"Liberta o si por meio do SI".
— Bhagavad Gita, Cap. VI, 5
"A realização espiritual pode ser obtida em qualquer plano por contato com o Divino, ou pela percepção do SI interno, que é puro e intocável pelos movimentos exteriores. A Supramente é algo transcendente — uma Consciência-verdade dinâmica que ainda não está aí, algo a ser trazido de cima".
— Sri Aurobindo - A consciência que vê
X: E aí Out: você e a Deca estão legais?
Out: e ai X? Por aqui, tudo bem!
X: legal...
Out: e você? Como vai essa mente?
X: cara, estou bem tranquilo; estou num estado ao qual nunca estive.
Out: fale mais sobre isso.
X: como se eu estivesse num estado de atenção impressionante a tudo que
me acontece fora e dentro; minha intuição está impressionante, estou
antecipando tudo e vendo tudo. Há uma segurança interior como nunca tive antes,
nada está me abalando mais, absolutamente nada! Olho e vejo as ilusões que eu
mesmo quero criar pra mim mesmo e não entro mais em nenhuma. Estou vendo
claramente as ilusões, como se tudo fosse uma tela mental. A voz do silêncio
está aumentando na minha cabeça; tem hora que me parece que vou adentrando em outras
realidades dentro de mim mesmo...
Out: fisicamente, quais as ocorrências?
X: não sinto nada; uma solidão incomum.
Out: fale sobre essa solidão.
X: uma vontade de ficar muito comigo mesmo, sem a necessidade de falar
com ninguém. Algo muito estranho, onde tenho percepções que nem consigo transmitir;
uma expansão que assusta. Cada vez quero mais ficar no silêncio; o silêncio me
chama. Cada vez que entro no silêncio, tenho novas percepções. Vejo como são
inúteis as palavras. Sinto
a vibração de tudo ao qual me concentro, como se todo quebra-cabeça da criação
faz parte de algo maior: está tudo certo! Tudo faz parte do quebra-cabeça: só existe
a harmonia; está tudo na harmonia; está tudo absolutamente certo; um
sincronismo impressionante, onde tudo se encaixa.
Out: Considerando que até poucos dias atrás você se encontrava bastante
deprimido, não poderia ser isso um pico de "euforia"?
X: pode ser... Mas, estou muito tranquilo!
Out: bem, isso que importa. Mas diga-me: e suas manias e tendências?
Como andam?
X: estou até assustado! Estão tão frias que acho que sou outra pessoa. Está
acontecendo algo dentro de mim. O
mais interessante é que o
isolamento está sendo algo natural; isso está vindo muito forte: um isolamento consciente;
um deixar ir de tudo e de todos.
Out: e o que você vê de bom nisso?
X: sinceramente? Não sei! Mas tem algo dentro de mim que me chama pra
isso.
Out: sua expansão não lhe apresenta isso?
X: não, não! É algo que não controlo e nem sei o por que.
Out: bem, você também não controlava muitas tendências maníacas do ego; até
que ponto isso não pode ser o ego entrando pela porta dos fundos?... Uma expansão que não lhe aproxima do humano... Uma expansão que não
lhe chama para o mundo, não lhe soa um tanto estranho?
X: não sei lhe falar agora; preciso me aprofundar mais nessa questão; vou
refletir!
Out: tenha cuidado: o ego se transveste. Se paz sem voz, não é paz, é
medo, expansão sem comunhão...
X: vou observar cuidadosamente...
Out: ótimo! Nessa sua vivência do momento, o que você poderia passar ao
próximo?
X: que cada movimento da vida, cada palavra, que cada situação são
momentos que a vida está lhe apresentando para você cada vez mais olhar para
dentro de você e perceber como a vida está conspirando há todo momento a seu
favor e que tudo na vida está certo!
Out: não desmerecendo sua fala, mas, você não acha que isso já vem sendo
bombardeado em todo livrinho de auto-ajuda e nas curtas frases do facebook?
X: acho até que sim, mas, nesse exato momento estou vendo isso na minha
vida prática muito vivo; estou percebendo isso praticamente e não teoricamente
e isso é muito importante na minha visão.
Out: desculpe-me por questioná-lo assim, mas, como seu amigo, penso que
devo fazê-lo, uma vez que, POR EXPERIÊNCIA PRÓPRIA, sei dos enredos do ego com
suas múltiplas formas de AUTO-ILUSÃO ou de “polliânico escapismo nuvem cor de
rosa" (não afirmo que seja seu caso). Até poucos dias você estava bastante
confuso e deprimido; considerando que o ego vive da bipolaridade maníaca
depressiva, há que se questionar mesmo a realidade do que estamos vivendo, afinal,
está cheio de gente confusa dizendo que é “só love”, “só amor” e que “tudo está
certo!” Fique atento!
X: não posso falar por terceiros; só posso falar de algo que nas minha
observações estou percebendo; estou num estudo profundo de mim mesmo; não posso
fechar em verdades absolutas. Nesse exato momento, minha percepção me chama pra
isso.
Out: nesse profundo estudo de si mesmo, o que percebeu SOBRE SI MESMO?
X: nesse exato momento, um encaixe do quebra-cabeça: que tudo realmente
conspira a seu favor e, se você souber ler nas entrelinhas, até mesmo a
depressão...
Out: vou perguntar novamente pois sinto que você não respondeu a
pergunta: o que percebeu SOBRE SI MESMO?
X: um relaxamento natural do processo vida. Percebi isso! Percebi que
tenho que soltar tudo! Absolutamente tudo! O esforço intelectual não adianta. Preciso
soltar naturalmente tudo!
Out: o que percebeu SOBRE SI MESMO?
X: o esvaziar, o soltar, esquece o intelecto...
Out: isso mesmo, deixe o intelecto de lado e me responde: o que percebeu
SOBRE SI MESMO?
X: aí que está: não existe resposta!
Out: ok!
X: a própria resposta é do ego! Só existe o esvaziamento.
Out: No início de nossa conversa você apresentou um monte de palavra
bonita; escreveu pra cacete, de modo disparado, mas, quando pergunto sobre “você”,
você se mostra evasivo e me dá uma resposta que me soa bem intelectual: "a
própria resposta é do ego".
X: as palavras são muito complicadas e dão interpretações difusas.
Out: ok!
X: vou tentar expor de uma outra maneira...
Out: antes, olhe bem para a pergunta: o que percebeu SOBRE SI MESMO?
X: não existe percepção sobre si mesmo nesse estado.......... ponto!
Porque o si mesmo não existe......... ponto!
Out: Ok! Fechamos por aqui!
X: ok!
Out: um abraço, confrade!
X: abraço!