Acabo de ter uma conversa interessante aqui na loja. Um amigo meu passou por aqui para saber como é que eu estava, uma vez que havia tomado conhecimento de que eu acabará de perder uma grande amiga evolutiva.
- Olá Everaldo!
- Fala JR! Como é que você está? Melhor?
- Estou bem! Só com o corpo um pouco cansado; só preciso me refazer fisicamente. Foi muita tensão e uma madrugada inteira sem dormir. Mas, emocionalmente, estou bem! Aprendi muito com esta situação. Minha amiga realmente foi uma grande mestra.
- Acredito que deva ter sido muito desgastante mesmo.
- Sem a menor sombra de dúvida.
- Tenho lido os textos do seu blog...
- O que tem achado?
- Achei um verdadeiro absurdo o tipo de conversa que você retratou naquele texto sobre "conversas nutritivas". Ando tão intolerante ultimamente que não tenho tido o menor saco para esse tipo de papo furado.
- Sei. Perguntei-lhe o que você tem achado dos textos, porque na semana passada, um amigo meu indicou o blog para uma conhecida sua, a qual, comentou com ele que achou meu blog muito "deprê". Você concorda com ela?
- Bem... Cômico que não é! Mas, o que você demonstra através deles é ser uma pessoa extremamente inconformada...
- E o que pode ter de saudável nesse conformismo social mórbido? É possível se conformar com isso tudo?
- Não, não vejo. Mas, o que acontece é que na realidade, quase ninguém esta a fim de ver a vida por esse prisma. Você realmente é um inconformado, vive sempre questionando as tradições, as convenções sociais, a família, a sociedade, o sistema. Tenho certeza de que passou o final de semana no velório questionando a morte e todo ritual dela proveniente.
- Não tenha dúvida!
- Você tem que concordar comigo que não é nada agradável viver com alguém que vive questionando tudo. Não fomos incentivados a isso. Aceitação passiva foi sempre a tônica da educação tradicional.
- E o pior de tudo é que ainda é! Acho que boa parte sofre com a "conformose", a patologia do conformismo. Conformar-se pura e simplesmente com o modo de vida operante, para mim, é como assinar o atestado pessoal de estupidez e mente fechada. O que se apresenta aí fora é um modo de vida pautado em média de dez horas de trabalho enfadonho e estafante, seguindo de breves momentos de distração, divertimento, prazer e descanso. Apenas as pessoas estúpidas e obtusas se conformam pacificamente com o modo de vida socialmente tido como "normal" e, atualmente, me parece que o número dessas pessoas aumentou imensuravelmente. Acho uma grande tolice não questionar tudo e ficar vivendo num mundo de faz de contas. A confusão toda que se apresenta tem sua raiz na conformose, com o tempo começa a agravar para normose, neurose, esclerose, egoesclerose e outras "oses" mais.
- Mas nem todos querem levar a vida a ferro e fogo; eles têm todo o direito de não levar a vida tão a sério. Você não acha?
- Não querer levar a vida tão a sério... Creio que é justamente isso que faz com que as pessoas vivam pela metade, com seus relacionamentos "mal amados e mal trepados", como diz um amigo meu. E para escaparem disso, se entregam a vários mecanismos de fuga, entre eles, a busca do que chamam de "espiritualidade". Se refugiam numa igreja, num culto ou numa terapia qualquer, desde que a mesma não faça com que eles olhem para a própria vida. Enquanto estiverem olhando a vida daquele que "foi", não precisam olhar para a vida que "são", não precisam olhar para o fato de que muitos vivem em relacionamentos com o prazo de validade vencido, num modo de vida repleto de conflitos, ansiedades e frustrações. Será que você não vê isso?... Desculpe-me pela minha franqueza, mas, se tiver dificuldades de ver isso lá fora, então, olhe para o seu próprio relacionamento; ele é um exemplo clássico da espécie de conformismo do qual estou me referindo...
- Como você pode afirmar isso se não está vivendo dentro da minha relação?
- Desculpe-me, mas não fui eu quem disse isso: foi você mesmo em várias das nossas conversas anteriores. Você não consegue ver através da sua resposta, o quanto que negligenciamos a seriedade que a nossa vida com seus relacionamentos merecem?... É por isso que a maioria sofre: por não querer questionar a vida e seus relacionamentos com seriedade. É muito mais fácil rotular alguém de "deprê", por ousar olhar para a própria vida e para a vida que se apresenta diante de si.
- Que horas são?
- 13:10min.
- Gostaria de poder conversar mais um pouco, mas já estou atrasado. Ainda tenho que passar em dois bancos e depois buscar meu neto na casa de meu filho mais velho.
- Ok. Vai na boa! Vai com o Deus que você acredita!
- Até mais! Dê um abraço na senhora sua mãe!
Depois que ele saiu, comecei a meditar sobre o ocorrido. É incrível, mas as pessoas preferem a melhor mentira a pior verdade. Elas são adictas da ilusão e da fantasia. Vivem num verdadeiro teatro. Preferem o mundo do faz de conta, do pó de pirlim-pim-pim, das crenças e das frases de auto-ajuda que em nada ajudam. Elas não querem olhar para a realidade dos fatos, por que a realidade nunca oferece o consolo que vêm com a ilusão. Elas preferem romances, contos, crônicas bem-humoradas, ou então, textos sobre a vida de um Deus que possa lhes salvar das encrencas geradas pela própria ignorância. Oras bolas! Um Deus desse tipo não é ajuda nenhuma, mas sim, um grande empecilho para a descoberta de um modo de vida inteligente. Mas quem quer ser inteligente? Que nada! Isso dá muito trabalho... Mais fácil é ser conduzido como boi de boiada... E assim caminha a humanidade!