Eram por volta das nove da manhã, quando, enquanto observava a volúpia dos pensamentos e os sentimentos — resultantes de mais uma bárbara invasão emocional por parte de um adulto adulterado adulterante, totalmente inconsciente de sua adulteração —, ouvi o som do aparelho celular. Do outro lado, uma voz feminina um tanto ressabiada, enquanto, do lado de cá, uma parte se dedicava à escuta da volúpia mental e, a outra, na expectativa de saber do que se tratava a ligação.
— Por favor, de quem é este número?
— Você ligou pra quem?
— Este número está registrado mais que uma vez em minha bina há vários dias; só agora pude dar um retorno. Gostaria de saber do que se trata. Poderia me dizer seu nome e de onde fala?
— Nelson, São Paulo. E você?
— Nelson? Do DASA?
— Sim. Débora?
— Cara, não acredito! Que bom que você retornou a ligação! Estive em sua casa dias atrás para, pessoalmente, agradecê-los pelo material do Blog, mas não os encontrei. Vocês não fazem ideia do quanto vocês tem me ajudado. Esse material salvou-me a vida. Todos os dias mergulho nos textos e nos áudios. Todos vocês tem me ajudado demais. Há mais de um ano que venho acompanhando vocês... O Manoel!... A Deca... Todos. É incrível como as falas de vocês carregam uma impactante energia de verdade emocional. Vocês não sabem o quanto que estou feliz por tê-los encontrados, encontrado o Krishnamurti... Gente! O que esse homem fez com minha vida não tem palavras! Foi um divisor de mar...
— Fico muito feliz por você!
— Eu precisava agradecê-los!
— Se quer nos agradecer, então, passe adiante!
— Já estou fazendo! Tenho enviado material para minha neta que está morando na Austrália.
— Diga-me uma coisa: como você chegou até nós?
— Lembra-se que há alguns anos atrás, nos encontramos na saída das piscinas do SESC?
— Ah! Lembro-me!
— Então! Naquela época, eu estava muito confusa... Você me passou num pedaço de papel o nome do Krishnamurti, confesso que procurei mas não consegui entender absolutamente nada do que lia e, por isso, abri mão da leitura. Eu estava num processo de enorme demolição, muito confusa. Você não faz ideia da revolução que se deu em minha vida. Depois de um tempo, lembrei-me de nossa conversa. Fui pro Google e pesquisei "pensar compulsivo"... E me deparei com um áudio, no qual reconheci sua voz... Fui pro canal e reconheci também a fala da Deca. Depois os demais confrades... Não parei mais. Vocês não sabem o quanto sou grata pelo trabalho de todos vocês... Cada um de vocês me são muito especiais... Eu não poderia deixar de agradecê-los por tudo isso que venho percebendo e me libertando. Por favor, se possível, transmita à todos a minha enorme gratidão.
— Você tem perfil no Face?
— Olha, não tenho não, mas estou pensando em montar um.
— Temos um grupo fechado com vários confrades que estão igualmente se debruçando no paradigma. Nesse grupo, temos muito material em PDF, bem como várias indicações de filmes que apontam para o paradigma. Você pode se beneficiar, com certeza, da troca com outros confrades que falam essa nova língua. Se quiser, quando montá-lo, entre em contato que lhe adiciono no grupo. Temos também as reuniões pelo Paltalk e, agora, estamos começando também, bate-papos mais descontraídos pela ferramenta Skype. Também estamos nos encontrando, pelo menos uma vez por mês, no Centro Cultural Vergueiro.
— Que bacana! Vou ver se consigo montar logo uma conta no Face.
— Fico feliz por você! Desfrute!
— Olha, mais uma vez obrigado!
— Está tudo certo! Cuide-se bem! Fico no aguardo do seu contato.
— Está bem! Transmita um abraço para a Deca! Tenho me identificado muito com suas falas!
— Apareça na Conferência On-line! Esperamos por você! Um abraço e vários chutes nas canelas!
— Obrigado! A gente se fala! Até mais!
— Até.
Ao fim da ligação, mais que depressa, retornaram os pensamentos da matinal invasão; em silêncio, a tudo observava.
Outsider