5h15m. O escuro findar da madrugada é frio e com forte garoa.
Apesar de estarmos em tempos eleitorais, do alto dos postes, lâmpadas de mercúrio lançam seu amarelo brilho no judiado asfalto molhado.
Os ônibus, como sempre em acelerado, completamente tomados de passageiros, têm seus vidros fechados e bem embaçados. Mal se vê o rosto de seus motoristas.
No caixa da padaria, Claudinho, com sua grossa barba por fazer.
Em cantos opostos do balcão, dois clientes silenciosamente tomam o café há pouco feito por ele.
Peço uma média, pão integral com requeijão.
Um guardanapo de papel, uma caneta, alguns apontamentos entre goles do café.
O segurança retira a última coluna de ferro pela qual as pesadas portas de aço são fechadas.
Os jornais do dia, com as mesmas noticias, sempre estampadas em diferentes cores e diagramações, como de costume, ainda não se encontram em seu suporte.
5h30m. Um sistema, uma ficha de controle de consumo, um número envolto em códigos de barra, um bip e o caixa se abre.
- Claudinho, é preciso pagar? – brincou ele sorrindo.
- Ôcha! Vai vendo só que coisa doida: nessa hora você já acordado, gastando R$3,00!
- Ainda bem que estou acordado e vendo! Tem muita gente que até essa hora, em sua zona de conforto, dorme sob as cobertas da inconsciência...
- Ôcha! Tá doido!
Dois sorrisos, um bom dia, um aceno com a cabeça e seguros passos sob a garoa ainda mais forte.