então, por que é que a gente consegue ver coisas que a maioria não vê? Por que é que sempre fomos tão rebeldes? Por que a gente não consegue compactuar com o sistema?... Isso só pode ser influência de extraterrestres!
– Você diz que são os extraterrestres, outros dizem que são espíritos obsessores, encostos, karma e outros absurdos mais!... Será que a mensagem desse filme não seja um grande incentivo para que sejamos excelentes “extra-terrestres”, ou seja, que ousemos ser muito mais que um sonâmbulo terrestre, um extra, com extra de extraordinário, fora do comum, “excelenteterrestre”? Será que esses homens de preto, com aquele pequenino aparelho de bolso, não estavam procurando mostrar da necessidade de apagar a carga da memória psicológica para se poder chegar ao estado de “extra-terrestre”, ou se preferir, de um extraordinário ser humano terrestre? Vai ver que eles colocavam aqueles modernos óculos pretos para se protegerem da arcaica e disfuncional visão terrestre! Compreende o que digo?
– Sim! É mesmo uma extra visão! Só podia mesmo ser coisa de americano!... Os caras são demais!
– Será que são mesmo? Tem certeza do que está me afirmando? Isso não se parece nem um pouco do que vemos nos jornais, revistas e noticiários! Será que esse “americano” que de certa forma teve uma visão expandida e tenta expressá-la através da arte, ainda se vê como um “americano”? Será que ainda pode se encontrar preso nessa pequena visão terrestre chamada nacionalismo? Ou será que já possui uma visão univérsica, holística, uma visão “extra-terrestre”?
– Não sei!
– Pensando melhor, acho que isso não vem ao caso, não é bem a questão. O movimento do outro é lá com o outro. O que interessa é o nosso movimento aqui e agora!
– Correto! Concordo plenamente!
– Não seria o caso de nos perguntarmos o que é que nos impede de termos também essa visão “extraordinária”, “extraterrestre”, ou seja, essa visão livre da memória coletiva? O que é que nos impede de vivermos o “Extra”, o “Supremo” estado de ser? Você não consegue ver a urgência dessa resposta?
– Claro que sim!
– E se você achasse essa resposta? Ainda assim gostaria de sair deste planeta, de ser levado pela nave-mãe? Não seria justamente a falta dessa resposta interna que te faz achar que os “extraterrestres” influenciam de forma negativa em sua mente? Se você achasse essa resposta, não gostaria de se transformar num “homem de preto” capaz de “ver” outros homens com a mesma capacidade de visão, ainda que em estado dormente?
– Faz sentido! Não tinha visto o filme por essa ótica!
– Pois bem meu amigo! Mãos à obra! Antes de tudo, “Veja”, acenda sua própria luz e seja visto! Depois disso, se ainda preciso for, use óculos escuros! E a propósito: vê se escolhe uma roupa menos pesada! Aqueles ternos pretos só servem para políticos, advogados e seguranças de casas de Bingo! Com certeza, uma vida “Extra-terrestre” deve ser bem colorida!