Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

02 dezembro 2010

Dor d'alma

Escravos do tempo
Sérgio Godinho
Composição: Sérgio Godinho

Relógio de pulso
as horas avulso
comprarás seja onde for

O teu tiquetaque
estrangula o meu pulso
como Jack
o estripador

E dia após dia
o teu ponteiro
dá duas voltas
por inteiro

Duas vezes por dia
ainda tentas
dobrar o cabo das tormentas

Relógio de pulso
relógio de pulso
a tiquetar

Para quem persegue o tempo
o tempo é sempre a dobrar.

É uma dor d´alma
perder a alma
e não perder o corpo
a ela preso

Perder o peso
do sim do não
talvez
perder a vez
a veio o nervo

Perder a veia
o sangue anseia.

O sangue brota
e nem se nota
nem dor.

Perder o peso
ir flutuar sem dor
sair ileso por um fio
fio de lâmina

Perder a ânima
num bar
e o tempo ainda a tiquetar

Para quem persegue o tempo
o tempo é sempre a dobrar

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!