A mente
adquirida é adicta de medições e comparações e é justamente devido a essa
adicção, a qual a mantém sempre presa nos estreitos limites de seu velho território,
que ela não consegue captar a essência, o reverberar da frequência mais
profunda que motiva o uso das palavras.
É interessante
perceber que, até antes do evento da crise iniciática, a mente adquirida
disputava na horizontal arena da matéria: quem tem mais dinheiro, quem tem mais
propriedades, carros, mais reconhecimento, mais poder e prestígio, mais
conquistas e noites de sexo; depois da crise, após ler uma pequena quantidade
de livros e de frequentar alguns locais na busca de entendimento de sua
confusão, a mesma passa a disputar quem tem mais conhecimento, quem tem o
melhor mestre, o melhor guru, quem explica melhor os textos e áudios de
determinado guru, quem está mais próximo da iluminação, quem é iluminado ou
não... É algo realmente impressionante e, de fato, não se pode mesmo subestimar
o poder de se transvestir da mente adquirida. A pergunta que nos salta aos
olhos é: “Pra que isso?” “Por que não manter apenas uma postura de livre
compartilhar?” Não faz sentido algum sair de um mundo de fortes disputas
materialistas para adentrar numa disputa espiritualista. Se entramos nessa
barca furada, o único resultado possível está na continuidade do processo
fragmentador o qual nos delega o amargor de uma solidão ácida. Dentro desse
estado de amargor, a mente adquirida mostra-se incapaz do exercício de um
compartilhar amoroso, restando tão somente, o característico vício de fazer
abusivos e invasivos questionamentos que não tem como propósito único e
primordial um pacificador compartilhar integrativo, mas sim, o espírito de inibidora
disputa vexatória que não nos distancia não só dos demais mas, principalmente,
do desvelar da realidade única que somos. É preciso estar muito atento a estes
nebulosos períodos de nossa infância espiritual, os quais se mostram enormes e,
por vezes, intransponíveis traves de tropeço que impedem a livre expressão do Ser.
Disputas de
conhecimento, debates de ideias, quase sempre fundamentados em lero-lero
livresco, só têm o poder de gerar polêmica, controvérsia e fragmentação. Diante
delas, não podemos esquecer que o silêncio contemplativo é a nossa melhor opção
de linguagem. A linguagem precisa sempre estar num compartilhar de vivências do
coração; linguagens para disputa intelectual não são dignas de nossa energia
vital. Sem o exercício da linguagem e escuta do coração, o único resultado
possível é a continuidade da nutrição de uma mente exclusivista, separatista,
totalmente incapaz de se aventurar pela benfazeja dimensão do Amor.
O propósito
primordial do uso das palavras deve estar sempre alicerçado no compartilhar
integrativo, o qual nos possibilita diálogos que nos aproximam cada vez mais da
percepção de nossas ilusões e condicionamentos, os quais uma vez transcendidos,
nos aproximam da curativa percepção da Perene Consciência Amorosa Integrativa,
sem a qual, tudo se mostra como fonte de conflito. Diálogos para alimentar
jogos egóicos ou que se mantenham na exterioridade do Ser, não são dignas de
nossa energia vital, não são dignas do estado de ser que se nos apresenta
quando de nossos momentos de profundo silêncio contemplativo.
Outsider