Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

24 setembro 2009

Cinzas

11h56min; metade do dia nublado está prestes a findar, no entanto, o itinerário da mesmice permanece.

Já não faz mais sentido buscar por escritores com seus apontamentos de como ou não levar a existência e por essa razão, as estantes das livrarias e sebos já não possuem mais o brilho e as cores inebriantes de tempos idos.

Jornais, política, futebol e as vazias conversas de balcão com bafos de leve teor alcoólico, nem pensar.

Das comunidades on-line, nada mais tenho em comum, afinal, nelas, não encontro pessoas assumidamente insatisfeitas como eu. Grande parte de seus membros diariamente dividem postagens repletas de “intelectuais verborréias iluministas”, ou então com sagazes críticas e, em nenhuma delas encontro ecos de insatisfação permanente.

Ao contrário da grande maioria, o dinheiro nunca me causou paixão, sempre se mostrou um porre. Aliás, concordo plenamente com uma frase que li num espelho de um bar, noites atrás:

“Se dinheiro falasse, para mim diria sempre: adeus”.

Quanto às conversas e jogos comerciais com “tabelas de preços para trouxas”, onde triplicasse o justo valor, para fingir um falso desconto, - você as deve conhecer bem, ou por aplicá-las ou por fingir acreditar nelas – as mesmas, se mostram profundamente cansativas e destituídas de sentido.

Lidar com o “imediatismo pão-durista” da totalidade dos clientes que se apresentam é algo que a cada dia que passa me causa mais e mais asco. Talvez, você ao ler este texto, se ainda estiver na fase dos livros de auto-ajuda que em nada ajudam, tipo “The Secret”, estará me psicoanalisando e rotulando que estou atraindo o que está no nível de minha energia. O fato é que já não tenho mais estomago para isso e a cada dia que passa, ganhar o tal do “pão nosso de cada dia com o suor do meu rosto” está se mostrando um verdadeiro inferno. Para não ter que dedicar muito de meu tempo nesse tipo de atividade desgastante e profundamente alienante é que simplifiquei ao máximo a minha existência. No tocante a vocação, não dá mais para fazer como um pobre ser diante do cardápio de um restaurante, onde este, primeiramente vê o valor do prato e só depois seu conteúdo. Enquanto a grande maioria corre atrás de valores destituídos de real valor, eu busco por conteúdo... No entanto, infelizmente tenho que ser honesto e afirmar que até agora, conteúdo desconheço. E o que é mais triste: tudo e todos à minha volta tem se mostrado profundamente vazios... De Real conteúdo, nada (inclusive eu).

Confesso que não está sendo nada fácil, de cara limpa, sem qualquer tipo de anestésico socialmente aceito, atrás de um pálido sorriso amarelo esconder minha insatisfação diante de uma existência sem sentido... Nada tem se mostrado capaz de tocar profundamente este Ser que me faz ser nesta mesmice sem sentido. Nada!...

Se ao menos encontrasse outras pessoas assumidamente insatisfeitas... Já cheguei a pensar seriamente em fazer um anúncio procurando-as... Por vezes chego a pensar que esse tipo de pessoas são seres em extinção...

O que percebo é que a grande maioria não consegue nem se perceber como um ser insatisfeito, que dirá então, conseguir ficar com o resultado de sua insatisfação... Elas se apóiam em desculpas extraídas das falas de profissionais que afirmam “falta de lítio no cérebro” para poder embotá-las com algum tipo de calmante “top de linha”...

Elas gastam suas economias em lipoesculturas, botox, seios e bundas siliconadas, mas não se atrevem a olhar para a mediocridade de uma existência condicionada. Aliás, nunca como nos dias de hoje estivemos vivendo uma época em que a preocupação com a estética sobrepôs-se de tamanha forma a preocupação com a ética. As pessoas revestem suas bocas com aparelhos e dentes de porcelanas, mas matem a alma cariada. Vestem-se com "marcas famosas" para esconder dos outros suas "marcas desconhecidas" originarias de uma educação medíocre, disfuncional e estúpida. Fazem lipoaspirações das gorduras do corpo, mas mantêm suas mentes com a gordura do embotamento dos condicionamentos e preconceitos disfuncionais oriundos da tradição familiar e social. Investem tempo e dinheiro em benfeitorias estéticas, mas não se dão o tempo e a seriedade necessária para a formação de uma consciência apurada e, desse modo, se mantêm num estado de mediocridade, insensibilidade e pobreza de espírito. Elas lustram suas porcelanas, mas não trocam a água estagnada do vazo que são.

É uma verdadeira “torrente de inconsciente insatisfação”. A grande maioria não tem noção... Será que para você um pouco de tudo isso que estou escrevendo faz sentido?...

Há poucos minutos, fiquei puto da vida com um recado que recebi de um conhecido pelo Orkut; não propriamente com ele, mas sim, com a situação humana de se contentar com essas balelas de vídeos enlatados que a cada dia que passa prolifera por todos os cantos da rede. Imediatismo on-line... Frases prontas que tem como verdadeiro intuito, distrair para vender... Vender livros, palestras, seminários... Palestras e seminários não! A palavra em português não chama tanta atenção, não vende... Tudo tem que ser cópia americanizada... Neste caso, a palavra correta é “Workshop”... Call to action, mailings lists, brockers, fulfillment, Agreement, benchmarking, business, B to B, B to C, entrepreneur, follow up, leadership, management, trend, advertising, brainstorm, customer care, customer share, commodity, budget, spread... Nada disso faz sentido para mim...

Parece que é PECADO falar abertamente ser um ser insatisfeito. As pessoas quando me escutam dizer isso, demonstram incomodo através de suas reações corporais, e partem logo para o estoque de "conselhos de prateleira", para as "comparações aleijadas", ou então, mudam de assunto. Isso é automático. Não acredita? Faça o teste! Se nada disso ocorrer, pode ter certeza que apelam para a velha desculpa:

- "o papo está bom, mas deixe-me ir, pois estou com pressa... Tenho que passar não sei onde para fazer não sei o que, senão, ficaria aqui para falar de algo que nem sei o que é"...

Também tem sempre um engraçadinho que para fugir da seriedade do assunto vem logo com aquelas piadinhas normóticas:

- "Tá insatisfeito?... Vai trepar!"

E sabe o que respondo?

- Nem trepar está me satisfazendo.

Então a pessoa me olha assustada achando que estou com problemas no relacionamento afetivo, como se isso tivesse a ver com a minha performance ou da minha companheira... Não se trata de performance ou quantidade. Nada tem a ver com o outro, é algo totalmente pessoal, que acaba tirando o poder do maior condicionamento humano, que é o sexo. O instinto sexual é um fato, agora, a idéia secularmente preconizada da realização do ser através do sexo é uma falácia... Sexo tântrico... Piada. E quando falo isso, os defensores do sexo logo gritam:

- Mas o sexo é uma necessidade fisiológica!

Pois é! Percebo que a grande maioria só corre atrás de suas "necessidades fisiológicas"... Mente, alma, espírito, ou seja, lá o nome que se queira dar, nada! Nada do invisível, só do visível.

- E como é que pode o visível preencher essa profunda necessidade do invisível?

E aí, a pessoa emudece, segurando o queixo. Coça a cabeça e diz:

- Pois é! Agora, tenho que ir. A gente se fala outra hora.

E mais uma vez, sob o céu cinzento, feito as cores da minha solidão, deparo-me com a mesmice e a insatisfação.

Gostou? Então compartilhe!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Postagens populares

Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!