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Observe uma criança, enquanto imita a voz e o idioma de sua cantora ou cantor preferido, totalmente absorvida em sua cantoria, em sua imitação. Ela não está preocupada por não entender aquilo que canta; não está preocupada com o domínio do idioma, pois encontra-se totalmente envolvida em sua linguagem própria. Não está preocupada com sua performance, muito menos se está sendo compreendida ou não. Ela está contente por poder soltar ao ar sua sonoridade que é acompanhada pelos graciosos movimentos de seu pequeno corpo. Isso, quando numa criança, tem sua graça, tem sua beleza, tem sua leveza. Com certeza, um dia, também vivenciamos desses momentos. O que me parece um problema é o fato de que, para a grande maioria, há uma conformação à este tipo comportamento pelo resto da existência. Continua-se a imitar, continua-se a se divertir com uma sonoridade que não lhe é própria e que nem o próprio adulto parece conseguir entender. A graça, a beleza e a leveza se perdem — e não poderia ser diferente — uma vez que, ao insistir nesse comportamento, estes adultos adulterados, privam-se da descoberta de seus talentos, de sua originalidade e de sua criatividade. Além do mais, já não conseguem mais soltar a voz com a mesma intensidade, pois o vírus da comparação parece afetar suas cordas vocais e a preocupação com o olhar alheio, feita uma estreita, grossa e pesada corda, limita-lhes os tímidos movimentos. Assim, pela conformidade à imitação, o gracioso Reino dos céus da infância, queima-se no enxofre do padronizado inferno dos adultos.
Outsider