Caro amigo evolutivo, paz e bem!
Como hoje pela manhã não tive o prazer de receber sua visita, vou procurar transcrever através da limitação das palavras, tudo que solitariamente assisti mediante os monólogos que surgiram em minha mente.
O pensamento compulsivo é o grande responsável pelo conflito humano. É ele quem cria as mais variadas formas de conflitos resultantes do uso do abuso da vontade humana. Ele vive do tempo psicológico e no tempo psicológico. Projeta situações de prazer ou de terror, nuvens cor-de-rosa ou extremamente carregadas; não existe meio termo, não existe céu azul. Nunca está no agora.
O pensamento compulsivo produz uma vasta gama de sentimentos desconexos. Cria imaginários diálogos internos, cenas, imagens sempre no tempo futuro, ou então, mantém-se amarrado no remorso das atitudes passadas. Ele é a fonte de toda dependência, co-dependência e padrões de comportamentos dependentes.
Um dos seus maiores alimentos está na identificação por parte do pensador com as projeções e medos gerados pelo pensamento. Quanto mais identificação, mais medo, quanto mais medo, mais pensamento, quanto mais pensamento, mais identificação, tendo assim garantida a perpetuação do ciclo do pensamento compulsivo.
O pensamento raramente projeta-se de forma positiva sem que haja um grande e constante esforço de nossa parte. Sua tendência natural está no negativismo, no auto-boicote e por causa disso, hoje são muitos os livros e filmes que prometem por uma prática que possa levar ao poder do pensamento positivo, o que, com pouco tempo de prática se mostra disfuncional. Um ótimo e atual exemplo está no filme "The Secret". O pensamento, por si só, nunca será positivo; em última análise, sempre é fonte de conflito. Somente quando é iluminado pela luz da inteligência é que pode ser benéfico. Sem essa luz, sempre se mantém auto-centrado, sempre se mantém na defensiva. O pensamento compulsivo sempre busca a satisfação imediata para si mesmo, nunca visando o bem-estar comum. A garantia pessoal de segurança é sua meta.
O pensamento nos impede de estar no aqui e agora, fazendo com que a existência seja um fardo a ser carregado. Como pode existir uma real vivência do agora quando estamos condicionados a pensar ininterruptamente? Como pode existir a qualidade do amor onde existe a ação do pensamento compulsivo? Onde há a ação do pensamento compulsivo o que se manifesta é somente a paixão. É preciso ir além dos condicionamentos da palavra.
Segundo o dicionário "Aurélio", paixão significa sentimento ou emoção levados a um alto grau de intensidade, sobrepondo-se à lucidez e à razão. Esses sentimentos e emoções tem sua natureza exata no pensamento compulsivo, que não tem "lucidez", ou seja, que não tem penetração e clareza de inteligência; perspicácia; acuidade; funcionamento normal das faculdades mentais. Hora, qual é a natureza exata da faculdade mental? Não seria o pensamento e a memória? E a memória não seria pensamento? Sendo assim, onde há paixão não pode coexistir a qualidade do amor. A calmaria do amor só pode existir na ausência do pensamento compulsivo. É por essa razão que o pensamento se identifica com o tédio, pois o pensamento não pode viver com a calma, ou seja, com a alma, com serenidade de ânimo. É interessante notar que no mesmo dicionário acima citado, a própria palavra "ânimo" tem como representação o conjunto de palavras "alma, espírito, mente".
Em outras palavras, o pensamento impede a expressão natural da alma. Aqui também se faz necessário ir além do condicionamento que temos desta palavra. A palavra é só um símbolo e o símbolo está muito distante do simbolizado. O símbolo é quase sempre deturpado pela ação do condicionamento. Pela palavra alma entendo o conjunto das funções psíquicas e dos estados de consciência do ser humano que lhe determina o comportamento, embora não tenha realidade física ou material; espírito; condição de qualidade superior; essência. Resumindo, alma seria o que há de mais profundo em nosso ser que nos faz ser.
Penso que os grandes escritores, os psicólogos e as diversas religiões só existem por causa do pensamento. De algum modo pagamos para que algum destes pense por nós, ou para nos ajudarem a colocar nossos pensamentos em seu devido lugar. Não sabemos, por nós mesmos, como "pensar certinho" e por essa razão, para acalmar os pensamentos, recorremos aos mesmos. É inacreditável o poder de criação de imagens geradas pelo pensamento, na maioria das vezes carregadas de medos infundados. O pensamento cria toda forma de medo e muito mais medo ainda quando nos atrevemos a observá-lo por nós mesmos. Projeta racionalizações de que estamos sendo prepotentes, arrogantes e auto-suficientes e que precisamos sempre da sabedoria dos mais antigos, dos mais experientes para que possamos enxergar melhor. No entanto, dessa forma, como poderemos ser pessoas psicologicamente auto-suficientes, não influenciadas, não condicionadas, capazes de ser uma fonte de luz para si mesmo?
É preciso estar sempre atento, vigiando sempre a ação do pensamento condicionado. Perceber seu movimento, sua seqüência, sua sugestão, sua manifestação auto-centrada. Estar atento às fantasias que ele cria nesse constante movimento de projeção num futuro imaginário ou na recordação saudosista e/ou masoquista. É preciso perceber esse movimento pois a própria percepção funciona como uma espécie de "fio terra" que nos coloca em contato com a realidade dos fatos. Todos os nossos deslizes comportamentais, todos os nossos mecanismos de auto-boicote são produtos dessa falta de "percepção", dessa falta de "presença" que é gerada pela percepção. Quando não há essa "presença", acaba ocorrendo toda forma de identificação com o falso, com o condicionado. A percepção é a luz para a realidade, e o real, só pode estar presente no agora, o resto é pura fantasia, ou seja, aquilo que não corresponde à realidade, mas que é fruto da imaginação. Imaginação é o condicionamento que temos de nos relacionar com imagens. O real só está presente no agora.
É incalculável a quantidade de energia que desperdiçamos com a ação do pensamento compulsivo. Basta observar o tempo cronológico que perdemos assistindo internamente o perpassar das cenas, imagens, diálogos, monólogos, com seus desfechos quase sempre negativos que o pensamento compulsivo projeta. Depois, podemos tentar ir mais fundo ainda e observar as emoções, os sentimentos que essa espécie de masturbação mental produz - se me permite assim expressá-la -, a carga de adrenalina e os demais hormônios que por esta ação derramamos em nossos corpos. Isso naturalmente gera todo um desgaste desnecessário, tanto das nossas células cerebrais como das células do nosso corpo. E vejo que é através desse comportamento que acabamos somatizando uma série de doenças físicas, ou se preferir, o estresse, a ressaca física.
Bem, por hoje é só!
Vê se aparece e não me deixe aqui a sós com os meus pensamentos!
Um abraço fraterno!