Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

30 agosto 2011

O confronto da reta final

É preciso estar de olhos bem abertos para as tentativas de auto-boicote criadas pelo nosso pensamento condicionado, nosso ego, neste processo de reconhecimento de nossa natureza real. Neste processo de auto-descobrimento, de auto-revelação, algo é IMPORTANTÍSSIMO: estar alerta nos momentos em que estamos desprevenidos. Estar atentos aos momentos em que estamos desprevenidos a possíveis investidas mentais, a possíveis estímulos internos e externos geradores de dispersão. Percebo que quanto mais nos aproximamos de nossa real natureza, mais o pensamento, o ego, nos bombardeia por todos os lados, com bombardeios que buscam pela identificação, através da qual ele pode dar continuidade a si mesmo. O pensamento se alimenta através da identificação que ocorre quando estamos desatentos. O pensamento, com certeza, buscará todo o seu pacote de memórias, de experiências, de situações vivenciadas, seus velhos temores, o que lhe é mais querido, tudo será jogado de forma disforme, sem lógica, sem coerência, sem uma sequencia lógica. A função destes ataques é criar a identificação que leva a crise, a ansiedade, ao isolamento, ao desespero, a letargia. Em muitos casos, a identificação é tão grande que a pessoa pode acabar por cometer uma loucura; quanto mais próximos do confronto final, maiores serão os ataques do nosso "único e real inimigo", que é o nosso pensamento condicionado, nosso ego, com todas suas imagens auto-centradas. Nesses períodos, sem a prática do contato consciente com esta presença que nos habita e na qual somos, esse enfrentamento tão necessário para a descoberta da verdadeira liberdade humana, acaba por não acontecer.
Para quem sempre foi adestrado para "fazer algo", para "tomar uma posição", "para reagir", para "fugir", ficar só na observação "sem escolhas" parece algo impossível, além de não parecer funcional. Somos educados para estar no controle, não para se soltar e deixar fluir, fluir no Ser que nos faz ser. Como diz minha esposa Deca, "quando a coisa pega parece impossível mesmo a observação". No entanto, esse é o momento crucial, o momento de via cruxis, onde se dá o cruzamento de nossa mente e coração, cruzamento este que nos tira de uma existência numa horizontalidade sem vida, para a verticalidade vivificadora do Ser. Somente esta prática da atenção constante neste centro vital é que pode nos impedir de alimentar as insanas sugestões que criam toda forma de identificação egóica, sempre condicionada, totalmente contaminada pela rede do pensamento.
Estou revendo todo meu processo, revendo as experiências de pessoas próximas que desistiram em meio do caminho. Estou vendo ele querendo abortar este maravilhoso momento de auto-descoberta... Eu só olho para o danado e percebo o porque que em tantas outras vezes foi tão difícil está observação e o porque de a maioria das pessoas acabarem fugindo deste confronto no "elevador do ser"... Faltava a maturidade. Elas fogem, porque chega a ser terrificante, parece que você vai enlouquecer, mas, na verdade, é algo totalmente contrário: trata-se de um processo de desenlouquecimento. Isto parece ser somente para homens e mulheres de saco roxo, homens e mulheres de boa-vontade. É preciso muita atenção, porque este nosso único inimigo interno, sabe muito bem quais são os nossos pontos fracos. Ele fica falando o tempo todo, te colocando em projeções de situações que causam sofrimento — caso você se identifique —, situações que pelas probabilidades nem vão acontecer, visto que não passam de "filminhos de terror", filminhos estes que querem fazer com que você desista deste abençoado processo de libertação, deste abençoado processo de revelação de sua real natureza.
Ele, o ego, por não querer morrer, por não querer ceder seu lugar a sua real natureza, tenta fazer com que você se identifique com toda forma de personagem doentio. O lance aqui é assistir tudo, ver todo o cataclista, toda a confusão tentando se instalar, sem qualquer forma de reação. Isso para o intelecto soa como algo destituído de inteligencia e, mesmo o corpo, por não suportar os efeitos deste confronto, as somatizações, que é outra forma de desfoque criado pelo ego, acaba optando pelas antigas reações que acabam abortando o processo do nascimento de um ser não fragmentado.
Temos a tendência de correr para os ombros e ouvidos de quem quer que nos escute, mas, não temos a tendência de nos apoiar nos ombros e ouvidos amorosos deste Ser que nos faz ser. Quando corremos ao outro, o que muitas vezes pode ser bom, nos impedimos de ficar com o que é melhor. Se queremos realmente entrar em contato com nossa real natureza, precisamos nos abrir para o "bom combate", abrindo mão de toda forma de dependência psicológica que impede o consumar desse encontro final com a verdade, com a nossa verdade, com a nossa real natureza. Temos que nos abrir a essa observação de tudo que ocorre em nossa mente, em nosso corpo, em nossa psique, se abrir se qualquer forma de defesa, de resistência. Se formos sérios, se dedicarmos a paixão necessária a essa observação sem escolhas, sem resistências, sem qualquer forma de fuga ou de dependência psicológica, "algo" totalmente novo, totalmente desconhecido, se apresenta em nosso centro, no centro de nosso ser.
De coração, espero que você não acredite em mim: ouse, experimente e descubra por si mesmo! Um fraterabraço e um beijo em seu coração.
Nelson Jonas Ramos de Oliveira

Que sucesso é esse?

Slave Pupet

É muito rico esse estado resultante do contato consciente com sua real natureza, com o Ser que lhe faz ser. Através deste contato, um novo olhar se faz presente, o olhar que vem do coração e que sobrepõem numa proporção infinita a antiga visão dos olhos que pensavam ver, e que pensavam ao ver, ao invés de sentir. Perceber o quanto fomos e, como muitos ainda se permitem serem castrados numa sociedade machista, preconceituosa, é algo que não tem preço. Essa percepção traz consigo uma enorme e indescritível liberdade de ser.  
Esta meditação teve seu início, após a leitura de um comentário feito numa postagem do Facebook de um conhecido. Este conhecido, começou a postar algumas frases que geram reflexão, frases com conteúdo nutritivo, frases que encaminham para uma nova forma de estar na vida de relação, uma nova forma de ver e participar do mundo. Mais que depressa, alguém se manifestou com uma daquelas "brincadeirinhas", com uma daquelas "piadinhas" com a castradora conotação sexual, pela qual fomos adestrados, formatados para a não expressão livre de sentimentos, adestrados para pensar que, pensar sobre os acontecimentos do dia-a-dia, é coisa para "boiola", é pura "viadagem" e não coisa de "homem sério", de "homem de sucesso". 
É importante deixar claro aqui, que não estou com este texto, colocando nada como "pessoal", por favor, espero que entendam isso. O que pretendo com ele é só o compartilhar das minhas percepções, afinal, este tipo de reação, não é uma reação "pessoal", mas sim, algo que se encontra institucionalizado, fortemente enraizado nesta cultura machista castradora limitante, em que a grande maioria se encontra inserido e escravizado. Homem que é homem tem que beber muito, tem que fumar muito, tem que ganhar muito dinheiro, tem que "comer" muita mulher, tem que ser "o cara", tem que ser "o esperto", tem que ser "ambicioso", tem que ter "seu time do coração". Se você não é ambicioso, não é digno do respeito fundamentado na atenção interesseira, fruto da abafada inveja pessoal, inveja esta, que é o núcleo desta cultura machista castradora limitante. Esta inveja é que nos mantém como gladiadores, em nossas armaduras móveis por esta imensa arena de cimento armado. 
Nestes meus anos de busca, já me deparei com várias destas "piadinhas", entre elas, a de que "cuidar da beleza interior, é coisa para decorador e design de interiores". Homem que é homem tem que ter na mente números, estatísticas, coloridos gráficos de crescimento e, ao lado da cabeceira de sua cama, uma enorme coleção de carnês para pagar. Homem que é homem tem que ser um amante do trabalho e ter o pouco tempo que lhe sobra para se dedicar de maneira superficial, as demais situações em que se encontra envolvido. Você tem que ser um trabalhador, nada de ser um meditador. Você tem que ser ambicioso, você tem que buscar ser um buscador do sucesso... 
Mas, como ver inteligencia nessa corrida pelo sucesso? Que sucesso é esse que nos priva de relações de verdadeira intimidade, de relações que nos provocam para o melhor de nós mesmos, que nos provocam para a descoberta de nossa real natureza? Que sucesso é esse, onde o conteúdo da mesa do local de trabalho, a tela de seu computador de trabalho, recebe mais atenção do que o conteúdo da mente e coração de seus próprios filhos e de suas pessoas mais próximas? (Se é que esta pessoa sabe o que significa ser próximo de alguém). Que sucesso é esse em se permitir ter corrompido seus poucos valores reais e participar da corrupção generalizada de outras tantos seres humanos com quem mantém contato em seu dia a dia? É bom lembrar que corrupção é muito mais do que passar dinheiro por debaixo da mesa. Corrupção é se permitir ir contra a tudo que diz seu próprio coração, por demais estrangulado por essa busca insana por sucesso. Que sucesso é esse que está nos tornando prisioneiros de sistemas de seguro, carros blindados, escoltas, casas com enormes muros, repletos de câmeras, fios elétricos, grossas cercas de arames farpados, condomínios separatistas, salas VIP's, que nos faz temer qualquer um que se aproxime de nós? Que sucesso é esse que nos faz "incansáveis cansados" caçadores proprietários de bens transitórios e nos mantém totalmente miseráveis no que diz respeito a propriedade real e repousante que nos é outorgada quando do conhecimento de nossa real natureza? Que sucesso é esse onde uma das maiores preocupações está no modo como cada um usa sua genitália e não no modo como faz uso de sua mente e coração? Que sucesso é esse em querer defender bandeiras, camisas e brasões que sustentam discórdia, violência, confusão e separação? Que sucesso é esse que elege mediocridade e descarta tudo o que tem real beleza e arte? Que sucesso pode haver em ser um eterno imitador, uma pessoa de segunda mão, um escravo dos ditames da moda, alguém propagador de um sistema de produção em série que abafa toda autenticidade e originalidade? Que sucesso é esse em que se vive para manter uma "imagem", uma imagem que, por mais que edificada, não consegue silenciar aquela incessante voz interior que nos acusa de ser uma farsa?
Quer saber? Não me importo muito com esses rótulos que possam tentar colar na imagem que carregam a meu respeito. Que me achem boiola, um simpatizante da "viadagem", um cara que não merece respeito e atenção, alguém que não tem nada de sério, um fracassado invejoso, uma farsa. Não abro mão deste modo simples de ser, onde se faz presente uma até então desconhecida, amorosa capacidade de visão, capacidade esta, que não corrompe e que agrega, mesmo aqueles que enxergam na busca do auto-conhecimento algo que possa ser motivo de preconceituosa piada de conotação sexual, afinal de contas, estas pessoas não podem ser responsabilizadas. Elas nunca tiveram tempo para meditar, elas nunca pensaram de fato, elas são pensadas, são vitimizadoras vitimas de pessoas que nunca exercitaram a capacidade de meditar. Se tivessem tempo para meditar, com certeza, cairiam no riso ao perceberem que suas vidas, igualmente a minha, até então, foi uma grande piada de mal gosto. 
Um fraterabraço e um beijo em seu coração.

Nelson Jonas R. de Oliveira

29 agosto 2011

Sobre o ato de observar

Perdendo a cabeça

Observar o ego não é nada fácil, uma vez que o danado é pra lá de matreiro. Ele busca constantemente se disfarçar, através do desfoque de si mesmo. Esse desfoque se dá na constante formação de inimigos externos, na criação e tentativa de solucionar problemas por ele mesmo criados, na formação de incessantes perguntas e suas consequentes buscas de respostas, em disputas, em confrontos, em debates, em constante estados de ansiedade e medo, na busca das defesas isolacionistas, na proteção de seus apegos, suas máscaras, seus dilemas. Sua tática de sobrevivência se encontra sempre em alguma manifestação de desfoque, desfoque este que retém nossa energia vital, nos mantém num estado de letargia que nos deixa totalmente distantes da prática do contato consciente com a nossa real natureza. Distantes desta consciência real do que somos, nos identificamos, acreditamos ser a nossa natureza os absurdos e conflitantes conteúdos que passam de modo acelerado em nossa mente, criando diversas formas de somatizações corporais, sendo a mais comum, nossa conhecida ansiedade, que nos leva sempre a alguma forma de compulsão. Não somos o conteúdo que passa em nossa mente; somos aquele estado consciente, que se faz consciente de todo conteúdo insano, com suas exigências descabidas, — tanto de nós como de terceiros —, que passam em nossa mente. Esse estado de observação, não nos é natural. Não fomos educados para isto, ao contrário, fomos educados para acreditar na esperteza de nossa mente, de nosso raciocínio, de nossa personalidade. É lógico que, ao princípio desta prática da observação, tenhamos dificuldades, algumas confusões se apresentem, uma vez que, quem sempre foi rei, nunca quer perder sua majestade. Nosso ego se rebelará feito criança mimada. Aqui, nada mais se faz necessário do que assistir seu espernear, sua birra, suas tentativas de instalação de caos interior. Observar tudo que se passa, sem querer escolher, nomear, rotular, ou qualquer outro tipo de ação. Apenas observar. Nessa observação, quando menos esperamos, "algo" acontece, "algo" se manifesta e, nessa manifestação, descobrimos que não estamos sós. Descobrimos uma Presença, descobrimos nossa real natureza. Não acredite, experimente!

Nelson Jonas Ramos de Oliveira 

28 agosto 2011

O teste nosso de cada dia nos dai hoje

The temptation of Adam contemporary

Comecei bem o dia por aqui: ao abrir minha caixa de e-mail, deparei-me com um daqueles avisos de comentários, do tipo marimbondo venenoso,  claro, como sempre, devidamente protegido pela opção de postar de forma anônima. De graça, permitido pela Graça, uma doação psicológica de terceiros trazendo o material necessário para o auto-conhecimento. Interessante ver como o "machucadinho ego" tem a tendência de se identificar, de se agarrar e de reagir de forma automática, com toda sua conhecida carga de desamor. É através dessas observações que fica latente a beleza do encontro com sua natureza real, natureza essa que consegue, de imediato, ver o falso, sem a antiga identificação doentia com todo seu pacote de resistências conflituosas. Onde não existe esse amoroso filtro desta Presença, há tão somente um revidar de sofrimentos, sustentados em puro intelectualismo. É uma Graça ter a consciência de que o "outro" tem todo direito de expressar o conteúdo que carrega em seu interior, inclusive, de se proteger com o manto do anonimato que impede a comunicação aberta. 
Interessante também, é a constatação desse vício que carregamos por anos, de buscar por inimigos externos, de querer confrontar a realidade do outro, através do uso de nosso aparelhinho interno, que chamo de "iluminômetro". Dou a isso o nome de "outrite", essa doença do desfoque de si mesmo... Fui uma de suas grandes vítimas, por 47 anos. É uma Graça perceber que o inimigo nunca está lá fora, está aqui mesmo — por anos "dormimos com o único inimigo". Perceber que dedicar tempo e energia para descobrir a possível irrealidade do estado de ser do outro, não pode de forma alguma me libertar deste infectado estado de buscar por controvérsias públicas, que nada tem de amorosidade ou Presença, não tem preço. Poder perceber as tentativas do velho John Maclane, nosso ego duro de matar, de usar destes acontecimentos para poder novamente ganhar poder e, através desta percepção, vêr sua tentativa frustrada, é uma verdadeira benção. Saber que não é preciso acrescentar mais sofrimento, conflito e confusão na vida destes irmãozinhos de intelectual crítica ácida, saber que os mesmos ainda se encontram vitimados por esse brejo fétido no qual você ali esteve por tantos anos, sempre tentando se agarrar, sempre tentando não afundar, traz consigo uma leveza, um novo olhar que coloca, de imediato, tudo em seu devido lugar.
Estas situações são verdadeiros suportes para o auto-conhecimento, para a formação da consciência da necessidade da prática constante deste contato consciente com esta Amorosa Presença, pela qual, é mantida nossa autonomia psicológica, nosso estado de unidade interna, estado este, onde não mais ocorre a nefasta identificação com as conflituosas doações psicológicas de quem ainda insiste em compartilhar, de modo doentio, seu enorme sofrimento interno. Não há inteligência amorosa em querer revidar a manifestação proveniente da ausência de inteligência amorosa. Como em outros tantos casos, aqui, a melhor opção, é o silêncio.

Nelson Jonas Ramos de Oliveira

27 agosto 2011

Essas adoráveis sincronicidades...

Existem acontecimentos no dia a dia que nos fazem sentir que não estamos sós... Hoje, às 5H52 m postei um texto que me foi inspirado na frase de uma campanha da Johnnie Walker (ser notado ou ser notável)... 12H45m, recebo a visita de um grande amigo que me brinda com uma garrafa de Johnnie Walker Black Label... Essas adoráveis sincronicidades...

Ser notado, ser notável ou apenas ser?

Vomitando sabedoria livresca

Parece que existem situações que são mais comuns do que parecem, independente da fase, do instante de consciência que estejamos vivenciando. Essas situações comuns, não são tão comuns como possa querer apresentar nosso limitado conhecimento. Estou aprendendo a sentir, muito mais do que raciocinar, que mesmo aquelas situações que não compreendemos no momento em que estão ocorrendo, tem lá sua devida função em seu existir. Por todos os locais em que passei nestas duas décadas de buscas para o encontro de minha unidade interna, de busca de respostas para os meus silenciosos conflitos internos, sempre me deparei com aquilo que, só por agora, nomeio como "pessoa perguntadora compulsiva conturbada e controversa". Deixe-me falar um pouco mais sobre o que vi no decorrer da minha relação com estas pessoas. Em todos estes locais, sempre percebi que existem pessoas que não estão nem um pouco preocupadas, ou melhor abertas, para ouvir algo, elas sentem uma profunda, inquietante e imperiosa necessidade de externar seus imperiosos, inquietantes e profundos sentimentos que lhe causam toda forma de compulsão, conturbação e um modo controverso de se apresentar diante da vida de relação. Hoje, fica claro que estas pessoas não se comportam deste modo por sentirem prazer neste tipo de comportamento, mas sim, por estarem num terrível, solitário e silencioso sofrimento interno.
Você pode estar me achando prepotente e talvez se perguntando: como você pode afirmar isso? Amorosamente lhe respondo: posso falar com conhecimento de causa, pois, por várias vezes, fui um deles. Por ter nascido num lar disfuncional, por ter sido educado num sistema educacional disfuncional, sempre me vi exposto a vergonha tóxica, vergonha esta que sempre limitou a minha necessidade de expressão, minha necessidade de expor minhas dúvidas, meus medos, minhas vergonhas, minhas alegrias, minhas descobertas, de modo assertivo, não agressivo. Vivi em ambientes, onde sempre, de forma direta ou indireta, tive cerceada, minha liberdade de expressão. É fácil ter-se uma idéia do que isso pode significar para um ser humano em termos de resultados psicológicos, espirituais, o quanto que isso nos fragmenta interiormente. Desculpe-me pelo exemplo, mas, foi este que agora me ocorreu.... Imagine você, ter a amarga experiência de comer um peixe estragado... Imagine o mal estar decorrente deste triste acontecimento...  Todos nós sabemos o que é a e experiência de comer algo que não cai bem em seu estomago... O mal estar, a tontura, o enjoo, a náusea, as dores de cabeça a ânsia, a letargia física, o impulso para vomitar, seguido do medo de vomitar... Mais uma vez, me perdoe pelo exemplo!... Você sente o mal estar, mas, devido as lembranças que carrega na memória, relativas ao terrível mal estar ocasionado durante  vômitos  passados, você se segura até não poder mais... Então, você se rende, se prostra e coloca tudo para fora de um modo em que não faz o menor uso do pensamento... É sujeira para tudo quanto é lado... Fica aquele cheiro horrível no ar, que infecta as narinas de todos os presentes... No entanto, o alivio é imediato. Pois bem, o mesmo se dá no que diz respeito "as comidas psicológicas por demais estragadas" que nos fizeram engolir — e que nos fizemos engolir através de escolhas insensatas — durante tantos anos de nossas vidas.  Estas pessoas, estão se sentindo mal. Elas não precisam ser atacadas por nós, pois estão sofrendo, estão pagando seu próprio preço em sofrimento, por ainda não terem adquirido a consciência de um outro modo de se expressarem. Elas não podem mais se sujeitar a continuar caladas, elas precisam falar... Foram anos e mais anos de castração... Precisam vomitar seu mal-estar.
Em menor ou maior grau, todos nós sabemos bem o que essa faze significa, essa faze da "pessoa perguntadora compulsiva conturbada e controversa"... Uma pessoa que sofre, é uma pessoa conturbada e, sendo conturbada, tem que ser controversa, não há outro modo. Se houvesse, não haveria confusão em seu interior. Todos nós sabemos bem o que é aquela necessidade de ser aceito, de ser notado, de ser notavél, todos nós sabemos o que é essa contradição que não nos outorga a verdadeira liberdade do espírito humano. Não nascemos para ser notados ou mesmo, para ser notáveis, nascemos tão somente para experimentar a delicia de apenas ser... Ser, neste Ser que nos faz ser. Como diz um amigo, isso é simples, porque é muito simples. No entanto, tente afirmar esta simplicidade para aquele que ainda é vitimado por esta compulsão, por esta compulsão pelo papaguear em todo canto que encontre oportunidade... Essas pessoas, nesse momento, o que mais querem, é tão somente falar, elas precisam disso, elas precisam se esvaziar... Como diz a antiga sabedoria chinesa, uma xícara só serve um bom chá, quando se encontra vazia. Essas pessoas, precisam se esvaziar... O problema, é que muitas delas, depois de se esvaziarem, não se dão ao trabalho de olhar para o "vazo sujo", que é uma representação de sua própria mente, para reconhecerem o "alimento pútrido"  que por tanto tempo mantiveram dentro de si. Ao evitarem essa auto-observação, que inicialmente pode ser dolorosa, pode trazer mal-estar, pode fazer subir "cheiros desagradáveis", se impedem de reconhecer aquilo que lhes faz mal, e sem esse reconhecimento, continuam a se alimentar de forma indevida.
Diz-se que, insanidade, é fazer as mesmas coisas esperando por resultados diferentes... Pois bem, isso serve tanto para estas pessoas, como para nós mesmos... Somos muito rápidos em nossas reações emocionais negativas diante de tais acontecimentos onde estas pessoas compulsivas se encontram presentes... Para muitos de nós, falta o recolhimento relâmpago no silêncio do Ser, onde, através deste recolhimento, surge em nós, aquela assertividade amorosa e abarcante, assertividade esta, que muitas vezes, é o remédio que estas pessoas necessitam: ouvidos e bocas amorosas, ouvidos e bocas que validem, através da compaixão, todo aquele sofrimento que eles, por ainda estarem inconscientes, não consegue digerir. Os que conseguem ser agraciados com alguém portador de uma escuta atenta — que foi o meu caso e a quem sou profundamente agradecido — se encontram repentinamente, atravessando um portal que as leva a níveis superiores de bem-estar e consciência. Outros, menos felizardos, ao se depararem com nossa nefasta resistência, de forma inconsciente, acrescem ainda mais em seu conturbado interior, mais grossas crostas de vergonha, rejeição e agressão, agressão esta, tanto para consigo mesmo, como para com os outros. Claro que uma pessoa que vive neste tipo de sofrimento solitário, não tem a menor possibilidade de se importar com a manutenção do bem-estar comum. Ela sofre de uma tremenda dor, de uma tremendo mal-estar e, com certeza, vai vomitá-lo em cima de quem lhe estiver mais próximo.
O pior de tudo, é que este tipo de comportamento, por muitos, é alimentado mesmo quando se depararam com novas abordagens psicológicas, filosóficas, espirituais. Tudo que encontram pelo caminho, por todos os locais e livros que se apresentam diante de seu olhar adoentado, ao invés de ser usado para a libertação de si mesmo, é usado como uma enorme pedra de tropeço, ou como um ferrolho que impede a abertura deste portal de consciência superior. Esta "pessoa perguntadora compulsiva conturbada e controversa", para o seu sofrimento e dos demais que a cercam, continua acreditando que "espiritual bafo de boca cozinha ovo cósmico". Demora muito tempo para que estas pessoas percebam que "ação é a palavra mágica", e quando me refiro a ação, me refiro a ação que é uma "não-ação": refiro-me a rendição silenciosa que é a solução para a instalação de uma escuta de mente e coração abertos, sem o que, não há como sair desse circulo vicioso do perguntar compulsivo, que é o fruto estragado gerado por anos e anos de excessiva exposição a ambientes disfuncionais.
No entanto, o que sinto ser muito mais importante, muito mais importante do que o entendimento quanto aos possíveis motivos que fazem com que estas pessoas se comportem desta maneira compulsiva e conturbadora, é o entendimento de como nos comportamos diante delas... Elas nos proporcionam, de modo gratuíto, — por isso é uma Graça —, uma maravilhosa lição de auto-conhecimento, isto é claro, se estamos na prática da atenção plena, caso contrário, novamente nos identificamos com nossos pensamentos e, mais do que depressa, temos uma "recaída pensamental" e passamos a exercer aquilo que aprendemos em nossa educação disfuncional: rotular, rejeitar, castigar, punir, banir, gerar ostracismo ou outras tantas manifestações egocêntricas de desamor, de não compaixão. Se não estamos atentos, se não estamos centrados neste espaço interno de silêncio e amorosidade, igualmente como estas pessoas, passamos a atacar o mensageiro sem receber de mente e coração abertos, a mensagem de cura, que através dela, chega até nós. Quase sempre nos esquecemos de que, para muitos dos nossos mal-estar, em muitas etapas do nosso desenvolvimento consciencial, o melhor remédio é aquele que para nós, traz na alma um gosto profundamente amargo. Em vista disso, cada dia tenho mais vivo dentro de mim, este bem-aventurado sentimento que se instalou quando da queda da minha resistência interna: Por menos que eu agora compreenda... Está tudo certo! Tudo segue um amoroso plano, plano este que minha limitada mente não consegue compreender. Se quiser compreender, preciso me prostrar e, em silêncio, trazer minha mente, em direção a esta chama quente que faz arder meu coração. Só aqui, o remédio de que tanto preciso, não possui aquele conhecido e tão evitado gosto amargo. Com esta consciência em mente e coração, não há mais espaço para o desejo de ser notado ou de se fazer notável. Com esta consciência, o grande lance é apenas continuar caminhando e, nesse caminhada, ser e desfrutar da leveza e amorosidade manifesta pela sua real natureza!
Um fraterabraço e um beijo em seu coração.
Nelson Jonas Ramos de oliveira 

24 agosto 2011

Um estado disponível de ser

Marcos Gualberto e Nelson Jonas

E.R.: Fala, Nelsão... Está ocupado?
N.J.: Fala irmão, beleza?
E.R.: Na paz. Está ocupado aí?
N.J.: Isso é ótimo. Não, estou Deusocupado.
E.R.: Legal! E o satsang presencial, foi legal?
N.J.: 10 x 10 x 1000
E.R.: Legal! Muito bom! Me fala uma coisa...
N.J.: Diga!
E.R.: Antes e depois desse encontro com o Marcos, mudou alguma coisa? Aconteceu algo que você não previa? Algo novo? Ou está tudo normal como antes?
N.J.: Antes de mais nada: Marcos é só um instrumento; isso precisa ficar claro. O importante é a mensagem e não o carteiro que a trás. Está claro?
E.R.: Sim! Concordo.
N.J.: Ok! Acho que muito antes do Marcos, algo já estava em andamento dentro de mim. O encontro com o Ser através de um organismo limpo (Marcos) foi a precipitação, o fermento que possibilitou a bem-aventurança. Tudo mudou e nada mudou!
E.R.: Entendi!
N.J.: O mundo continua o mesmo, mas meu olhar mudou, meu sentir se instalou. Eu vivia na mente, agora, estou no coração. Sinto uma presença que se instalou.
E.R.: Legal! Isso é maravilhoso!
N.J.: Creio que todo trabalho anterior de descondicionar, preparou o terreno para este evento. Sinto que não estou pronto, estou vivenciando um processo, sinto as coisas ocorrendo, mas, na paz.
E.R.: Daqui pra frente, então, só tranquilidade e paz... Que bom isso!
N.J.: Na tranqüilidade.
E.R.: Legal!
N.J.: Agora, há um trabalho de vigia, de manutenção deste estado, numa atenção quanto as tentativas da mente assumir o domínio novamente.
E.R.: Legal.
N.J.: É preciso atenção, pois os impulsos para isso vêm de todos os lados, só que agora, há algo aqui no centro do peito, algo que não sentia antes. Agora há um centro onde posso repousar a mente, os sentidos, o olhar... Há uma Presença Calorosa, Amorosa, Presença que acarreta um estado de Unidade Interna, algo nunca sentido antes. Há uma dedicação nova em manter uma atenção, manter um contato consciente, momento a momento, com esta Presença. O interessante, é que a necessidade de ler, sumiu. A necessidade de assistir filmes, procurando por respostas, sumiu. A necessidade de pesquisar sites e blogs, sumiu. A necessidade de evitar pessoas e lugares, sumiu. Tudo parece absurdamente novo.
E.R.: Legal!
N.J.: A pressa, sumiu, a resistência, sumiu, a necessidade de dar a última palavra, sumiu, a necessidade de estar sempre com a razão, sumiu... A seriedade ácida, sumiu, a disputa por conhecimento, sumiu...
E.R.: Eita! Muito bom. Então, você está na paz! Está tranqüilo!
N.J.: Sinto que tudo isso só pode ser mantido, se mantido for este contato consciente com esta Presença. Quando esta consciência desta Presença se torna fraca, forte se torna as investidas mentais para a re-identificação com o passado modo de ser. Mas, há agora, um "despertador interno", tipo um splinker da alma, que dispara quando percebe que o contato está ficando fraco. Há uma necessidade de silêncio. Há uma visão imediata das coisas.
E.R.: Sim.
N.J.: Há um espaço entre os pensamentos, eles não sumiram, mas estão espaçados e sem a antiga violência. Os pensamentos agora são mais referentes a isto que está acontecendo, em como compartilhar... A criatividade explodiu feito milho em óleo quente... É pipoca cósmica para todo lado... Uns se deliciam com elas, outros rejeitam e hostilizam. Mas, não me importo se aceitam ou não; o lance, a alegria, está no ato de tornar disponível ao outro, numa espécie de "pegue e faça você também". Sinta-se à vontade para desfrutar, ou então, seguir com sua vida presa nas garras deste John Mclane, duro de matar... A escolha é do freguês, não sou mais responsável por consertar o mundo. No entanto, posso compartilhar do que vejo agora, sempre aberto para novos olhares mais aprofundados, com a mão aberta, sem me agarrar a nada... É isso que está rolando... Isso e mais um pouco que as palavras não alcançam.
E.R.: hum...
N.J.: Outro fator importantíssimo... Estou muito sensível a energia do outro, mesmo pela tela do computador... Isso parece loucura, mas, duas ou três palavras e já pesco logo.
E.R.: rsrs... Que legal! Isso é fantástico, é maravilhoso!
N.J.: Sim! Se vejo que ali tem espaço para troca nutritiva, vamos juntos... Caso contrário, vou para o silêncio, não o silêncio rancoroso de outrora... Isso é muito simples, muito simples... Nada de desperdiçar a lenha... A lenha, agora, é para acender este fogo, este fogo do Ser e não para atacar o outro... Pescou? Eu levo a lenha, e o Ser traz o fogo que está queimando todas as impurezas da mente... Sinto isso como um processo de cura... Também sinto que se instalou, uma nova capacidade de exercitar um "olhar relâmpago" diante dos pensamentos, sentimentos e emoções"... Nesse olhar, não sobra tempo e espaço para a identificação. Isso é uma benção, uma benção qualitativa. Textos, poemas, idéias de arte e fotografia, explodem sem o mínimo esforço...
E.R.: Entendi!
N.J.: Abriu-se um portal, podemos dizer assim... Sinto que o fator primordial para que isso acontecesse foi eu estar me sentindo totalmente impotente diante da solução do meu tédio, da minha insatisfação, mediante a ação do pensamento, da ação da mente. Cheguei num instante em que senti que não tinha mais onde ir, o que ler, ou o que assistir. Estava me sentido totalmente impotente para conseguir uma mudança em minha vida que a tornasse significativa através da observação da mente. Sentia no mais fundo de meu ser, a necessidade de algo além mente.
E.R.: hum.
N.J.: Na observação, me sentia como um cachorro correndo atrás do próprio rabo... Eu perseguia um pensamento, quando ele estava quase findando, vinha com outros sete pela porta dos fundos e pelas janelas laterais... Pescou?
E.R.: Sim!
N.J.: Cheguei num ponto de exaustão. Foi quando encontrei o Marcos, e, com poucas palavras suas, ou com poucas palavras manifestas através dele, me rendi. Quando me rendi, quando soltei o controle, algo aconteceu... E dai pra frente, você pode conferir nos textos do blog.
E.R.: Legal, muito bom, maravilhoso!
N.J.: É como se a visão, o estado de ser, passasse da digital para o 6D...
E.R.: Quero te agradecer também pelo seu trabalho e pela força que você tem dado. Você anda conosco nisso e eu fico muito grato pelo seu trabalho aí junto com o Marcos.
N.J.: Cara, como não posso fazer isso? Como não tentar facilitar que outros bebam disso? De que jeito? Isso não pode ser retido! Isso precisa ser manifesto, compartilhado!
E.R.: É verdade, concordo com você!
N.J.: Estou dando de graça, o que me foi dado pela ação da Graça! Sinto que quanto mais faço, mais me abro para que isto me derreta por inteiro... Para que isto dissolva qualquer achismo, qualquer ranso mental, qualquer ranso de resistência, qualquer entrave de disputas egóicas, de disputas imaturas de conhecimento livresco, ou de conhecimento institucionalizado... Quanto mais faço, mais observo e absorvo; quanto mais observo, mais me dissolvo... Isso está me levando a um processo de dissolver e, nesse dissolver, isso está me deixando muito leve, leve, livre e solto.
E.R.: Muito bom!
N.J.: Não há preocupações... Isso é fantástico... Nada de mundo da lua, tudo muito pé no chão, pé no chão e a mente no coração. Bem, agora preciso ir buscar a Deca no Metrô. Você vai para o Satsang de hoje a noite?
E.R.: Estarei sim.
N.J.: Nem preciso dizer que nosso bate-papo vai pro Blog...
E.R.: Abraços, irmão! É isso aí, valeu!
N.J.: Um abração e um chute búdico nas canelas!
E.R.: rsrs, legal! Valeu
N.J.: Fui

Conversa entre Ed Roney e Nelson Jonas via MSN

Pressão Social

Pressão Social, upload feito originalmente por NJRO.

A essencial arte de Cuidar do Ser

Escravos do Tempo

Hoje fica tudo muito claro: anos e décadas de cuidado com tudo que dizem ser necessário, no entanto, não o essencial. Somos educados, formatados, adestrados, amestrados a um modo de ser e estar na vida, em que qualquer atividade é mais importante do que a atividade do silêncio, do ócio, da escuta atenta da voz mansa, amorosa e suave que tem sua morada, no centro de nosso coração. Para nos afastar deste caloroso e qualitativo centro cardíaco, deste centro onde se dá todo contato consciente com o Ser que nos faz ser, nos trancafiaram nas masmorras do tempo do relógio, com suas estressantes cobranças tidas como primordiais. Juntamente com as algemas do relógio, nos aprisionaram com uma enorme variedade de "você deve", "você tem que", "você precisa", "você não pode"... Você tem que acordar cedo, você tem que trabalhar, você tem que ser o homem de sucesso, você tem que ser o cara, você tem que ser comunicativo, você tem que ser forte, você deveria pensar no seu futuro, você deveria ser como seu irmão ou como o filho da vizinha, você deveria ter sido um bom filho... Você não pode fracassar, você não pode ser sensível, você não pode escrever poesias, você não pode escolher um trabalho que não dê muito dinheiro, você não pode ouvir seu coração... Você deve negar a si mesmo, você deve se ajustar, você deve se conformar... Você deve porque aceitação é a solução! É assim e pronto!... Sim, um monte de mecanismos, um monte de condicionamentos, que uma vez instalados, devido o método da repetição, vão se tornando parte de nossa imagem irreal, aquela imagem que acaba por fazer com que nos esqueçamos de nossa Real Natureza.
É por causa desses "poderosos mantras hipnotizadores do sistema", que vamos, sistematicamente, com o passar dos anos, nos distanciando cada vez mais daquilo que nos é essencial para a manutenção de uma base diária, onde, bem-estar, felicidade, liberdade, alegria, amorosidade e compaixão, fazem-se a base de toda comunicação, fazem-se a base, da vida de relação. Por décadas fomos adestrados para de forma acelerada, inconsciente, cuidar de tudo que não seja o contato consciente com esta maravilhosa Presença que habita nosso Sopro. Fomos adestrados para ser sem Ser, para ser sem alma, para ser sem espírito, para ser uma máquina de repetição, uma máquina reagente a impulsos teleguiados, uma máquina de alimentação de desejos fabricados por terceiros. Não nos ensinaram a entrar em contato consciente com esta maravilhosa e calorosa Presença, que banha, que envolve com amor, tudo que vê, tudo que toca. Ao contrário disso, com vários sistemas de crença, que erroneamente dão o nome de religião, nos afastaram desta maravilhosa Presença, Presença que é a nossa natureza real, colocando em nossas mentes imaturas, uma idéia de um "deus", sempre distante, sempre longínquo, sempre punitivo, sempre um "fazedor de nossas vontades" — vontades estas, que não são nossas, mas de terceiros, de terceiros, que nos fizeram acreditar que estas vontades são nossas. Nos transformaram em egocêntricos pedintes religiosos separatistas. 
Nos encheram de regras, leis, conceitos, estatutos, mecânicas práticas diárias, desgastadas crenças, emboloradas tradições, um pacote muito bem apertadinho, para que de modo algum, nos fosse possível ter o tempo necessário, para a prática do desfrute do silêncio, do desfrute da não-ação, ação esta que possibilita a manifestação de um contato consciente com esta maravilhosa Presença interna, Presença que nos liberta de todos esses poderosos, limitantes e castradores mantras hipnotizadores do sistema. Não fomos educados para o desfrute do ócio criativo e quando me refiro a palavra criativo, não me refiro a qualquer coisa que possa ser manifestada através do uso de nosso limitado e separatista intelecto, de nosso limitado conhecimento. Quando me refiro ao ócio criativo, me refiro aquele estado de não-fazer, onde pela ação do sentir, uma Presença Criadora, se manifesta, em outras palavras, este ócio criativo é o grande portal desta Presença, que é a essência de toda criação. Enquanto distantes, esquecidos, inconscientes desta Presença interna, somos grandes criadores, sim, criadores de toda forma de confusão, de toda forma de conflito, de todo caos generalizado. Sem esta interna Presença amorosa, tudo que criamos traz consigo, diversas formas de confusão. 
Por anos, por décadas, repetimos a mesma rotina acelerada. Acordamos cedo, sempre sonados, cansados e tratamos de começar a "cuidar" de nossa higiene bucal, a "cuidar" de nossa higiene física, a "cuidar" de nosso cabelo, a "cuidar" da roupa que iremos vestir, a  "cuidar" de nossa alimentação matinal, a "cuidar" de nosso meio de transporte, a "cuidar" de nosso local de trabalho, a "cuidar" de nossas finanças, a "cuidar" de nossas tarefas, a "cuidar" de nossa abarrotada agenda castradora, com seus pesados compromissos, compromissos estes, que nos tornam omissos do "cuidado" que nos é essencial: o cuidado com a arte de cuidar deste contato consciente com o Ser que nos faz ser. Cuidar do Ser, não significa de modo algum, como pode de forma imatura acreditar alguém ainda preso no intelecto, que o Ser que nos faz ser, necessite de algum cuidado. Cuidar do Ser, não tem nada a ver com esta imatura, intelectual e limitante idéia. Cuidar do Ser é a essêncial prática que pode qualificar nossa vida de relação. Cuidar do Ser, cuidar deste contato consciente com esta presença que nos habita e na qual somos, é o cuidado que traz à nossa mente, uma Inteligência amorosa, nunca antes manifesta, Inteligência esta que nos liberta de forma automática, imediata, de várias ilusões, tidas como necessárias. É através deste contato, é através desta arte de cuidar do que é essencial, que é o contato consciente com este Ser que nos faz ser, que toda forma de manifestação do falso, do irreal, acaba caindo por terra, sem deixar se quer, uma marca em qualquer uma de nossas células. É através deste negligenciado cuidado, — neste cuidado do qual fomos desviados desde a mais tenra idade —, que passamos a ser uma poderosa ferramenta afiada nas mãos desta Amorosa Criação. Sem este cuidado, sem esta prática diária, sem este contato constante, momento a momento, somos vitimas fáceis da identificação mental com toda forma de impulso externo, que nos leva a automáticas reações de desamor, reações estas, provenientes de uma mente prisioneira de crenças, conceitos, conhecimentos e tudo mais que é da esfera do limitado pensamento.
Temos tempo para cuidar de um cafezinho, temos tempo para cuidar de um cigarrinho, temos tempo para cuidar de ler nosso caótico e violento jornal, temos tempo para cuidar das fofoquinhas do dia, temos tempo para cuidar de nossas mazelas ocultas, temos tempo para cuidar de nossos vícios, temos tempo para cuidar de nossos "defeitos gostosos", temos tempo para cuidar de nosso corpo em sofisticadas academias que tomaram o lugar de nossos parques, temos tempo para nos anestesiar  com nossas novelas diárias, temos tempo para cuidar de tudo, de tudo que não nos é realmente essencial. Portanto, Cuidar do Ser, significa cuidar do resgate do que nos é essencial. Cuidar do Ser, é cuidar daquilo que nos faz ser a expressão direta do que sentimos ser felicidade e liberdade, mas que, por causa de nosso adestramento, passamos anos e décadas buscando em lugares indevidos, em lugares errados. Cuidar do Ser é a ação do cuidado essencial que nos faculta o contato com a fonte de toda felicidade, com a fonte de toda liberdade e amor. Cuidar do Ser é cuidar do contato com nossa real natureza, esta natureza que não está nos limites da mente, mas sim, no infinito e caloroso espaço sem espaço do coração. Em vista disso lhe pergunto:
Hoje, você já cuidou do contato consciente com o Ser que lhe faz ser? Conseguiu sentí-Lo?, Conseguiu sentir o calor de Sua chama em seu coração? Conseguiu sentir esse calor que traz outro ar, um ar amoroso em nosso fala e em nossa respiração? Se ainda não o fez, o que está esperando?... Você não precisa se isolar externamente de nada. Faça isso, agora. Experimente isso, agora. Permita-se, agora. Permita-se e saiba por experiência direta que através deste contato consciente, muito do que você acreditava ser necessário, cai por terra. Permita-se, agora, a maravilhosa experiência da libertação da grande quantidade da pesada carga indevidamente carregada por anos. Permita-se este cuidar do ser, pelo qual, noSer, seu ser recebe um novo cuidado. Compreenda a essência do que digo por "Cuidar do Ser" e, nessa compreensão, vivencie de forma direta a realidade das palavras felicidade, liberdade e amor.

Cuide bem de sua real natureza, cuide bem do seu amor.
Um fraterabraço e um beijo em seu coração!

Nelson Jonas R. de Oliveira

O que você realmente quer?

Entrega
Existem situações que se apresentam de forma inesperada, trazendo convites para um revisitar naquele antigo e debilitado estado de ser, cuja base estava na busca de ter razão, com base sempre num limitado conhecimento, conhecimento este, emprestado da experiência dos outros e incorporada como sendo a própria experiência. Essas situações não precisam ser alimentadas, muito menos, descartadas sem a devida atenção plena. Quando damos a elas a devida atenção, estas se mostram como as lixas que tornam lisas as arestas do nosso ser. Quando estes nossos professores de paciência e tolerância se apresentam a nós com suas caixas de ferramentas búdicas, crísticas, o silêncio parece ser a melhor resposta. E, imunizado por este silêncio, a melhor pergunta, me parece ser:

O que você realmente quer? Ter razão, ou continuar neste estado de bem-aventurança?

Não é preciso ser um Buda, para saber qual é a resposta mais inteligente e amorosa.

Nelson Jonas R. de Oliveira

23 agosto 2011

Mediocridade tem cura pra quem procura

Mediocridade tem cura pra quem procura

Mediocridade tem cura pra quem procura, upload feito originalmente por NJRO.

Vacine-se!

Mediocridade tem cura pra quem procura

O que faço com o conteúdo deste "derrame de percepção" se o mesmo estoura feito pipoca em panela de pressão?... Deliciosas pipocas de conscientização!... A grande maioria das pessoas vem com o milho da mediocridade coletiva, para que o Ser, no óleo quente da observação, faça carameladas pipocas de conscientização.
Nesta observação, cuja base, cujo centro da atenção não se encontra no intelecto, mas sim, neste estado de presença do Ser, não há espaço para apontamentos pessoais, não há o minimo espaço para a critica maldosa que imputa culpa, vergonha e responsabilidade. Quando se está no trabalho de manutenção deste contato consciente com o Ser que nos faz ser, a observação é feita com paixão, paixão esta, que cria o estado de compaixão. Nesse estado de ser, a Consciência esclarece a própria consciência de que, ninguém tem culpa, por buscar, por comungar daquilo que é coletivamente aceito. Não fomos informados sobre isso de maneira assertiva. Do mesmo modo que ninguém pode ser responsabilizado ou criticado por se ver acometido por uma gripe, ninguém pode ser responsabilizado por se manter de forma inconsciente, prisioneiro da vigente mediocridade operante. Do mesmo modo, que antigamente dizia o dito popular:"Diga com quem andas e lhe direi quem és", hoje digo: mostre-me a qualidade de suas frases e das frases de seus contatos virtuais e lhe direi quem você pensa que é.
Num mundo em que a maior parte das pessoas somente se dedicam a leitura de curtas frases que nada dizem, que nada nos agregam de real valor, infinidade de frases "Facebooknianas", "Twitteranas", que não geram nenhum raciocínio, ao menos lógico — longe de esperar por algo inteligente —, frases que não apontam para nada que seja fundamental, torna-se claro, o porque da grande quantidade de livrecos com receitinhas, com rituais poderosos e mágicos de atração, com segredos e mais segredos de prosperidade sem o mínimo esforço, podem se manter nas prateleiras das atuais megalivrarias, cujo único compromisso está na consumação do lucro imediato e não no possibilitar de uma cultura fundamental para a manifestação de um estado de ser realmente livre e criativo. Grande parte do conteúdo postado nestas redes sociais, evidenciam o fato de que só a mediocridade é que gera ibope.
O mais interessante de tudo isso, é que você, quando se encontra no exercício da manutenção deste contato consciente com o Ser que nos faz ser, não precisa de modo algum, optar pela resistência de não participar destas redes sociais que são verdadeiras faculdades sobre a mediocridade humana. Quando se está no Ser, surge o derrame de percepção que mostra que até a mediocridade que escraviza o outro, — e na qual há muito pouco tempo você mesmo se via dela prisioneira — gera reflexão fundamental, reflexão esta que não produz ranso, que não produz mágoa, que não produz pessoalidade ressentida, mas sim, libertária compaixão. Quando se está em constante contato consciente com esta maravilhosa Presença, quando se está em contato constante com esta chama que não se apaga, com esta chama onde tudo que é falso queima, sem ao menos deixar qualquer traço de cinza, você se torna capaz de "andar sobre as águas turbulentas" da mediocridade humana, sem nelas sequer molhar seu calçado. Isto possibilita um modo de estar no mundo, sem ser do mundo. Isto possibilita comer o mundo sem sofrer qualquer tipo de dor causada por indigestão. O estado de contato consciente com este Ser que nos faz ser, é o soro imunizante contra a mediocridade coletiva. Nesse soro, as qualidades do amor se fazem presentes em nosso Ser. Através deste soro, até a ilusão, pode produzir crescimento.
Portanto, escute os avisos propagados pelo Ministério da Saúde no Ser:
"A diarreia mental causada pela exposição prolongada à mediocridade coletiva pode causar danos irreversíveis. Portanto, vacine-se logo, o quanto antes!"
Um Fraterabraço e um beijo em seu coração!

Nelson Jonas R. de Oliveira

Do irreal ao Real

Idealista Anônimo, upload feito originalmente por NJRO.
É impressionante como que as pessoas gostam de demonstrar uma irreal realidade, com base no colecionar de desgastadas frases e clichês. Isso pode ser muito bonitinho, quando aplicado em redes sociais virtuais. No entanto, na vida real, não é preciso muito tempo para constatar a irrealidade de seu limitado livresco equilibrado modo de ser: basta um final de semana de autêntica intimidade. Ali, todas as máscaras caem por terra e o vazio do real, o deserto de uma personalidade irreal, se apresenta e, quando este se apresenta, a única saída, para quem se encontra no mundo desta forma, é optar pelo isolamento crítico fofocólico. Esse é um pântano de areias movediças, no qual afundamos em solitário desespero. Enquanto, imaturamente, mantemos esta postura, privamos a nós mesmos da alegria do autêntico comungar nutritivo, comungar este que não precisa de caros finais de semana regados a cerveja, churrasco e várias sobremesas extremamente calóricas. Nossa própria originalidade, nossa própria autenticidade, fruto direto da manutenção de nosso contato consciente com o Ser que nos faz ser, é que traz o devido tempero qualitativo para estes encontros, onde em última análise, somente neles, encontra-se a realidade da palavra "encontro". O resto, quase sempre, é passatempo de mimadas crianças entediadas.

Nelson Jonas R. Oliveira

22 agosto 2011

Não resista à Luz

Luz e sombra, upload feito originalmente por NJRO.

Como na fotografia, para que o Belo se revele
seu olhar não pode estar contra a Luz. 
Mantenha-se a favor da Luz e deixe
que maravilhas se revelem aos seus olhos.

Nelson Jonas R. de Oliveira

Olho na vaca!

Olho na vaca!, upload feito originalmente por NJRO.
Certa vez, numa pequena cidade interiorana, apareceu um senhor de cabelos e barba branca, sandálias de couro desgastadas pela ação do tempo, apoiado em uma estaca de madeira, vestido apenas, com uma pequena tanga branca. Não trazia consigo nenhuma mala, cantil ou qualquer alimento. Sua pele, apesar da idade avançada, tinha um brilho bastante incomum. Com seu olhar penetrante, feito lamina afiada, anunciava as pessoas da cidade, que não muito longe dali, no topo de um monte, havia a mais bela vista, nunca antes conhecida por outros homens fora ele. Devido o modo de vida apressado de todos daquela cidade, mais o fato de sua aparência simplória, ninguém o levava a sério e, não raro, dele caçoavam. No entanto, parecia que ele era totalmente imune a tudo que lhe era dirigido. Não havia em seu olhar ou em suas palavras, nada que transmitisse qualquer tipo de necessidade. Havia propriedade no modo como anunciava a beleza do monte, assim como em seus passos. Ele dirigia a palavra a todos que se apresentavam em seu caminho, mas não havia naquelas palavras, nenhuma expectativa por aceitação; era um simples e amoroso testemunhar.
Numa pequena sacada, uma mulher de semblante bastante carregado, ao vê-lo vindo ao longe, riu-se de sua imagem, para ela, maltrapilha. Foi acompanhando com olhar, os passos seguros daquele velhinho e, quando já não mais podia avistá-lo, a insatisfação que até então sentia, tomou níveis quase que insuportáveis. Dentro dela, também começou a se instalar uma profunda ânsia para saber do que se tratava o anúncio feito por tal velhinho. Bastante inquieta e confusa, apagou seu cigarro, pegou sua bolsa de couro, contendo em seu interior uma enorme parafernália, dirigiu-se para seu carro e partiu a procura de tal velhinho. Andou por quase todas as ruas da cidade, perguntou nos estabelecimentos comerciais, onde todos afirmaram, com um sorriso jocoso, que ele havia por ali passado, mas, que nenhum deles sabiam de seu paradeiro, muito menos o tinham visto antes. Ninguém sabia lhe explicar para que direção, tal velhinho havia seguido. Ela, movida por tal ansiedade, decidiu-se por pegar a estrada solitariamente e, de modo bastante apressado, se dirigiu para um monte, onde, por uma pequena clareira, dava inicio a uma estreitíssima e íngreme estrada, cujo percurso dava-se em forma espiralada. Logo de inicio, se viu acometida de uma profunda vertigem, vertigem esta que era como que um convite para a desistência por tal busca. Em sua mente, um monólogo estressante, insistia por deixar aquele impulso para trás e para que retornasse para o conhecido conforto de seu lar. No entanto, algo dentro dela, sabia que, apesar de todo conforto, não encontraria nele, nada que pudesse aplacar o constante e conhecido tédio e insatisfação de seus dias. Como resultado de sua perseverança, a vertigem foi deixando lugar a uma observação da beleza do caminho por onde passava. A fauna e a flora do local, pareciam ter cores e vida como nunca antes testemunhadas. Essa constatação tocou forte em seu interior, fazendo com que uma ansiedade diferente daquela sempre experimentada, se instalasse dentro dela. Por causa de tal ansiedade, passou a acelerar seu carro, numa velocidade um tanto imprudente, considerando a forma espiralada da estrada.
Ao longe, pode notar que em sua direção, vinha um carro dando muitos sinais. Ela tratou de reduzir a velocidade e, quando o carro já estava quase que aparelhado com o seu, pode ver, o mesmo velhinho ao volante que, pela janela totalmente aberta, para ela gritou:
— Cuidado, vaca!
Ao ouvir suas palavras proferidas em sua direção, viu-se tomada de uma súbita raiva mortal. Tentou pelo retrovisor, anotar o número da placa de seu veículo, mas, a enorme poeira vermelhada levantada ao ar, não a permitiu. Na sua cabeça, todo tipo de reação se apresentava. Perguntava-se como podia tal senhor, apresentar tamanha dualidade em seu modo de ser. Como podia apresentar algo quando caminhando solitariamente e, logo a seguir, em seu carro, agredir a quem nem se quer conhecia. Sua raiva foi tão grande, que precisou parar por alguns minutos para se recompor. Enquanto se recompunha, mantinha seu olhar raivoso em direção contrária de seu destino. Passado o mal estar, devido às fortes vozes em sua mente, agora se via balançada quanto a seguir ou não sua viagem desconhecida. Em sua cabeça, toda forma de dúvida se manifestava:
— Quem me garante que aquele velho não passa de um louco?... Devo estar ficando louca! Acho melhor voltar para casa!... Mas não posso deixar barato!... Tenho que lhe dar uma lição! Ninguém fala comigo dessa forma! Quem ele pensa que é? Vou chegar até o topo do morro e aguardá-lo para lhe dar uma lição!... Ele vai ver com quem se meteu!... Mas, e se ele for um perigoso criminoso?... Não! É apenas um velhote frustrado precisando de uma lição!...
Enquanto dirigia de forma automática, mecânica, sua mente se mantinha numa verdadeira masturbação mental, onde todas as formas de sugestões, dúvidas e medos, por ela passavam de forma totalmente ilógica. Quando estava quase que se recompondo da experiência conflitante, pode avistar ao longe uma enorme poeira vermelha levantando-se na estrada. Conforme foi se aproximando, pode perceber um rápido sinal de luz vindo dos faróis de um carro mais antigo que o seu. Ela diminui a velocidade, e eis que um moço de pele morena, com o vidro baixado pela metade, em direção a ela, gritou:
— Vaca!...
Automaticamente, se viu novamente tomada pela mesma reação, só que desta vez de uma forma e intensidade como nunca antes sentida. Desta vez, havia conseguido anotar a placa e, mesmo com a mente profundamente tumultuada e com seu carro em movimento, manteve uma mão ao volante e com a outra, tentava pegar seu celular, para tentar falar com alguma autoridade. No entanto, a grande quantidade de tranqueiras que carregava na bolsa, não conseguia achar pelo aparelho celular. Neste momento, a estrada estava ficando cada vez mais espiralada; ela deu uma rápida olhada para frente e inclinou-se para poder ver o interior de sua bolsa... Nisso, no meio da estrada, uma enorme vaca malhada encontrava-se estendida abandando seu rabo... Ela bem que tentou desviar, mas, não obtendo sucesso, atropelou a vaca, perdendo o controle do automóvel, atravessando a pista, indo cair num enorme penhasco que nessa altura, ali se apresentava. Não ouve a menor chance para socorro, tanto da vaca, como da pobre mulher, que acabou falecendo, sem conhecer a bela vista anunciada pelo velhinho, cujo comportamento, para ela foi tirado como dualista...
Essa não é uma história qualquer; essa é a história do funcionamento da mente humana, a história de nossa busca por um sentido existencial. Todos nós, em maior ou menor grau, já nos vimos totalmente envolvidos num modo de vida, onde o único objetivo era a conquista de bens transitórios, capazes de nos proporcionar uma zona de conforto, uma respeitabilidade estagnante e a conseqüente ilusão de segurança física e material, ilusão essa que é a grande responsável pelo nosso modo separatista de nos relacionar com o mundo.
Todos nós sabemos o que é ser acometido por constantes sentimentos de tédio, rotina e insatisfação. Sabemos bem o que é ter que recorrer a vários tipos de entretenimentos, a vários tipos de anestésicos, de drogas socialmente aceitas — e por vezes não — para aplacar a enorme inquietude causada por tais sentimentos oriundos de uma vida acelerada, limitada, apertada, uma vida destituída de genuínos relacionamentos nutritivos, uma vida que se mostre realmente bela, com cores, sons e sabores vividos. Nossa alma, nosso espírito, nosso verdadeiro Ser, — ou o nome que você achar mais apropriado para isto —, nesta história é representada por aquela mulher entediada na varanda, que num certo dia, se vê diante de algo inusitado, se vê diante de um chamado de seu desconhecido mestre interior.
Todos nós sabemos o que é ser tocado pelo “absurdo”, que, paradoxalmente é em sua simplicidade “uma graça”. Todos nós sabemos o que é este chamado interior por um modo de vida dotado de uma direção que faça real sentido. Todos nós sabemos quanto a insegurança, as dúvidas e os medos provenientes da ousadia de optar em direção ao que é desconhecido. Todos nós sabemos a força imperiosa deste impulso em direção ao inusitado. Nossa mente, em nada se diferencia da mente da pobre mulher... Sabemos o que é ser vitimados por esses constantes, incessantes e violentos monólogos interiores que nos mantém atados, estacionados, destituídos de energia e vitalidade, estacionados em nossa enorme confusão mental. Temos uma mente profundamente reativa, impulsiva, uma mente viciada a tirar conclusões precipitadas, sempre baseadas em seus achismos, em seus limitados conhecimentos, em suas imagens extraídas das experiências passadas. Apesar de sabermos não sermos livres, por sabermos de nossa limitação, insistimos em defender que “sabemos alguma coisa”, insistimos em “fazer escolhas”, as mesmas escolhas de sempre que terminam nos mesmos resultados estressantes. Temos uma mente que não consegue escutar, a não ser a si mesma, a não ser o conteúdo de seus próprios monólogos, de seus próprios desejos limitantes, de suas próprias sabotadoras vozes de auto-proteção. Muitos de nós, nem sequer a isso conseguem escutar, vivendo num modo, onde a completa identificação com a mente, lhes proporciona um modo de vida profundamente mecânico, profundamente medíocre. Todos nós, quando acometidos pela vergonha e pela culpa causadas por nossas obtusas escolhas, podemos bem nos lembrar dos inúmeros “velhinhos” que passaram por nossa vida, tentando nos avisar dos obstáculos, das nossas pedras de tropeço, que mesmo diante de nossos olhos, não podíamos, ou melhor, insistíamos em não enxergar. Eles bem que tentaram nos avisar, muitas vezes de forma sofrida, diante de nossa teimosia, diante de nossa prepotência, diante da nossa insana atividade de optar pelo conhecido modo de ser, causador de tantos conflitos, de tantas confusões, de tanto isolamento, onde, quase sempre, os mais afetados, somos nós mesmos.
Temos uma mente tagarela, uma mente imatura, uma mente prepotente, soberba, profundamente limitada, viciada, que parece se abrir, somente quando acometida por profunda, dilacerante e demolidora dor, dor esta que coloca ao chão, todo tipo de escolha, todo tipo de condição, toda birra infantil. Somente essa dor é que faz com que deixemos de exigir por atenção e partirmos, pela primeira vez na vida, a dar atenção ao outro. Enquanto a dor é suportável, insistimos com nossa escolhas, com nossas condições, com nossas certezas, com nossos achismos, com nossa intelectualóide inteligência de segunda ou terceira mão, sempre extraído de um conteúdo livresco. Insistimos em carregar na bolsa de couro que é a nossa mente, uma enorme quantidade de quinquilharias que nada tem de essencial, e que acabam ocultando aquilo que realmente nos é essencial, aquilo que pode nos proporcionar um contato consciente com uma real autoridade que é toda Consciência Amorosa. Insistimos, mesmo debilitados, a dirigir o carro de nossa vida, sem firmeza na direção, sem nenhuma orientação. Não ouvimos os avisos daqueles que já se encontram com a janela de sua mente aberta por inteiro, muito menos daqueles que já estão com ela aberta, mesmo que pela metade. Em nossa prepotência, em nossa neurótica auto-suficiencia, com os vidros fechados de nossa mente, distorcemos seus avisos, recebemos suas palavras, suas orações, de forma totalmente equivocada, o que é sempre motivo de profundas confusões, de profundos isolamentos, de profundos danos pessoais e o pior de tudo, muitas vezes, danos pessoais a terceiros. Por não ouvir, por não se permitir a escuta atenta, por não abaixar a guarda, por não tirar o pé do acelerador, por não tirar a mão do volante do carro de nossa vida, muitos de nós morrem completamente desconhecidos do “Monte da Consciência”, do monte de sinais, do monte onde temos a “bela visão” de nosso ser real, a bela visão de nossa Real Natureza, a bela visão de uma mente amorosa, de uma mente dotada de uma simplicidade, de uma firmeza, de uma propriedade, nunca antes percebida, de uma mente que sente e de um coração que pensa. Temos uma mente, que em sua imaturidade, se afirma ser uma mente séria. Onde existe real seriedade, não há a mínima necessidade de auto-afirmação. Nesta história, essa pseudo-seriedade, está representada pela “vaca de tropeço”.
Espero que você tenha a ousadia de ouvir o grito deste que pela primeira vez na vida, tem seu vidro aberto, ainda que menos que a metade. Você pode ouvir este grito e entender que é um grito amoroso, não um grito de ofensa. Estou gritando para que você se aperceba da vaca, antes que sua vida vá para o brejo, antes que a sua vida termine no precipício do desconhecimento do Ser, no precipício que é uma representação do inevitável encontro da morte em estado de total desconhecimento de sua Real Natureza. É com amorosidade que lanço meu grito no ar:
- Cuidado, vaca!

Nelson Jonas R. de Oliveira

20 agosto 2011

Nas grades do não ser

Grades, upload feito originalmente por NJRO.

Como que a palavra "liberdade" pode fazer sentido para aquele que em todos os seus dias de infeliz felicidade, só conheceu escravidão? De que modo a palavra "liberdade" pode fazer algum sentido para seus ouvidos servis?

Nelson Jonas R. de Oliveira

19 agosto 2011

Constatações sobre o silêncio

Feitiço das India, upload feito originalmente por NJRO.

Quem cala,
Não consente;
Quem cala,
Sente!

Nelson Jonas R. de Oliveira

Trincheiras do Ego

Trincheiras do Ego, upload feito originalmente por NJRO.
clique na imagem para vê-la com detalhes


 Como disse minha esposa, Deca, "a mente é cega e surda, pena que não é muda!" Tratando da mente, o ato de se comunicar requer arte, principalmente nestes tempos onde, maior parte de nossos contatos se dão na esfera da virtualidade. Se, olhos nos olhos, já ocorrem todas as formas distorcidas de interpretação do que dizemos, imagina só nesse mundo de máquinas. Imagine só, nas redes sociais repleta de "seres iluminados de plantão". O que sinto é que, quase sempre, quanto mais cultura espiritual, mais atestado para a falta de visão, mais atestado para a dificuldade de compreensão de coisas extremamente simples. De fato, quando as pessoas se agarram a palavras, a símbolos, de modo algum podem alcançar o simbolizado para onde os mesmos apontam. A visão do intelecto precisa das vírgulas, dos pontos e das reticências e tudo tem que estar devidamente colocado, senão, ele fica ali empacado, numa verborréia que faz doer os olhos e ouvidos. Por mais que repitam, por mais que escrevam, não ouvem e não leem o que já escreveram muitas vezes: a palavra não é a coisa!... Estes "iluminados de plantão", ao invés de sentirem, ao invés de perceberam para o sentido, para a direção que as palavras apontam, preferem se agarrar a elas e nesse imaturo agarrar, que é fruto do intelecto separatista, dispensam energia e tempo em polêmicas defesas de bandeiras farrapilhas.
Como diz Rabindranath Tagore: "Por que não fazemos, em cada encontro, um novo passo em direção ao outro?" Em vista disso, me pergunto: Por que não fazemos isso em cada "post", em cada "publicação", em cada comentário, em cada texto? Por que, ao contrário disso, insistimos buscar por polêmicas filosóficas dotadas de um falso ar de compreensão espiritual? O que ganhos com isso? Disputar razão pode nos outorgar a possibilidade da descoberta de nossa real natureza?... Esses debates mesquinhos podem nos levar a experiência do Ser que nos faz Ser?... O que se ganha com isso? Demonstrar conhecimento livresco, polemizar, pode nos mostrar o conhecimento direto da Divina Presença?... De que modo, por meio desses comportamentos que demonstram imaturidade, podemos ajudar algum irmãozinho que seja, a se tornar humano no mais profundo sentido desta palavra?... De que modo isso pode ajudar alguém a respirar de forma mais suave neste mundo de constantes controvérsias?
Durante todos os anos em que me fiei nesse comportamento, não consegui nada a não ser solidão e inimizades. Se não posso amorosamente esclarecer, para que, ao escrever, a mim a ao outro, embrutecer? Isso não me parece ser uma qualidade de quem realmente viva esse estado de constante contato consciente com o Ser que nos fazer. De fato, uma pessoa que se permite tal comportamento, não tem como fazer a minima ideia do que possa representar o sentido das palavras "Cuidar do Ser". Se não posso facilitar de forma amorosa, o esclarecimento, melhor deixar o outro no seu ser e tempo. A falta de respeito ao tempo e compreensão do outro, também não me parece ser uma das qualidades de quem esteja vivendo nesse estado de contato consciente com a natureza real de seu ser. Isto é tão somente, atividade do ego, do intelecto que se nutre da satisfação mórbida da disputa de palavras. É sempre assim: o que o ego, o que o intelecto não alcança, denigre, debocha — isso quando não hostiliza.  
O Finado Raulzito, um dia disse: Falta cultura para cuspir na estrutura. Talvez, se tivesse tido um pouco mais de tempo, teria dito: Quanto mais cultura, mais a cabeça é dura. É impressionante o fato corrente, quanto mais cultura espiritual, mais atestado para não cair na real. Não é preciso cuspir na estrutura, não é preciso cuspir em nada! Não há nisso o menor sinal de inteligência amorosa; isso é rebeldia estagnante, é uma postura de esquerda festiva! É preciso entender o sentido das antigas palavras: "dar a outra face"...
Somos muito rápidos em querer nos manifestar aos outros, quase sempre com frases emprestadas de terceiros, não com frases da experiência pessoal direta, mas da ideia formada sobre a experiência de terceiros, das quais nos apropriamos como se fossem nossas. Isso é uma verdadeira "pedra de tropeço" que nos impede a visão direta que nos leva a um estado de presença que é todo abarcante, todo amor. Quando fazemos uso do conteúdo de terceiro, como sendo nosso, perdemos uma grande oportunidade de ficar em silêncio, e quem sabe, por meio desse silêncio, torná-las realidade em nosso ser. Qualquer palavra, qualquer texto, que não seja genuíno, que não seja original, que não seja uma vivência direta, não tem como instalar uma revolução, uma mutação, uma transformação na mente condicionada do outro, visto que sua essência é a imitação, que é prima direta da inveja, e disso, o outro já se encontra indevidamente estocado, abastecido. O que o outro precisa é de amorosas palavras de fogo. Não precisa de gélidas palavras egóicas. Como ninguém ganha com esse tipo de ação, no meu sentir, só por agora, a melhor postura é o silêncio. Qualquer texto, qualquer comentário, qualquer palavra que seja para o engrandecimento do ego e não para a manifestação de uma consciência amorosa, tem seu espaço garantido: o cesto de lixo, a lixeira eletrônica. Antes de querer entrar em contato com o outro, antes de invadir o espaço alheio, antes de tudo, sinto que é melhor dedicar o devido tempo para fazer um "scandisk" e um  "defrag" mental, para nos certificarmos de possíveis "bad block" que possam impedir o fluxo curativo do amor. Sinto que para este texto, vale a pena apertar a tecla "enter", a tecla "publicar postagem". É no calor da chama que arde no meu peito que espero que o mesmo entre na consciência de ouvidos e olhos amorosos — mesmo que em ouvidos e olhos em estado de dormência, ou num estado de ser, onde o verdadeiro amor ainda se encontre em estado embrionário.
Mais do que nunca, é tempo de dedicar a outra face, é tempo de outra postura, uma postura de ternura. É pela doçura da ternura que se desfaz a dura estrutura. Isso precisa ser muito mais do que uma bela ideia — para quem sabe ser usada mais adiante em outra disputa por razão. Isso precisa ser uma vivência direta, profunda, uma vivência que permeie cada uma de nossas células, que altere nosso código genético. E essa vivência, de modo algum pode ocorrer através de disputas, através das maquinações de um intelecto, por  mais culto que este seja. Esta postura que precisa ocorrer é das esferas do Ser, do Ser que é puro e que ama a simplicidade da criança.
Eu digo: O que falta, é doçura para não reagir pela antiga estrutura!
Um fraterabraço e um beijo em seu coração!

Nelson Jonas R. de Oliveira


18 agosto 2011

Abrindo mão do iluminometro

Abrindo mão do iluminometro, upload feito originalmente por NJRO.

Quem quiser conhecer sua real natureza 
precisa ter a fina coragem de abrir mão 
do uso de seu velho "iluminometro"
com que mede aos demais,
esquecendo-se de ver
a si mesmo.

Nelson Jonas R. de Oliveira

Cômicas Constatações


Não há nada mais cômico do que um intelecto repleto de "conteúdos espirituais filosóficos" fazendo limitadas medições, tecendo a partir delas, seus "espirituais achismos críticos" referentes ao total desconhecimento daquilo que o outro, no Ser, vivencia. O lance aqui é não criar qualquer tipo de resistência, o lance é escolher pelo silêncio do Ser. Deixemos as atitudes infantis para as crianças e toda acidez crítica, no colo de quem tenta, por meio dela, criar em nós, resistência e identificação estagnante. Em outras palavras, deixe para o intelecto o que é o do intelecto e entregue ao coração aquilo que é do coração. Cuidar do Ser, para quem entende o espírito desta expressão, é a melhor solução.   

Nelson Jonas R. de Oliveira

17 agosto 2011

O ser quântico na física nossa de cada dia

O pombo II


Somos como pássaros, interiormente cheios de vida, mas dela totalmente inconscientes, impossibilitados de torná-la consciente em suas infinitas possibilidades, por causa da fina casca formada por nossos condicionamentos, os quais nos mantém atados, atarefados, num estado de constante agitação e ansiedade. Do mesmo modo que o pássaro, enquanto não chegamos ao ponto de saturação quanto a limitação de nosso pequeno espaço de ação, enquanto não sentimos acima de tudo, a divina ânsia, o divino chamado para a liberdade, não tomamos consciência da resistência da casca dos condicionamentos que limitam nosso movimento. Quando ocorre essa bendita saturação,  — que inicialmente pode se mostrar profundamente dolorosa —, passamos a perceber como nunca antes o quanto estamos envolvidos por essa casca. Num primeiro instante, não sabemos nem por onde começar a investigação por uma possibilidade de saída capaz de proporcionar a liberdade de nós mesmos. Quando se dá essa saturação, pela ação da observação da casca, pelo olhá-la face a face, sem querer, nos é revelado um ponto onde toda resistência protetora, dá lugar a uma pequena rachadura, uma pequena fresta, por onde, pela primeira vez, nosso pequeno e limitado mundo se vê invadido por esta quântica e calorosa luz solar, que é a a luz do Ser que nos faz ser. A beleza dessa luz, a delicia desse suave calor, a doçura da suavidade dos sons que se fazem presentes através desse primeiro contato, é o que faz com que o pássaro se dê ao necessário trabalho para romper definitivamente com as casas que um dia lhe serviram de proteção, mas que agora, se mostram o motivo de sua limitação de estar num mundo de verdadeira relação. Com alegria, o pássaro deixa a antiga proteção, a antiga e limitante zona de conforto, para sair em direção ao Aberto, ao grande Aberto que é a Vida do Ser. É aqui que ocorre   a ação do despertar de uma vida de liberdade, um estado de ser, consciente do Ser que nos faz ser, consciência essa que é a essência da verdadeira liberdade do espírito humano. Aqui, a segurança não está mais nos antigos valores, mas na constante manutenção, momento a momento, deste caloroso contato com o Ser que nos faz ser.
Todo homem que tem sua face beijada pelo calor do Sopro que lhe habita, pelo calor do Sopro que o permite ser, para este homem, nada mais se sobrepõem em importância, nenhuma necessidade tem mais importância, do que estar em contante contato consciente com esta Presença Real, esta Presença Real, que agora sente como sua Real Natureza. Não perder o contato com este Sopro, não perder o contato com este benfazejo calor, com esta chama que arde suavemente, amorosamente no centro de seu peito, chama esta que agora se faz espelhada em toda forma física que se apresenta diante dos olhos deste bem-aventurado homem, é a única coisa que sente realmente ser necessária. A partir daqui, tudo que é feito, é feito mediante este estado de presença, este estado de presença, que a tudo qualifica, que a tudo traz uma nova energia cuja essência é amorosa integração. A isto deu o nome de "o Ser Quântico na física nossa de cada dia".
Enquanto nosso modo de vida anterior se fazia apertado, limitado, emocionalmente isolado e solitário, totalmente destituído de relacionamentos nutritivos, dotados de real intimidade e não com aquela trivialidade e superficialidade costumeira, pelo rompimento das limitantes cascas de seus condicionamentos intelectuais, seu modo de estar na vida é agora batizado por uma Quântica de infinitas possibilidades: a Quântica do Ser. Aqui, tudo passa a ser uma grande aventura de leveza, uma grande aventura de auto-descobertas que se apresentam, se revelam, sem o mínimo esforço ou resistência por parte desse "novo homem pássaro", deste homem pássaro que não busca as alturas pelas asas de cera do intelecto, mas sim, pelas seguras asas quânticas do Ser. Somente com estas asas, é que podemos nos aventurar em vôos nunca antes ousados, por esse imenso céu azul de amor, no qual sempre estivemos gravitando de forma acelerada, inconsciente e emocionalmente distantes, tanto de nós mesmos, quanto deste maravilhoso céu.
Em cada um de nós, mesmo nos melhores dias de nossa colorida prisão, de nosso apertado "ovo quântico", espaço apertado pelas cascas dos nossos condicionamentos, sempre sentimos no mais fundo de nosso ser, os alertas de uma pequenina e suave voz, sempre nos convidando ao questionamento de nossas ações, de nossas escolhas infundadas, um questionamento quanto a possível existência de um modo de vida mais espaçoso e dotado de real bem-estar. Esse sussurro quântico, esse chamado de infinitas possibilidades, sempre esteve aqui, mas, nossa casca de compromissos umbigóides, sempre nos impediu de entrar em contato, de forma consciente, com suas "Quânticas Palavras de Fogo". Digo "Quânticas Palavras de Fogo"  porque, quando rompem as cascas de nosso limitado mundo auto-centrado, o calor de suas chamas, sua forte luz, nos cega para os antigos olhares que sempre apontavam para resultados de escuridão. Essas "Palavras de fogo" queimam tudo que não é essencial, queimam tudo que não é real, que não é verdadeiro; queimam tudo que é produto das escolhas e maquinações do intelecto e que não é resultado direto de uma expressão amorosa do Ser que nos faz ser, queimam tudo que não é produto de nossa Real Natureza. Tudo que é fruto de nossa personalidade, de nosso limitado eu, independente dos resquícios de nossa obstinada resistência protetora, acabam incendiadas sem o menor sinal de cinzas. Tememos essas "Palavras de Fogo" de nosso Ser Quântico porque sabemos que nosso fraudulento modo de estar em nosso limitado mundo, após sua escuta, não tem mais como se manter vivo. A Quântica do Ser, através dessas internas "palavras de fogo" que queimam, — não em nossa mente, mas em nosso coração —, potencializam a física de nosso mundo externo, nas bases sólidas e seguras da simplicidade amorosa. Quando isto ocorre, toda complexidade do intelecto, derrete sem deixar cinzas, derrete no ardor desta chama sem fumaça. Não sobra nada, não fica nada para guardar; somem todas as perguntas, desaparece a ânsia pela busca. Em seu lugar, fica apenas a necessidade salutar de momentos de silêncio, de momentos de sagrado ócio onde essas calorosas e "Quânticas Palavras de Fogo", nos revelam uma poderosa direção que quântifica e qualifica nosso mundo de relação física.
Meu amigo, permita-me lhe perguntar agora:
O que foi dito até aqui, mesmo com a limitação das palavras usadas por este orador, não aguçam sua "Quântica curiosidade?...
Conhecer um mundo livre de limitações intelectuais, poder voar neste imenso céu azul de infinitas possibilidades, sem o mínimo esforço, sempre seguro nas asas do Ser que lhe faz ser, — into não lhe parece um irresistível convite?...
Não?... Não mesmo?
Tudo bem! Se assim for, se isto não for tão somente mais uma de suas intelectuais birras infantis, sinta-se a vontade para continuar nesse seu tristes e estressado percurso... Pode continuar se desnutrindo na alimentação desse limitado mundinho auto-centrado, nesse seu mundinho sem genuínas amizades, de contatos interesseiros, contatos estes , sempre destituídos de alma, destituídos da "Quântica do Amor", da "Quântica do Ser". Pode continuar preso nas limitantes e frias paredes de suas instituições, de suas irmandades espirituais, religiosas, místicas, filosóficas, esotéricas, que são meras organizações criadas pelo intelecto, que apesar de afirmarem buscar pela verdadeira liberdade do espírito humano, nos direcionam ao velado ajustamento servil. Pode continuar em seu mundinho estressado, produtor de vergonha e de mazelas ocultas. Pode continuar em seu mundinho destituído de amor real, nesse mundinho, onde o amor é apenas mais uma das desgastadas palavras sem sentido, palavras que nos remetem a imagens e não a autênticos e libertantes sentimentos. Pode continuar com essa ideia de amor, que na realidade, não passa de apego e necessidade de controle. Sinta-se a vontade!... Não é preciso se preocupar em investigar por si mesmo, continue aceitando tudo conforme tradicionalmente estabelecido. Não há problema em se conformar a ser mais um, a ser mais uma cópia, a ser mais uma pessoa de 2ª mão. Pode continuar se mantendo distante de sua originalidade e autenticidade perdida em sua infância. Pode abrir mão deste maravilhoso estado de unidade interna entre mente e coração. Não precisa buscar pela compreensão do que significa viver interiormente nas qualidades amorosas da "Quântica do Ser". Pode continuar achando tudo isto "muito alto", uma verdadeira "viagem". Você pode "viajar" nessa ideia que é uma ideia fruto de um intelecto assustado, de um intelecto infantil, amedrontado por estar diante de um rito de passagem em direção a maturidade do Ser. Tudo bem!... Já estivemos aí! Sabemos bem o quanto que isto se mostra apavorante. Sabemos bem o estressante teor dessa ilusão!
No entanto, se possível, procure ter em mente: todos nós, juntamente com este Ser que nos faz ser, em estado de profunda comunhão e de "paciente ânsia amorosa", de braços, mente e coração abertos, esperamos por você, esperamos pelo seu divino e precioso tempo, onde o tempo, não mais se faz precioso. Até lá, paciência é a nossa palavra de fogo quântico.
Um beijo fraterno em seu coração!

Nelson Jonas R. de Oliveira

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!