Qual é o fundamento da experiência religiosa? Qual é a sua essência, seu substrato? Qual é a base, ou se preferir, o estado de ser em que tal experiência religiosa ocorre? Não seria a experiência religiosa, em última análise, nada mais do que a manifestação Pura do Ser? A experiência religiosa ocorre quando dá-se um lapso no processo contínuo dos condicionamentos, com suas exigências, desejos, medos e ansiedades. Toda busca tem por base a experiência, que é memória, que é passado, que é a imaginação do desejo projetado no futuro ocorrendo no agora. Em outras palavras, toda busca é uma fuga do agora; é a negação da observação, compreensão e reparação daquilo a qual buscamos fugir. Toda busca requer uma imaginação e toda imaginação é um processo mental, que por sua vez, é a própria negação da experiência religiosa. A experiência religiosa só encontra espaço quando nos encontramos totalmente desapegados de tudo que é. Quando a mente se encontra profundamente insatisfeita e desidentificada, mesmo com a própria ideia de sua existência é que se dá o grande Bing Bang do Ser que somos. Quando soltamos tudo, até mesmo o medo da morte, é que a Vida Consciência se apresenta e nos brinda com a morte da morte. Esse desapegar-se, esse soltar-se é um processo de deflação do ego, de esvaziamento das células da memória, uma borracha em nossas doentias projeções de desejos e paixões. O desejo e a paixão precisam ser redirecionados para o conhecimento da Verdade, da Vida Consciência e, em seu devido tempo, compreendidos e também descartados. Enquanto houver desejo e paixão, a Fonte de onde surgem — que é também onde os mesmos ocorrem —, não se faz Consciente. Em último estado de consciência, somos o próprio sujeito e objeto de nossos desejos e paixões.
Outsider
Outsider