Eram 08h50min quando despertei com as lambidas do meu pequeno cão. Bastaram alguns poucos minutos para que o movimento dos desconexos pensamentos entrasse em ação. Durante o banho, percebi que os pensamentos passam semelhantes a quantidade e rapidez das gotas d'água que caem pelo chuveiro. O dia está nublado e a temperatura requer uma leve blusa de linho.
Aquela tão conhecida sensação de vacuidade manifestou-se logo cedo. Pode-se estar sentado, com o corpo totalmente imóvel, mas, internamente, a sensação é a de que todos os nervos do corpo estão estralando. É como nas palavras infantis do pequeno filho de um amigo meu: "uma nervosura".
Nesses momentos, olho para os lados e parece que nada satisfaz, e essa percepção, dá mais vida ao movimento conflituoso da mente. A mente não para! Os pensamentos jorram por todos os lados, pulam de situação para situação, todas, egocentradas. Pensamentos de doença, perda, dor, morte, busca de poder, prestigio e prazer. São julgamentos, criticas, avaliações e comparações (esse é dos piores). Eles não dão trégua nem um segundo sequer. Pensamentos inúteis, sem conteúdo nutritivo, pura perda de energia. São repletos de cenas de situações passadas, conflitos vividos, ensaios de palavras e ações que não foram expressas em seu devido tempo, projeções de diálogos e ações futuras sem o menor embasamento racional. Sinto que o pensamento tem vida própria e ressinto-me pela impotência diante do surgimento dos mesmos.
A mente pede constantemente por alguma atividade externa como forma de distração. Para ela, estar parado significa "perca de tempo". Alguns chamam isso de "manter a mente ocupada". Eu já chamo isso de "fuga de si mesmo". Em situações de outrora, muito antes de estar consciente do governo do pensamento sobre a minha vida, o que é que eu fazia? Tratava de arrumar uma justificativa para mudar de lugar os móveis de casa ou do escritório, uma reviravolta total que demandava tempo, energia e concentração em atividades totalmente desnecessárias. Puro desperdício de energia...
Hoje, sento, observo e escrevo o que vi através da observação. Procuro manter um contato consciente com a qualidade da minha natureza interna. Isso não é nada fácil, pois a inquietude e a insatisfação costumam a atrapalhar. Elas pedem por distração, mesmo que seja somente sentando-me diante da loja para observar o movimento dos automóveis e dos pedestres... Mas ela não se contenta com isso: pede pelos cafés na padaria, o sorvete de palito (desses vendidos em carrinho), ou então, fica na expectativa de alguém que chegue para uma boa prosa (de preferência, isenta de superficialidade, pois assim, o tédio é menos estressante). Afinal de contas, de conversas superficiais e não nutritivas, já bastam os monólogos e diálogos da minha própria mente.