Não queremos, de fato, ver o que temos sido, e por não querer vê-lo, nos perpetuamos nisso que só cria confusão, frustração e rotineira insatisfação. Por não querer ver o que temos sido e o que ainda somos, inventamos vários modos de fuga: pode ser a fuga pelo sexo, pelo trabalho, por aquisições tecnológicas e seus novos brinquedinhos chamados aplicativos. Podemos igualmente fugir da visão realista, através do que consideramos "grandes mestres" e seus métodos evolutivos, com seus estágios a serem alcançados, que visam maior respeitabilidade e projeção de um "eu mistificado".
Quando, a duras penas, percebemos que nenhum desses métodos funcionam, nos voltamos para a formulação de perguntas, as quais, se formos honestos e minuciosos, cumprem o mesmo papel da fuga.
Passamos a repetir a pergunta "Que sou eu?", não para perceber nossa insana realidade, mas, para dela fugir através do encontro com um estado imaginado — pela influência de terceiros — onde tudo é paz, felicidade e liberdade.
Não queremos olhar, com clareza e exatidão, o que temos sido — e que por inconsciência — ainda continuamos sendo. Ver isso representa o abalo em nossos estagnantes zonas de conforto; representa a necessidade de reparações; necessita responsabilidade. E, responsabilidade, é tudo o que a mente não deseja; ela não deseja acordar de seu sono; o que ela deseja, é uma melhor cantiga de ninar.
É assim que damos continuidade aos pesadelos que nos roubam a alegria de viver.
Outsider
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